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A bailarina do tênis

Acervo pessoal / Família Maria Esther Bueno
Acervo pessoal / Família Maria Esther Bueno

A atleta brasileira Maria Esther Bueno chegou ao topo do esporte com seu saque vigoroso e elegância do estilo

Maria Esther Bueno é considerada a mais bem-sucedida tenista brasileira. A paulistana chegou ao topo do ranking do esporte mais de uma vez: foi  número 1 do mundo em quatro temporadas (1959, 1960, 1964 e 1966), com 19 títulos de Grand Slam (os principais torneios da modalidade). Na carreira de sucesso internacional, foi coroada pela primeira vez em 1959, aos 19 anos, quando conquistou o seu 1º título em Wimbledon. No ano seguinte, já figurava no alto dos grandes nomes do tênis, ao ganhar os quatro torneios do Grand Slam de duplas: no Australian Open, ao lado de Christine Truman, e, em Wimbledon, Roland Garros e US Open, em parceria com Darlene Hard. Sua trajetória nas quadras soma 589 títulos.

O percurso no esporte teve início na infância, nos anos 1940 – a tenista nasceu em 1939. Os caminhos das quadras foram desbravados, primeiro, por seu irmão mais velho e grande amigo, Pedro. Dois anos mais velho do que ela, Pedro jogava no Clube de Regatas Tietê. O gosto pelas partidas foi incentivado pelo pai, Pedro Augusto.

Na época, Maria Esther tinha apenas três anos, e este contato inicial resultou, aos 14, em seu primeiro título brasileiro. Na vida privada, era uma mulher alegre e cativante, apaixonada pelo esporte e consciente do seu antes e depois na modalidade. Em entrevista ao Jornal Folha de S.Paulo, em 2003, relembrou: “Consegui viajar o mundo, fazer sólidas amizades, entrar em contato com personagens célebres e, sobretudo, consegui meu lugar na história. Fiz o Brasil ser reconhecido e respeitado”.

 

O mundo é uma bola

Embalada pelo som da esfera aveludada quicando no chão, Maria Esther alçou voos internacionais. Londres, Estados Unidos, França, sem deixar de fazer escala no Brasil. Em 1963, os Jogos Pan-Americanos viram brilhar sua estrela: medalha de ouro na competição individual e medalha de prata na disputa de duplas. “Fazer isso que ela fez na época em que o jogo era muito difícil, ir para a Europa e ganhar torneios, sendo que tinha apenas uma raquete ou, quando muito, duas, é para se exaltar. Foram feitos notáveis, ainda mais como mulher, o que tornava tudo mais difícil”, diz seu sobrinho, Pedro Bueno.

Para além da imagem de heroína digna de obras de ficção, Maria Esther faz parte do rol da fama de mulheres que se esforçam para superar as dificuldades, transformando desventuras em boa-nova. Entre os episódios dessa narrativa, virou lenda a sua recuperação após a mordida acidental de um filhote de cachorro em sua mão direita, justamente dias antes da disputa dos Jogos Pan-Americanos. Foram necessárias suturas, fisioterapia e muita força de vontade para estar inteira na disputa, já que a atleta era destra e, sem a mão direita em perfeita sintonia, a raquete estaria sem rumo.

Ao participar dos torneios de Wimbledon nos anos 1960 (leia boxe Mão na taça), não faltava tapete vermelho para suas visitas. A competição acontece no All England Lawn Tennis and Croquet Club, onde, em vida, a tenista tinha um lugar para chamar de seu no Royal Box, o camarote real de Wimbledon. Sua popularidade era consolidada por lá, assim como no ATP Finals, torneio realizado na O2 Arena, em Londres.

