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Culturas entrelaçadas

Detalhes de bordado sashiko sobre jeans, linha de algodão (catálogo da exposição EntreMeadas)
Detalhes de bordado sashiko sobre jeans, linha de algodão (catálogo da exposição EntreMeadas)

O entrelaçamento de técnicas e de culturas marca o Coletivo Ybyatã, um dos 20 participantes da exposição EntreMeadas, em cartaz no Sesc Vila Mariana até fevereiro de 2020. Entre os trabalhos artesanais realizados pelo Ybyatã se destacam a estamparia manual, com carimbos que reproduzem frutas e vegetais, a encadernação e, recentemente, o bordado Sashiko, uma técnica japonesa apresentada por Noriko Hiramatsu, voluntária que frequenta uma vez por semana o coletivo, instalado no Ponto de Economia Solidária e Cultura do Butantã, equipamento da Secretaria Municipal da Saúde com a missão de promover o direito ao trabalho, em especial para usuários da rede de atenção psicossocial.

Cheguei aqui por acaso, meu filho morava perto, o ônibus passava na frente e um dia eu resolvi entrar. Aí vi aquela pilha de tecidos jeans e começamos a fazer esse trabalho”, conta Noriko, que conheceu a técnica do Sashiko no Japão, país onde nasceu, em 1948, e onde viveu de 2003 a 2016. Nas palavras da curadora da mostra, Adélia Borges, “trata-se de um bordado bem simples, quase um alinhavo, que surgiu na cultura japonesa como uma forma de remendar as roupas para prolongar seu uso. Os pontos tracejados adotam padrões decorativos que se repetem, tais como círculos, quadrados, triângulos e zigue-zagues”.

“Eu não sou especialista em nada. Sinceramente, comecei por acaso, como passei 13 anos no Japão, tive a oportunidade de conhecer, mas lá eu trabalhava em uma fábrica de alimentação para pagar a faculdade dos filhos. Só depois que voltei ao Brasil, e me aposentei, comecei a bordar”, explica Noriko.

A terapeuta ocupacional Gisela Nigro, facilitadora do grupo, ressalta a delicadeza de Noriko ao compartilhar técnicas com os integrantes, por exemplo, quando trouxe um lanche de sushi e sugeriu que eles produzissem estampas para o furoshiki, técnica tradicional de embrulho japonês com tecido. “Assim como a Noriko, a expectativa é que os participantes tragam propostas que se relacionem com suas vidas, suas histórias. A gente prioriza um processo de criação coletivo e que gere autonomia de vida para as pessoas, não só renda.”

Coletivo Ybyatã na abertura da exposição EntreMeadas (foto: Carol Mendonça)

O Coletivo Ybyatã surgiu há três anos, a partir da união de dois grupos de Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Foram realizadas formações em economia solidária e artesanato e, diariamente, sete pessoas se reúnem, em um funcionamento próprio do trabalho. A renda dos produtos ainda não é significativa para os participantes, mas existem muitos ganhos em termos de autonomia, de acordo com Gisela.

Fabio Lino de Medeiros, único homem que integra a iniciativa, aprendeu a bordar no coletivo. “O bordado foi uma descoberta, eu não sabia que era capaz de fazer e fiquei muito contente”, relata, antes de dizer que se sente abraçado pelo grupo. Vanessa Maria dos Santos, outra participante, também diz ter ficado emocionada ao ver seu trabalho reconhecido como uma das obras da exposição EntreMeadas.