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Gold: do barro e do ouro, do sonho e da ganância

Em um formigueiro, os insetos são organizados como uma sociedade, sendo que cada indivíduo tem uma função específica. Sob ou sobre a terra, as formigas são capazes de se alinhar em torno dos mesmos objetivos, de forma que tudo funcione bem.

A mina de ouro Serra Pelada, no sudeste do Pará, descoberta acidentalmente em 1979, tornou-se em meados dos anos 1980 uma cratera imensa de cerca de 200 metros de diâmetro e com a mesma profundidade, onde, de longe, se podia avistar milhares de pequenos pontos se movendo, tal qual um imenso formigueiro.

O marrom monocromático de pessoas sujas de barro, suor e, muitas vezes, mercúrio (utilizado no processo de identificação do ouro), parecia o centro caótico do universo; mas, na realidade, apesar de todas as condições precárias, existia uma ordem, uma hierarquia e cada um tinha uma função dentro ou fora da cratera.

GOLD - Mina de Ouro Serra Pelada / Sesc Birigui / foto Willian Lopes de Abreu

Transformada no maior garimpo a céu aberto do mundo, Serra Pelada recebeu, em seu auge, cerca de 80 mil homens de todas as regiões do país. Reconhecido internacionalmente por sua obra, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado passou 33 dias, em 1986, registrando o cotidiano difícil do enorme “formigueiro humano” ali presente. Testemunhou mergulhos densos na lama e no ouro. Registrou faces e corpos de quem mantinha um sonho escorregadio e uma esperança de um futuro grandioso.

Agora, mais de 40 anos depois, as fotografias feitas por Salgado – algumas até então inéditas - foram transformadas em exposição. O vazio, o cansaço, a dúvida, a expectativa... Diversas sensações são reveladas e provocadas pelo olhar do fotógrafo nas 54 obras que compõem a mostra “Gold – Mina de ouro Serra Pelada”. Depois de ter sido inaugurada no Sesc Av. Paulista, em São Paulo, e passado pelo Sesc Guarulhos, a exposição chega no dia 6 de março ao Sesc Birigui e segue até 14 de junho na unidade.

Gold” tem um peso de toda importante obra de arte: a partir do olhar artístico de um fotógrafo sobre um dos maiores processos de exploração de minério do Brasil por garimpo manual, propõe reflexões sociais, ambientais, econômicas, históricas, entre outras, e sensibiliza o expectador a pensar até mesmo sobre conflitos e desejos pessoais. Até onde uma pessoa pode chegar e o que ela é capaz de deixar para trás em busca de um sonho? Quais danos ao meio ambiente a ganância pode proporcionar? Quais seriam seus planos se ganhasse muito dinheiro?  

GOLD - Mina de Ouro Serra Pelada / Sesc Birigui / foto Alan Rafael

As fotografias são todas em preto e branco (uma das características da obra do fotógrafo), e foram ampliadas em tamanhos grandes para a mostra. A curadoria e o design são assinados por Lélia Wanick Salgado, responsável pela editoria e organização de todo o trabalho de Sebastião Salgado, co-fundadora da agência Amazonas Images e do Instituto Terra e esposa do fotógrafo.

Para Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP, Salgado captou uma humanidade em seu itinerário de sobrevivência e luxúria, e descortina um cenário de existências aferroadas pela brutalidade de instintos e ambições. “São espectros de um mundo tomado por civilizado, singularizado pela prática do trabalho, e que, constantemente, alterna seu vínculo com a Natureza e com uma agenda ecológica, ora se distanciando ferozmente, ora buscando estreitar seus laços em vista de recuperar um equilíbrio vital para a manutenção de um cenário que se anuncia desarmônico”, diz.

Ao fazer 'Gold – Mina de Ouro Serra Pelada’, o Sesc reitera seu compromisso com uma agenda cultural que revela relações entre habitantes e planeta, e que, aliadas a pulsões distintas compõem o temperamento humano e servem como semeadura para terrenos geopolíticos e expressivos. Assim, corrobora com o propósito de exercitar olhares éticos e críticos, sobre acontecimentos fundamentais de uma história recente e que se relaciona intimamente com ambos, presente e futuro, que avistamos diante de nós.

Visitas

A exposição está instalada na Sala de Múltiplo Uso 3 e na Área de Convivência do Sesc Birigui. As visitações podem ser feitas de terça a sexta-feira, das 13h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h.

A unidade também realiza agendamento de grupos, para visitas mediadas em que serão abordados desde aspectos técnicos da fotografia de Sebastião Salgado, até questões sócio-políticas. O espaço conta com uma área educativa onde atividades relacionadas aos temas tratados são propostas com o intuito de aprofundar a reflexão sobre o assunto. O agendamento pode ser feito pelo e-mail: agendamento@birigui.sescsp.org.br. Os horários também podem ser consultados por e-mail.

Programação integrada

A exposição contempla ainda uma programação integrada, com cursos, oficinas, e atividades para diversos públicos sobre o pensar e o fazer fotográfico. A programação completa pode ser visualizada no Portal Sesc.

Serviço

Exposição fotográfica “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada
De 5 de março a 14 de junho
Terça a sexta-feira, das 13h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h

Sesc Birigui (Área de Convivência e Sala Múltiplo Uso 3)
(Rua Manoel Domingues Ventura, 121, Vl. Xavier)