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Aos Leitores

APRESENTAÇÃO

Modos de falar, de fazer, de pensar, de sentir, de agir, de produzir, de comer, de amar, de criar, de interagir são expressões daquilo que nos faz humanos: a cultura. Como um aspecto vital dessa nossa condição, a cultura, em toda sua diversidade, é considerada um direito tão fundamental quanto o direito à liberdade, à saúde e ao trabalho. Consta, portanto, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, elaborada em 1948, sob o impacto da violência da Segunda Guerra Mundial.

Mais do que um momento de celebração, a ocasião do aniversário de 70 anos da Declaração foi propícia para refletir sobre os desafios para garantia efetiva desses direitos, alertar acerca do avanço de modelos políticos e econômicos que ameaçam seus princípios, assim como reforçar as denúncias quanto aos ataques a ativistas (o Brasil ocupa a triste posição de um dos cinco países mais letais para defensores dos direitos humanos).

Vivemos um momento em que uma parcela da sociedade nega a pertinência dos direitos humanos, ignorando que os mesmos não corroboram tal ou qual concepção política, mas visam proteger toda e qualquer pessoa em sua integralidade.

O dossiê da 8ª edição da Revista do Centro de Pesquisa e Formação oferece um olhar para os Direitos Humanos a partir da Gestão Cultural, ampliando as discussões desenvolvidas no Curso de Gestão Cultural na Perspectiva dos Direitos Humanos, realizado entre agosto e dezembro de 2018 no Centro de Pesquisa e Formação. Reunindo professores-pesquisadores, gestores e ativistas de movimentos sociais e culturais, o curso buscou expandir o arcabouço teórico e prático no âmbito dos direitos humanos para que profissionais do campo da cultura possam atuar respeitando e incorporando as múltiplas realidades sociais coexistentes no país.

Por meio de artigos como As narrativas hegemônicas como normativas excludentes: raça, gênero e sexualidade, de Ana Passos, Bruno Puccineli e Waldemir Rosa, e A História da_arte: desconstruções da narrativa oficial da arte, de Ananda Carvalho, Bruno Moreschi e Gabriel Pereira, os leitores serão conduzidos pelos caminhos que constroem discursos únicos a partir da perspectiva de culturas dominantes e relegam outras maneiras de se apresentar ao mundo a um lugar secundário, de menor prestígio, de pouco ou nenhum reconhecimento e, em alguns casos, até de criminalização. A injustiça cultural e simbólica, nos dizeres da filósofa Nancy Fraser, se apresenta de forma recorrente nas instituições culturais e de produção/veiculação de conhecimento, impactando diretamente os grupos sociais invisibilizados – inclusive na construção de políticas públicas destinadas a tais segmentos.6

Na sequência, os textos de Marilia Bonas, Museus e direitos humanos no Brasil: um breve ensaio, e de Paulo Endo, A memória como campo de luta e os direitos humanos como seu horizonte tardio e imediato, focam nas disputas pela memória e no papel das instituições museais na contestação de narrativas violentas num cenário de expansão das intolerâncias.

Fecham o dossiê os artigos Migração e educação: ampliando direitos, garantindo acessos e questionando fronteiras, de Francione Carvalho, e O fazer interseccional no trabalho de educação em sexualidade, de Elânia Lima, que relatam experiências de pesquisa e trabalho com público infanto-juvenil na valorização da diversidade cultural, demonstrando a relevância da proteção das distintas expressões da cultura de modo a assegurar a dignidade das pessoas.

A revista traz, ainda, no texto de Beatriz Polivanov, uma reflexão sobre identidades performadas em redes sociais; uma análise sobre o programa "Alimento para Todos", nas palavras de Carlos Alberto Dória e Joana Pellerano; uma discussão sobre relações de classe e de trabalho em obras cinematográficas brasileiras, proposta por Mariana Souto; e, de autoria de Diego Galeano, um texto de cunho histórico que aborda as redes transnacionais de moedeiros falsos nas primeiras décadas do século XX, a partir da análise do papel de agentes policiais e de jornalistas no tratamento desses casos.

Na seção Gestão Cultural, três textos dão visibilidade à produção de ex-alunos do Curso Sesc de Gestão Cultural.

O entrevistado desta edição é o Padre Júlio Lancellotti, importante voz dos direitos humanos na cidade de São Paulo, que há anos atua em defesa das pessoas em situação de rua. Suzane Jardim contribui com a resenha do livro Meu nome não é Pixote: o jovem transgressor no cinema brasileiro, lançado em 2018 pelas Edições Sesc.

A poesia do escritor carioca Geovani Martins e o trabalho do artista amazonense Denilson Baniwa completam a edição e nos reconectam com a arte como expressão dos direitos humanos e também aliada na luta em sua defesa.

Boa leitura!