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A paixão e outras formas de loucura

Foto: Edson Kumasaka
Foto: Edson Kumasaka

Por Guilherme Sousa*

Dopamina. Substância que, de acordo com neurocientistas, cresce gradativamente conforme nos apaixonamos. No entanto, um estudo da Imperial College London, no Reino Unido, aponta que o excesso desse mediador químico é um dos principais motivos para distúrbios mentais como a esquizofrenia. Seria possível então ficar louco de amor? Essa é uma das perguntas que fiz enquanto assistia ao espetáculo Diana, que tem dramaturgia e atuação de Celso Frateschi.

Em comemoração aos 20 anos do Ágora Teatro, espaço fundado no Bixiga, o espetáculo encenado pela primeira vez em 1999 ganhou uma nova montagem dentro do projeto “Teatro Mínimo”, que acontece mensalmente no Auditório do Sesc Ipiranga. Escrito a partir de um exercício baseado em "Diário de Um Louco", do russo Nicolai Gogol (1809-1952), Frateschi volta aos palcos com sua primeira dramaturgia que, entre temas, narra a história de um professor que se apaixona por uma obra localizada no Largo do Arouche.

Enamorado pela escultura “Depois do Banho”, do italiano Victor Brecheret, o professor de ensino médio conta como, aos poucos, desiste de conversar com as pessoas e decide ouvir apenas o que os objetos lhe dizem. E de certo, não há como culpá-lo. O próprio personagem de Frateschi, dotado de diversas perversões, demonstra como as relações humanas são complexas e desgastantes.

A esposa, que começa uma vida intelectual e boêmia junto aos amigos, deixa de ser o ideal para o docente conservador, que prefere ficar em casa e não gosta tanto de discussões políticas. Assim, a dramaturgia nos empurra à sensação desconfortável acerca da paixão, na qual é muito mais fácil (e belo) amar uma estátua de bronze, perfeitamente imutável, do que uma pessoa de carne e osso.

Frateschi não apenas convence, comove com uma voz rouca e trêmula que domina o espaço. A plateia se deixa confundir pelos relatos do protagonista, ora ri, ora observa entristecida a figura do homem que se perde em insanidade. Unidos pela sensação do desconhecido, público e personagem caminham juntos tentando solucionar o que de fato aconteceu com o professor de ensino médio. Provoca, nos mais atentos, discussões acerca da liberdade e da violência humana.

“Diana” entrega uma tragédia sutil que nos força a repensar nossas concepções acerca do idealismo e prova que há muito mais do que dopamina entre a paixão e a loucura.

*Guilherme Sousa é estudante do terceiro ano de jornalismo e estagiário de comunicação do Sesc Ipiranga. Amante de teatro e grande observador do cotidiano, pretende seguir carreira em assessoria de imprensa e jornalismo literário.