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O Musical Zapping e o lançamento do Centro Experimental de Música, no Sesc Consolação

Na montagem, páginas do impresso para o Musical Zapping.
Na montagem, páginas do impresso para o Musical Zapping.

Tetê Espíndola, Ná Ozzetti, Anna Maria Kieffer e Adélia Issa, cantoras com trajetórias bastante diversas entre si, propiciaram um momento musical sublime quando toparam dividir o palco.

O encontro aconteceu em março de 1989, no Musical Zapping, que reuniu várias tendências da música contemporânea, em diversos concertos e shows, para inaugurar as atividades do Centro Experimental de Música (CEM), no Sesc Vila Nova. A unidade da rua Doutor Vila Nova, na região central de São Paulo, passou a se chamar Sesc Consolação em 1993.

Com Duofel nos violões e outros nomes de peso no palco, as quatro cantoras interpretaram 30 músicas, entre elas “No Rancho Fundo” (Ari Barroso e Lamartine Babo), “Habanera de Carmem” (Bizet), “Orfeu” (José Miguel Wiznik) e “When Stars Are in the Quiet Skies” (Charles Ives). Era um repertório montado para desafiar e atravessar as fronteiras entre as músicas popular, erudita e experimental.

Afinal, é disso que se tratava o Zapping: uma série de concertos com olhar atento para a diversidade e o contemporâneo, contemplando vários tipos de música. O nome escolhido era uma analogia ao ato de pegar o controle remoto da televisão e fica pulando, “zapeando”, de um canal para o outro. O próprio programa do Musical fazia uma brincadeira com os significados prováveis da palavra zapping, entre eles “novos sons ainda não enquadrados”, “ruído desconhecido” e “atentado contra o silêncio que invade a cidade”. 

 

Outros shows

O show de abertura do projeto Zapping foi do grupo vocal Garganta Profunda, com toda a teatralidade, irreverência e qualidade musical que lhe garantiam sucesso de público e crítica na época, que fizeram dele um divisor de águas na música vocal brasileira. O grupo cantou músicas próprias e também sucessos da MPB, como “Dindi” (Tom Jobim e Aloísio de Oliveira), e dos Beatles, como “The Long and Winding Road”.

A programação contou também com Helio Ziskind, num "concerto" com peças do universo da música erudita executado por computadores e sintetizadores; o grupo Nomenclatura, que fez show e workshop dentro de sua proposta de recriar universos sonoros; e um espetáculo inédito chamado Concerto Galáctico, que reuniu dois artistas de universos distintos, o premiado ator brasileiro Cacá Carvalho e o tenor alemão Theophil Maier.

Estava plantado ali o embrião do que viria a ser o Centro de Música do Sesc São Paulo. Embrião que foi gerado sem falsa modéstia, com o intuito de ser o “grande centro propulsor da discussão musical na cidade”, como definiu na ocasião o então gerente do Sesc Vila Nova, José Menezes Neto. Para ele, o espaço pretendia promover as experiências musicais mais inovadoras do país.

 

Trabalho social

Outro aspecto primordial era o trabalho social. “Nosso objetivo era oferecer uma opção de lazer e uma vivência cultural, e não formar músicos. Era uma grande oficina para pessoas que vinham de diversas classes sociais, profissões… de diversos perfis diferentes”, explica o maestro João Maurício Galindo, que antes havia sido aluno da Orquestra de Cordas do Sesc São Paulo e depois integrou a equipe do Centro Experimental de Música como professor.

O maestro conta, com satisfação, que organizou um grupo de cerca de 50 ex-alunos para criar uma orquestra amadora de cordas, que se reunia uma vez por semana. “Eles não tinham muita técnica, mas a gente conseguia tocar um repertório simpático e eles adoravam. Fizemos uma série de concertos pela cidade". Galindo diz que esse tipo de iniciativa é comum em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, onde esses grupos “alimentam a cultura musical de suas cidades”. “Mas o Brasil não tem essa tradição e ali a gente criou um grupo desse tipo." 

Outro aspecto que Galindo destaca no CEM é a estrutura para se trabalhar. Segundo ele, o Sesc São Paulo fez um ótimo investimento no espaço físico, incluindo tratamento acústico, ar condicionado e salas de estudo individuais. E comprou um computador “super moderno para a época”, um Macintosh que continha um “teclado fantástico, um sampler... era um equipamento incrível”. Foi nele que o maestro aprendeu a fazer partituras em computador.

 

Ampliação do Centro de Música

Os Centros de Música são pólos para a pesquisa e o desenvolvimento do pensamento, prática e criação musicais, equipados com estúdios, acervos e salas tratadas acusticamente. Toda essa estrutura e tecnologia são usadas para incentivar vivências, experimentação e pesquisas, a fim de levar o indivíduo a descobrir suas potencialidades por meio da prática musical e de processos cênicos.

Em 1997, foi criada a segunda unidade física do Centro de Música, com a inauguração do Sesc Vila Mariana. E em 2019, a terceira, quando foi fundado o Sesc Guarulhos.

Com um histórico tão rico, tanto em termos de qualidade musical quanto no aspecto social, é natural que esse trabalho seja progressivamente expandido por novas unidades do Sesc São Paulo, a fim de beneficiar um número cada vez maior de pessoas.