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Você já foi à Bahia?

“Ai Bahia, Bahia que não me sai do pensamento”. A frase é do mineiro Ary Barroso, da canção Na Baixa do Sapateiro, de 1938. Cantada por baianos e não-baianos, a Bahia ocupa um lugar idílico na música brasileira. Terras do sincretismo religioso e da realização de um ideal de vida plena sob o sol, os coqueiros e as praias.

No início de carreira, Dorival Caymmi pintou com fortes tintas coloridas essa imagem idealizada. Baiano de Salvador, o compositor foi inserido em um contexto de integração nacional proposto pela Era Vargas, cujo veículo principal era o rádio. O que é que a baiana tem? ficou famosa na voz de Carmem Miranda, chegou ao estrangeiro e forjou por muito tempo a imagem de Bahia que se tinha Brasil afora, e em grande medida a imagem de Brasil que se tinha mundo afora. Foi um dos marcos do protagonismo da música baiana no cancioneiro brasileiro.

Na sua produção tardia, Caymmi nos deu outras visões de sua terra natal, uma mais melancólica - de pescadores marginalizados e abandonados à própria sorte, e outra dos terreiros de candomblé, cuja imagética evocava os mistérios de um rito religioso em parte desconhecido do restante do país.

Segundo dados do IBGE, a Bahia é o estado brasileiro em que mais pessoas se autodeclararam pretas (22%) no Brasil, somando os que se declaram pardos esse número sobe para 80%. A influência das matrizes negras na produção cultural é inegável. Nas regiões de presença mais forte dessas tradições como Salvador, recôncavo e litoral, a música representa um fator de difusão fortíssimo.

Para celebrar essa herança das diásporas negras e seu reflexo direto na música baiana, a playlist Afroraízes apresenta uma seleção de faixas em que passado e presente se encontram, misturam e alimentam. São mais de 60 músicas, que congregam desde a figura suprema e onipresente de Dorival Caymmi até a jovem Majur, passando pelos coletivos do carnaval, pelo novíssimo hip-hop das quebradas soteropolitanas, pelas rodas de capoeira do recôncavo e da cidade baixa, pelos acentos sertanejos de Josyara e Kalu, pela sofisticação de arranjos de Letieres Leite e pela sonoridade aglutinadora e autofágica do Baiana System.

Claro que não poderia faltar o axé, o samba e o rock. Está tudo aí junto, nos mostrando a potência da música baiana e sua multiplicidade.

Você já foi à Bahia? Então vá. Aumente o som e, boa viagem.

Salve Mestre Moa do Katendê!

 

Afroraízes é uma série de playlists dedicadas à música negra. Estabelecida a partir de recortes temáticos e regionais, a seleção busca reconhecer a pluralidade dos ritmos de matriz africana e sua influência na produção musical ao redor do mundo. Esta nova edição, celebra o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, efeméride instituída em 2003, e oficializada pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. Embora seja uma luta contínua ao longo de todo o ano, esta data marca um importante ponto de inflexão dos debates acerca do racismo, discriminação racial, igualdade social e inclusão de negros na sociedade, por meio de ações, fóruns e atividades que visam afirmar a cultura afro-brasileira. Clique aqui e acompanhe a programação das unidades do Sesc São Paulo sobre o tema.