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Por que, Pra quê?
Porque sim não é resposta!

Projeto Por que, pra quê? desvenda curiosidades do mundo da ciência de forma lúdica e informativa

Quem nunca se deparou com uma série de perguntas insistentemente disparadas pelas crianças, como por que os pássaros voam, por que o céu é azul ou como funcionam as mais variadas engenhocas? Há quem, diante desses inquéritos, fique constrangido. Outros respondem qualquer coisa, afinal de contas, "isso é coisa de criança". Há também aqueles que se irritam e ignoram a curiosidade infantil. Mas, felizmente, há também os que embarcam nessa viagem de deslumbramento e dúvida em relação às coisas do mundo.
O fato é que a curiosidade parece estar intimamente ligada às crianças. Como ignorar, por exemplo, o impulso incontrolável de desmontar brinquedos só para ter o trabalho de montá-los ou, simplesmente, para saber o que tem dentro?
De acordo com o Dicionário Etimológico de Antônio Geraldo da Cunha, a palavra "curioso" vem de "cuidadoso", "zeloso". Curioso, portanto, é o indivíduo que tem cuidado, que se preocupa com as coisas e os fatos do mundo que o envolve. E para se inteirar do universo que nos cerca, nada melhor do que perguntar.
Para aplacar algumas dúvidas e valorizar o impulso da curiosidade, o Sesc Pompéia inaugurou, em abril, um grande projeto que adentra o universo da ciência e busca, de maneira leve e descontraída, introduzir a criança no fantástico mundo do conhecimento científico: o Por que, pra quê?
O evento tem três atrações: exposição, peça teatral e laboratório. Na exposição, a criançada tem a oportunidade de interagir com grandes instalações onde são apresentados os fenômenos da ciência. A peça Tíbio e Perônio em Por que, Pra quê?, escrita por Flávio de Souza, roteirista de diversos programas e peças infantis, conta com dois conhecidos personagens: Tíbio e Perônio, os dois divertidos cientistas do Castelo Rá-Tim-Bum. No laboratório, podem-se conferir alguns fenômenos físicos e químicos sob a orientação de monitores especializados.
Segundo Roberto Cenni, técnico do Sesc Pompéia, já é tradição a unidade desenvolver projetos cenográficos com temáticas infanto-juvenis. "Praticamente apenas o Sesc organiza esse tipo de exposição. Em outras instituições, não vemos isso; não há ofertas desse tipo na cidade de São Paulo. Há mais de dez anos estamos realizando exposições periódicas envolvendo o universo infantil. São eventos que marcam porque possuem um caráter diferenciado", afirma.
Para Roberto, o Por que, pra quê? estimula, com atividades de lazer, a descoberta de fatos científicos presentes no dia-a-dia. "O objetivo do projeto é despertar a curiosidade para saber como as coisas funcionam, fazer a criança começar a se inteirar dos fenômenos científicos que existem e atuam sobre ela."
A união entre lazer e informação foi a fórmula encontrada por Mira Haar - idealizadora do projeto junto à equipe do Sesc Pompéia - para combater a falta de estímulo da garotada em relação a determinados assuntos. "As escolas estão enfrentando a falta de interesse das crianças. Diante da quantidade de informações que elas têm acesso atualmente, a escola tornou-se chatíssima", afirma a atriz e também diretora do espetáculo teatral apresentado no projeto. "Nossa experiência com o sucesso do Teatro do Castelo Rá-Tim-Bum, que eu dirigi, nos mostrou quanto os pais buscam para seus filhos coisas interessantes e com conteúdo", constata. "Achei que era hora de unir o interesse dos pais a algo bacana, que aguçasse os sentidos das crianças."

