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Atravessando a imprevisibilidade

Pintura: Felipe Suzuki
Pintura: Felipe Suzuki

Danilo Santos de Miranda

Diretor do Sesc São Paulo

 

A pandemia de covid-19 transformou a vida das pessoas de maneira abrangente. Reorganizando os mais diversos campos que dizem respeito ao ser humano, como a saúde, a economia, a politica e a cultura, a nova realidade passou a demandar formas até então inéditas de lidar com as circunstâncias, inclusive com a imprevisibilidade.

Em contrapartida, nota-se o reforço da empatia e da solidariedade para aliviar os impactos da doença que, em maior ou menor grau, continua a avançar em território nacional e pelo mundo. No caso do Sesc, programas como o Mesa Brasil, que ha mais de 25 anos conecta empresas doadoras de alimentos e instituições sociais que prestam serviços gratuitos para pessoas em situação de vulnerabilidade, tornaram-se ainda mais urgentes e foram ampliados.

Aos idosos, vítimas não apenas dos altos índices de mortalidade, mas também do preconceito que sua condição nesse contexto enseja, foram recomendados cuidados especiais, de cunho individual. Ao mesmo tempo, faz-se necessária uma reflexão mais ampla para endereçar questões estruturais, considerando as especificidades dos cenários nos quais as pessoas velhas se encontram: se amparados por suas famílias ou vivendo sós, por exemplo, sendo esse segundo caso um fenômeno em progressão no Brasil. Devem ser desenvolvidas, nesse sentido, políticas públicas que alcancem esses públicos, bem como estimuladas as discussões acerca do velho no contexto familiar, em condições de dignidade e respeito.

O familismo, assunto ainda pouco discutido no nosso pais, envolve várias ideias em que a família deve estar em primeiro lugar na vida do individuo. Pessoas familistas tendem a perpetuar as heranças e os legados da família, almejando os costumes, a historia dos antepassados e as tradições, além de proteger e honrar o nome da família.

Investir em estratégias de prevenção, conhecimento e intervenções para fortalecer tanto os vínculos entre aqueles que compartilham experiências similares quanto as suas redes de suporte apresenta-se como um caminho as instituições que atuam junto a essa população, especialmente quando se tem em vista as consequências decorrentes da pandemia. Assim, o Trabalho Social com Idosos estabeleceu uma rede virtual de contatos com os participantes das atividades desenvolvidas nas unidades operacionais, estendendo e

adaptando as formas de acolhimento que caracterizam a ação do Sesc.

Já a revista Mais 60, em sintonia com os assuntos da contemporaneidade, discute a situação atual a partir da transversalidade que a matéria requer. Por este motivo, nessa edição, pinturas e relatos de experiências acompanham e contextualizam os artigos.

Em períodos de crise, costuma-se buscar nas palavras de pensadores algo que sirva de síntese e ilumine os horizontes. Fiquemos com as do sociólogo e filosofo francês Edgar Morin:

Não sou pessimista nem otimista. Meu temperamento é resistente. Não aceito certas coisas e sei que a História é incerta. E, às vezes, durante a noite mais escura, surge uma aurora inesperada.

Boa leitura!