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EU VIVO AQUI em casa

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Foto que mostra 6 abelhas da especie Jataí construído uma colmeia em um tronco de árvore. legenda: Abelhas Jataí - Foto: Fotonativa

 

Tem uma sensação que parece não ter nome.

É algo como saudade, mas não pode ser, pois normalmente sentimos saudade daquilo – ou de quem – está distante ou perdemos, o que não faz sentido neste caso, pois tudo está no seu lugar e em seu tempo.

Essa coisa sem nome sentimos quando em um determinado momento vivenciamos algo que não queremos, como aquele trânsito diário ou qualquer situação na qual vivenciamos obrigatoriamente e que não nos faz muito sentido. Outras, ainda, graças ao feliz cansaço depois de uma noite muito bem vivida. É quando bate aquela vontade de casa, sabe?

Talvez isso, “vontade de casa”!

Tantas coisas e tantos momentos geram essa vontade.

Pense: como é legal dormir na casa de amigos ou familiares e aproveitar cada troca desse encontro! Tudo com calma, sem horário para voltar. E como é precioso e direito poder viajar, passar um tempo fora experenciando o mundo e cada referência que imaginou conhecer... gente!

Aaaahhhh! Sair de casa é muito bom!

E como faz falta, nos dias que vivemos...

Bem sabemos disso :(

Sabemos, também, que mesmo nesses momentos tão agradáveis e importantes é muito comum que, hora ou outra, essa vontade de casa nos bata à porta. Lembra quando seu travesseiro murcho fez falta naquela noite? Ou quando seu corpo te alertou sobre... As plantas!!! Não, péra... ah... tá, não estou em casa.

Sentindo falta de casa, né minha filha? Falta do que já temos.

Nos primórdios, nós, seres humanos, morávamos nas formações naturais existentes como as cavernas, por exemplo. Hoje nos valemos de estruturas artificiais, ainda que vindas de materiais naturais. O que não mudou muito, desde que o mundo é mundo, é o porquê de termos uma casa: antes de qualquer coisa, precisamos de um abrigo contra as intempéries naturais e possíveis ataques de predadores.

Além disso, uma casa nos permite descanso e segurança e é também onde cuidamos de nossa privacidade e de nossos vínculos mais íntimos. Nela desenvolvemos grande parte do que entendemos por “vida pessoal”, o que engloba todas as outras esferas para além do trabalho, ou seja, os relacionamentos com familiares, as amizades, os passatempos, as crenças e os estudos, entre outras atividades. Precisamos desse local para nos recolhermos. E aqui, além de proteção, também é digno e justo que encontremos acolhimento...

Bingo! “Vontade de casa” é aconchego!

Imagem do animal preguiçalegenda: Bicho-preguiça - Foto: Gustavo Xavier

 

E, olha... podemos pensar em casa para além dos formatos tradicionais, por assim escrever. Casa tem tamanhos variados, pode ser térrea ou de dois andares, com quantos cômodos tiver, estar muito distante ou colada a outra em baixo, em cima ou dos lados. Pode ser de barro, madeira, alvenaria, palafitas e também nada disso, nem teto ter... contanto que caiba nela um indivíduo ou uma família. Esta também assume diversas formações e, a partir delas, forma-se um lar.

É um lugar de estar; não de passar, como uma avenida ou mesmo um estabelecimento comercial. Ainda assim, é comum encontrarmos o termo “casa” denominando comércios e certas repartições públicas, talvez querendo aproveitar esse gostinho pessoal que tem essa palavra. De certo você já comprou algo em uma Casa de Material de Construção e pagou sua compra com o produto feito na Casa da Moeda. E por falar nela, na grana, podemos pensar que é possível sugerir um preço a se pagar por uma casa, mas corremos o risco de nunca sabermos o seu real valor.

Para o ambientalista Ailton Krenak, dada a relação que os povos originários possuem com o território onde não visam à sua apropriação, pois nutrem um profundo senso de pertencimento e respeito a ele, não podem conceber a ideia de comercializá-lo. Os indígenas entendem a natureza como um local sagrado, onde não apenas estamos e o exploramos, mas também fazemos parte e a única maneira possível de nos orientarmos em vida, com nossas inspirações, sonhos e todas as questões práticas para sobrevivência, se dá a partir da conservação da natureza, nossa casa maior.