Exposição
Para que esses objetivos fossem alcançados, Renato Theobaldo foi convocado para criar as instalações. O cenógrafo já realizou outros projetos desenvolvidos pelo Sesc Pompéia, como Reinações da Teimosia (1993), sobre a obra de Monteiro Lobato, e Mitos que Vêm da Mata (1998), sobre personagens do folclore brasileiro. "A forma de apresentação da exposição não é um experimento científico, é uma brincadeira. Mas essa brincadeira, como qualquer outra, é um experimento. Na exposição, há o foco na ciência para que se vislumbre, de maneira muito agradável, outra percepção dela", esclarece. "Cada uma das instalações foi criada para apresentar vários conceitos implicitamente. Em todos os assuntos tentamos esgarçar ao máximo o conhecimento sem explicar de maneira chata os fenômenos presentes."
A exposição está dividida em quatro núcleos: astronomia, ótica/luz, acústica/som e mecânica/transformação de energia. No primeiro, é possível conhecer melhor as relações entre os planetas na instalação multimídia Os Buracos da Lua, composta de três módulos interligados que conduzem os visitantes em uma viagem pelo sistema solar.
No núcleo ótica/luz, as instalações mostram as leis básicas da luz e o funcionamento dos olhos, com um labirinto de espelhos, uma grande câmara escura que reproduz um olho humano e instalações que desvendam a magia das cores.
No núcleo acústica/som, os visitantes conhecem os princípios da propagação do som com aparelhos que ressaltam algumas características da voz e das ondas sonoras.
Já para o núcleo mecânica/transformação, o cenógrafo criou uma série de aparatos, como uma gangorra individual, um teleférico movido por crianças e uma grande alavanca que produz bolhas gigantes.

Além da escola
Como não poderia deixar de ser, a equipe do projeto contou com a assessoria de um professor de ciências, o físico Aníbal Fonseca. "Há muito tempo venho escrevendo e apresentando projetos e sempre tive uma frustração muito grande porque as pessoas tendem a 'escolarizar' esse tipo de iniciativa", explica. "Minha preocupação e meu desejo eram fazer alguma coisa em que a ciência aparecesse de forma lúdica, como cultura. Neste país, não temos cultura científica. E essa cultura não se constrói necessariamente na escola. Na verdade, ela dificilmente acontece nas escolas", argumenta.
Para Aníbal, a ciência que se aplica nas instituições de ensino tem um caráter meramente utilitarista. "Os professores não conseguem desenvolver uma intimidade com a ciência que os permita a seus alunos perceberem, por exemplo, que ela não é absolutamente indispensável. O motivo pelo qual é interessante que as pessoas entrem em contato com esse universo é o prazer do conhecimento, o prazer de ter outra leitura do mundo", ressalta. "Acho interessante como as pessoas vivem sem se perguntar por que o céu é azul. É óbvio que o céu é azul. A cultura do óbvio é muito forte e, para mim, ela é reforçada pela ciência que está sendo ensinada na sala de aula", prossegue. "Seria tão interessante se as pessoas continuassem achando fantástico o pôr-do-sol e buscassem compreender por que ele tem aquela cor..."
Aníbal ressalta ainda uma característica da exposição: "Em oficinas que dei para crianças em praça pública, nas quais construíamos experimentos a partir de sucata, cansei de ver velhinhos perguntando: 'moço, posso fazer para levar para o meu neto?'. Sei lá se tinha neto mesmo. O que importa é que ele realmente queria fazer aquilo. Definitivamente, esse projeto não é infantil. Brincadeira não é coisa de criança, brincadeira é coisa de gente".

Projeto segue até 23 de junho no Sesc Pompéia

Entre as atrações do evento, inaugurado no final de abril, está o espetáculo teatral Tíbio e Perônio em Por que, Pra quê?, com autoria do roteirista Flávio de Souza e direção de Mira Haar.

Destinado a um público de 5 a 12 anos, a peça conta a história dos experimentos criados pelos populares cientistas do Castelo Rá-Tim-Bum. Em um teatro com capacidade para trezentos espectadores, construído especialmente para o projeto, as crianças são convidadas a participar do espetáculo e se envolvem na trama e nos experimentos de Tíbio e Perônio. "Flávio de Souza sempre diz que o conteúdo de seus trabalhos não é pedagógico, é um conteúdo de civilidade", esclarece Mira. "Essa é uma palavra muito importante: é o direito que se proporciona de se assistir coisas boas, o direito de poder refletir sobre o que foi visto", conclui.
A peça, que fica em cartaz até o fim do projeto, no dia 23 de junho, tem duas sessões diárias: de terça a sexta, às 10h e 15h, e aos domingos, às 11h e 17h.