 

Inspiração para atletas

Por quais ventos chegam até nós as conquistas das brasileiras nas arenas esportivas? Para Renata Mendonça, jornalista e cofundadora do blog Dibradoras, que cobre a participação feminina no esporte, há muitas histórias de mulheres que vencem o preconceito e o estereótipo de que o mundo das medalhas e pódios não é para elas. “Maria Esther Bueno é uma das maiores tenistas de todos os tempos e, aqui no Brasil, as pessoas sabem mais sobre Gustavo Kuerten do que sobre ela. Não que a história dele não seja importante ou impressionante, mas será que a dela também não deveria ser mais contada?”, questiona. “Infelizmente a desigualdade no esporte ainda é grande e por isso é preciso trabalhar urgentemente nela. Falar das conquistas dessas mulheres pode inspirar muitas meninas e levar o recado de que esse também pode ser o lugar delas.”

Maria Esther não deixou a raquete de lado durante toda a vida. Mesmo após a grave lesão sofrida no braço direito, em 1967, continuou a jogar por mais uma década, encerrando a carreira em 1977, aos 38 anos. A partir dos anos 1990, comentou na TV as partidas dos Grand Slams e Jogos Olímpicos.

Na vida familiar, a bailarina das quadras não teve filhos, e seu irmão Pedro era companhia de todas as horas. Tanto que a morte dele, em 2012, foi um dos raros momentos em que interrompeu suas idas ao Clube Sociedade Harmonia do Tênis, onde voltava a se encontrar com sua paixão, ao menos três vezes por semana. Maria Esther morreu devido a complicações de um câncer, em 2018, aos 78 anos.

 

Mão na taça

Conheça alguns dos feitos da campeã que chegou ao topo do ranking mundial

Medalha de campeã: Maria Esther competiu nos torneios do Grand Slam, como são chamadas as competições anuais da elite dessa modalidade: um total de quatro ao ano. Australian Open (Melbourne, 1965), Roland Garros (1964), Wimbledon (Inglaterra, 1959, 1960, 1964) e US Open (Estados Unidos, 1964). O embate final da US Open de 1964, entre Eshter e Carole Caldwell Graebner, colocou a brasileira no Guinness World Records, o livro dos recordes, por ter vencido numa partida que durou apenas 19 minutos. 

International Tennis Hall of Fame: Em 1978, a história dessa tenista brasileira passou a fazer parte do acervo deste museu localizado em Newport (Estados Unidos), que congrega e homenageia os nomes mais representativos do tênis.

É tetra: Não uma, nem duas, nem três, mas quatro vezes campeã do US Open (1959, 1963, 1964 e 1966), um dos torneios mais antigos e tradicionais da modalidade. A primeira competição data de 1881.

Está na rede: É fácil encontrar momentos da tenista disponíveis na internet. Entre eles, trechos de sua participação no torneio de Wimbledon e uma homenagem feita pelo Sesc Pompeia em junho de 2018, ano de sua morte. Assista no portal do Sesc São Paulo.

 

Na vanguarda

Exposição, bate-papo e vivências com pioneiras dos esportes

Depois de receber mulheres de destaque em diversas práticas esportivas nos meses de janeiro e fevereiro pelo Sesc Verão, neste mês, outras ações dão visibilidade ao trabalho de grandes atletas brasileiras. Até 1º de março, ainda é possível ver fotografias e outros objetos que contam a história de Maria Esther Bueno na exposição A Bailarina do Tênis, no Sesc Guarulhos. E na programação Corpo Feminino, serão realizados no Sesc Pompeia bate-papos e outras vivências com precursoras que desafiaram o preconceito em esportes que já foram dominados pelo gênero masculino. No dia 7/3, haverá uma homenagem à ex-saltadora Aída dos Santos (foto), enquanto no dia 14/3 o assunto Corporeidade será debatido com a mediação da jornalista Daiana Garbin, autora do livro Fazendo as Pazes com o Corpo (Sextante, 2017). Outro destaque é o bate-papo Mulheres Pioneiras, em 21/3, com Sandra Pires (medalhista de ouro no Vôlei de Praia nos Jogos Olímpicos Atlanta 1996), Edinanci Silva (judoca medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos Santo Domingo 2003 e Rio 2007, e duas medalhas de bronze no Campeonato Mundial em 1997 e 2003), entre outras profissionais da área esportiva. Confira a programação no Em Cartaz. 

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