Como também propõe a Reserva Natural Sesc Bertioga, um importante remanescente florestal com 51,92 hectares, inserida na zona urbana da cidade. Com predominância de floresta alta de restinga¹ em estágio avançado de regeneração, parte do bioma Mata Atlântica, a Reserva Natural Sesc Bertioga pode ser considerada uma grande casa que abriga mais de 600 espécies de animais e plantas.

 Foto do Lagarto Teiúlegenda: Lagarto Teiú - Foto: Gustavo Xavier

 

A simples queda de uma árvore, além de abrir uma clareira para a entrada de luz na mata, pode se transformar em um abrigo para diversos animais. Um grande condomínio no qual mamíferos de pequeno e médio porte como roedores, tamanduás, além de lagartos e serpentes, encontram nessas tocas esconderijos, podendo passar ali até longos períodos de hibernação.

Esses troncos caídos propiciam também a vida de fungos, algas e outros organismos que dependem de umidade e condições ideais para sobreviverem na floresta. Quando os troncos se decompõem, a sua madeira auxilia na proliferação de larvas de insetos, atraindo seus predadores como aranhas e lacraias.

A floresta abriga uma enorme quantidade de vida, em todos os seus extratos, no solo, entre as raízes, debaixo de troncos, em cima das árvores; cada cantinho é um lar. Nas copas das árvores, por exemplo, observamos muitas espécies de fauna que ali moram ou transitam. O bicho-preguiça, por exemplo, desce das árvores em poucas ocasiões. Insetos e aranhas podem nunca tocar o solo e diversas espécies de aves descansam e constroem seus ninhos entre os galhos, folhagens e espaços ocos nas árvores.

Por vezes, diante de um Guanandi, uma árvore que chega a medir 30 metros de altura, não damos conta de que ali residem inúmeras espécies, como epífitas - plantas que utilizam de suas raízes para se fixarem no seus troncos como bromélias, orquídeas, filodendros - além da fauna que ali se apropria, como anfíbios, insetos e aranhas.

Deste ponto de vista já não podemos mais limitar a palavra casa a um bem de uma família onde seus integrantes guardam seus negócios e tratam de assuntos domésticos. Ao invés disso, sendo ela um lugar destinado além da moradia também aos encontros, às reuniões de pessoas, cujos interesses, origens e culturas por vezes representa ou é expressa, podemos bem entender que o planeta Terra é nossa casa comum, com a diferença que dessa não podemos nos mudar, ainda que nossa curiosidade sobre o Universo seja grande e permita que nossa imaginação seja lançada feito foguete!

Mas, aqui... como será a relação do lagarto Teiú com sua toca? E das aves que observamos de nossas janelas com seus ninhos? Vixii... e tem também aquele gambazinho Saruê que fuça os sacos de resíduos nas ruas... para onde ele leva sua comida? Será que as diversas abelhas nativas que vivem aqui moram de uma única maneira? E o Bicho-Pau, que passa desapercebido por alguns, tem esse nome porque mora dentro de algum tronco? E seus vizinhos, ainda mais discretos, a Cuíca, o Ouriço e o Urutau, como os pesquisadores descobrem seus habitats?

O Gavião Pinhé também VIVE AQUI

Acompanhe o agente de educação ambiental, Marcelo Bokermann, falando sobre o Gavião Pinhé e  como as florestas servem como morada de vários seres vivos.

Para mais conteúdos sobre Reserva Natural Sesc Bertioga em www.sescsp.org.br/reservanatural

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¹Restinga é um ecossistema típico do bioma Mata Atlântica, que ocorre em regiões costeiras. As planícies litorâneas, com suas condições específicas de clima, solo e geografia, conferem a ele características peculiares de fauna e flora. Devido à sua localização, desde o início da colonização do Brasil a restinga vem sofrendo os impactos da ação humana. Atualmente, ela continua sendo submetida a um intenso processo de degradação, o que reforça a importância da proteção de seus remanescentes.