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Curumim: o lúdico na formação do pequeno cidadão

É perceptível que os seres humanos aprendem ao longo de toda a vida. O aprender ocorre de maneira intensa nas infâncias, período em que a inquietação e a curiosidade das crianças lhes permitem mais olhares de estranhamento do mundo. Também acontece nessa fase de desenvolvimento a construção de valores que orientarão suas atitudes na idade adulta, aumentando a responsabilidade dos agentes envolvidos na condução do processo educativo para a formação de pessoas conscientes de seus papéis. 

Nessa perspectiva e reconhecendo a potencialidade educadora das ações e projetos desenvolvidos em distintas áreas, como meio ambiente, esportes, cultura, saúde e alimentação, é que se insere a atuação do Sesc - Serviço Social do Comércio - na sociedade.

O Curumim, que acontece em diferentes unidades do Sesc São Paulo há 33 anos, é uma dessas ações. Este programa de educação não formal é gratuito, direcionado para crianças de 7 a 12 anos, e visa o desenvolvimento integral da criança por meio de brincadeiras, passeios, atividades culturais e corporais. Desta forma, busca contribuir para a formação de sujeitos cidadãos atuantes e comprometidos com a sociedade que integram. 

As ações, baseadas na ludicidade, estimulam a criança a querer descobrir o mundo, aprendendo a interagir, resolver problemas, superar desafios e instigar a imaginação. As atividades realizadas coletivamente possibilitam aos participantes a oportunidade de fazer amigos e viver novas experiências, o que colabora para seu desenvolvimento e aprendizado.
 



No Sesc Ipiranga, o Curumim tem uma característica diferenciada em razão da oferta de transporte gratuito para possibilitar o acesso das crianças da comunidade de Heliópolis. A ação surgiu a partir da observação da alta taxa de evasão das crianças inscritas que atendem aos requisitos do público prioritário para atendimento do programa, que inclui dependentes de trabalhadores do setor do comércio de bens, serviços e turismo, especialmente de baixa renda. As crianças com este perfil que chegavam ao grupo não permaneciam por muito tempo, pois as famílias não conseguiam arcar com os custos do transporte (seja combustível ou transporte público), além de não disporem de tempo para acompanhá-las nos trajetos de ida e retorno à unidade.

Com a chegada das crianças de Heliópolis formou-se um coletivo extremamente rico e instigante do ponto de vista educacional, por constituir um ambiente plural, diverso socioeconomicamente e com repertórios heterogêneos. Aos educadores coube a responsabilidade de provocar os participantes para que questionem seus pontos de vista, pensem de forma crítica e aprendam a ouvir e respeitar ideias diferentes. Enfim, um espaço privilegiado de encontro de mundos.

A oferta do transporte proporciona a ida das crianças ao programa e integra uma série de atividades de valorização social, esportivas, artísticas, de sustentabilidade, saúde e alimentação que vêm sendo realizadas para aproximar moradores da comunidade Heliópolis com a Unidade e sua programação.

No momento, as atividades estão suspensas desde o decreto de quarentena de março deste ano, seguindo os protocolos de ação de combate e prevenção a disseminação da Covid-19. Mas antes da pandemia, o programa funcionava todas as manhãs, entre terças e sextas-feiras, atendendo cerca de cem crianças, divididas em duas turmas. As crianças frequentavam a unidade do Sesc Ipiranga duas vezes por semana, e juntas a um grupo de quatro educadores, desenvolviam atividades direcionadas em diferentes linguagens, com tempos e espaços para o livre brincar, além de partilharem um lanche na comedoria da Unidade.

Atualmente, os educadores têm mantido contato com as famílias e crianças por meio de chamadas telefônicas, de vídeo, mensagens de texto, e-mails e grupo nas redes sociais. A equipe também tem criado e produzido diversos conteúdos, tais como contações de histórias, animações, oficinas e dicas, utilizando os recursos virtuais disponíveis para encurtar a distância, manter o afeto e seguir com o necessário isolamento social.

Ana Clara, uma das participantes do Curumim, comenta como tem sido esse período em casa e fala sobre as expectativas para o retorno presencial das atividades do programa: 

“Essa quarentena tem sido legal e chata ao mesmo tempo. Mas fico entediada. Quando minha mãe chega do trabalho eu fico fazendo tik tok. A escola está legal mas chata também [risos]. Peguei o material, já fiz todas as tarefas e a professora ligou para eu acompanhar o canal. Estou sentindo falta do Curumim, muita falta. Da Natalia, da Gabi, do Nikson [educadores do Programa Curumim], de brincar, fazer as atividades. Sentindo falta do ETA [Espaço de tecnologias e Artes], de várias coisas… Quando acabar essa quarentena eu vou para escola e para o Curumim. Sei que de vez em quando eu falo que quero que chegue logo as férias, mas eu tô com muita saudade dos amigos.” - Ana Clara Rosa de Souza, 10 anos, Heliópolis, SP.

As inscrições para novas turmas acontecem no início de cada ano e são divulgadas pelas redes sociais e portal Sesc São Paulo. Havendo disponibilidade de vagas, que pode ser consultada em nossa Central de Atendimento, o ingresso no Programa pode ocorrer ao longo do ano. No presente momento, contudo, as inscrições estão suspensas em virtude da pandemia.