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As Comunidades Imaginadas da 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil

Performance The Last Harvest, de Mohau Modisakeng (Foto: Divulgação)
Performance The Last Harvest, de Mohau Modisakeng (Foto: Divulgação)

Pela primeira vez, o prédio do Sesc 24 de Maio recebe a Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. Com abertura no dia 09 de outubro, a 21ª edição da mostra reúne 60 obras e duas coleções. São vídeos, pinturas, instalações e fotografias de 55 artistas de 28 países diferentes; além de seminários, bate-papos e intervenções pautadas no tema Comunidades Imaginadas.

Todos os trabalhos têm como ponto comum levantar questionamentos e reflexões sobre a maneira como o nacionalismo está presente na sociedade e de que forma ele se situa para o entendimento das disputas contemporâneas. Foram 2.280 inscrições de 105 regiões globais entre América Latina, África, Ásia, Oriente Médio e Oceania. A seleção foi realizada pela curadoria, formada por Gabriel Bogossian, Luisa Duarte e Miguel López, e pelos membros do júri, Alejandra Hernández Muñoz, Juliana Gontijo e Raphael Fonseca.

De autoria de artistas indígenas ou de povos originários do Brasil, Estados Unidos, Canadá, México, Peru e Nova Zelândia, as obras tencionam as questões presentes no fazer e na representação de suas culturas na arte ao abordar o universo queer/LGBTQ+, questões raciais e conflitos fronteiriços. Além dos 50 escolhidos por meio do edital, cinco artistas convidados somam aos projetos: Andrea Tonacci, Hrair Sarkissian, Teresa Margolles, Rosana Paulino e Thierry Oussou.
 


(Foto: Gui Mohallem)
 

O que são comunidades imaginadas?

Comunidades Imaginadas é o nome de um estudo publicado nos anos 1980 pelo historiador e cientista político Benedict Anderson (1936 - 2015). Nele, o autor apresenta questionamentos em relação aos tipos de organizações sociais e comunitárias que existem para além, às margens ou nas brechas dos Estados-nação.

Tecnicamente, os escritos partem do princípio de desconstruir as definições de conceitos como “nacionalismo” e “nacionalidade”, desenvolvidos primariamente pelos historiadores Hans Kohn (1891 – 1971) e Carleton Hayes (1882 – 1964). Para Anderson, ambos são produtos culturais que vão muito além de seu mero significado, passando a ganhar maior força histórica e se expandindo para os campos sociais, políticos e ideológicos.

Do ponto de vista da antropologia, o nacionalismo é, nas palavras do autor, a busca por uma sociedade que seja, ao mesmo tempo, soberana e limitada, “uma comunidade política imaginada”.  Na introdução do estudo, ele diz que: “[Essa comunidade] é imaginada porque mesmo os membros das mais minúsculas nações jamais conhecerão, encontrarão ou sequer ouvirão falar da maioria de seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre elas”.

Ao explorar o argumento apresentado pelo historiador, as obras da 21ª Bienal se pautam na reflexão e imersão em comunidades religiosas ou místicas, grupos refugiados de seus territórios originais, comunidades clandestinas, fictícias, utópicas ou aquelas constituídas nos universos subterrâneos de vivências corporais e sexuais.
 


(Foto: Sueli Maxakali)
 

Novo nome e novo endereço

A 21ª edição também marca a primeira vez em que a Videobrasil se apresenta como Bienal. Antes, foram 35 anos reconhecida como Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. “O termo reflete a percepção de que nossa prática investigativa nos aproxima de bienais internacionais que, como o Videobrasil, trabalham para desenhar um panorama mais diverso da produção global e constituir um circuito paralelo àquele centrado no eixo Europa-Estados Unidos”, explica Solange Farkas, que assina a direção artística.

A Bienal tem quase toda sua trajetória correlacionada ao Sesc Pompeia. Foi lá, entre os tijolos da fábrica de Lina Bo Bardi, que a maior parte das edições tomaram lugar. A decisão de trazer a Bienal para a Rua 24 de Maio, além da proposta de ocupar a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha, foi muito pautada pela localização e pela diversidade de público.

“Pela primeira vez, a Bienal ocupa o Sesc 24 de Maio, que, além de possuir uma arquitetura emblemática, está localizado no centro da cidade de São Paulo e representa, assim, a pluralidade da comunidade do seu entorno, incluindo um contingente grande de refugiados”, diz Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. Assim, surge uma oportunidade de apostar na consonância entre a diversidade e o pluralismo do espaço. Uma chance de chegar a muito mais comunidades imaginadas em pleno Centro paulistano.

A Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil se distribui entre o térreo, terceiro, quinto e sexto andares até o dia 2 de fevereiro de 2020.