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Filmes revelam a pluralidade do cinema grego contemporâneo, ao flertar com a ficção científica e questionar os limites da realidade

Em entrevista exclusiva ao CineSesc, para o Portal do Sesc São Paulo, o cônsul-geral da Grécia em São Paulo, Stelios Hourmouziadis, fala sobre a diversidade cultural de seu país, representatividade e a programação especial Visões: Cinema Grego em Foco


De 18 a 20 de dezembro, a plataforma Sesc Digital recebe a programação “Visões: Cinema Grego em Foco”. Durante o fim de semana, serão exibidos três filmes inéditos no Brasil: Apetaxamin, de Frieda Liappa, Symptom, de Angelos Frantzis, e The End Of Suffering - A Proposal, de Jacqueline Lentzou, curta-metragem selecionado para o Festival Locarno, vencedor do Festival Internacional de Cinema de Atenas e do Festival Internacional de Cinema de Chicago.

Realizada em parceria com o Consulado Geral da Grécia e o Greek Film Archive, a seleção de filmes traz um recorte da cinematografia contemporânea grega, com foco em produções que flertam com a ficção científica e questionam as fronteiras entre nosso mundo interior e exterior. As produções serão exibidas gratuitamente na série Cinema #EmCasaComSesc.

Em entrevista exclusiva para o CineSesc, o cônsul-geral da Grécia em São Paulo, Stelios Hourmouziadis, comenta sobre a produção cinematográfica grega, a diversidade cultural e os avanços da representatividade de gênero na Grécia atual e a importância das parcerias entre países para difusão de saberes.


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Vários diretores gregos foram consagrados no mundo do cinema, como Theo Angelopoulos, Costa Gravas e, mais recentemente, Yorgos Lanthimos. Qual a importância desse reconhecimento e como você descreveria o cinema grego contemporâneo?

A história da sétima arte na Grécia está, intrinsicamente, relacionada ao percurso cultural grego dos últimos séculos. Com a disseminação da tecnologia cinematográfica, o cinema grego soube incorporar os movimentos artísticos europeus, mas também, progressivamente, criar sua própria linguagem, fruto da idiossincrasia grega, da tradição cênica milenar e dos contextos sociopolíticos na Europa e na própria Grécia, muitas vezes turbulentos. Além dos grandes nomes mencionados, muitos cineastas consagrados, como o grego cipriota Michel Cacoyannis e Nikos Kondouros, fazem parte da linhagem cinematográfica grega que, com um olhar repleto de sensibilidade e lirismo, se mostraram politicamente engajados e cinematograficamente inovadores. Com a sua introdução na Grécia, no inicio do século XX, o cinema passou a ser um meio de entretenimento da população, nos anos 1940 a 1970, sempre mantendo fortes laços com o cinema francês e italiano. Não é por acaso que Angelopoulos e Gavras têm sido muito atuantes tanto na Grécia quanto na França. Seguindo o mesmo caminho da inovação, do lirismo e da crítica política, Lanthimos veio reinventar, com a onda do Weird Cinema, o cinema grego com repercussão e reconhecimento mundial. Nesse sentido, os cineastas gregos se perpetuam na longa linhagem de criadores artísticos, capazes de depositar um olhar particular grego sobre questões humanas universais, que remontam à essência da arte grega, berço das artes cênicas ocidentais.


Visões: Cinema Grego em Foco traz 2 filmes, dos três que compõem a programação, dirigidos por cineastas mulheres. A participação feminina, nos campos da política, da cultura e diversos setores, tem crescido nos últimos anos na Europa. Esse movimento também acontece hoje, na Grécia?

Ainda que, como cônsul-geral da Grécia em São Paulo, eu represente as gregas e gregos, falar sobre a representatividade feminina limita-se à minha visão como homem. É crescente a participação feminina na arte grega nas últimas décadas, mas a presença das mulheres em áreas distintas, inclusive no cinema, ainda é um desafio, que demanda políticas e atuação efetivas. Nesse sentido, esse especial de cinema grego em parceria com o Sesc, ao trazer essas cineastas gregas, deve ser parabenizado. Aliás a participação da mulher numa sociedade, em que a figura da mãe-gaia é central desde a antiguidade, deveria ser uma evidência. Portanto, a demora na representatividade feminina na Grécia seguiu os desenvolvimentos sociais do resto da Europa. Hoje em dia, sinto-me muito feliz em ver que, não só no setor da criação artística, mas também na vida política, acadêmica e econômica, a Grécia está dando passos na direção de uma representatividade mais igualitária.


Quais os indícios dessa mudança?

Nas últimas décadas, a Grécia viu mulheres ocuparem importantes cargos políticos e culturais, como ministras, premiês, presidentes do Tribunal Supremo, governadoras do Banco Central, membros da Academia de Letras e Ciências de Atenas, até chegarmos, hoje, a ter pela primeira vez na nossa história uma presidente da República, Ekaterini Sakelaropoulou. Em todas as áreas, o empoderamento das gregas é evidente, e segue a passos firmes, trazendo força e esperança, remontando quem sabe à sociedade Minoica, primeira sociedade matriarcal na Europa. A presença das duas mulheres cineastas na plataforma do Sesc é mais uma prova do quanto necessitamos do olhar crítico feminino nas sociedades contemporâneas.


A Grécia é considerada berço da civilização ocidental, da filosofia, da literatura, da dramaturgia e da ideia moderna de democracia. No entanto, a sociedade cresceu e, naturalmente, se transformou em um caldeirão multicultural. Como é difundir, hoje, a produção grega para além das terras helênicas, sobretudo no Brasil e em São Paulo?

Ser diplomata grego no Brasil é uma grande honra, mas também um importante desafio. A Grécia contemporânea, mesmo com seu passado cultural glorioso, é ainda muito pouco conhecida no Brasil, apesar dos dois prêmios Nobel de Literatura na poesia, da proeminência de fundadores de movimentos de artes plásticas e prêmios de cinema internacional. Uma das tarefas do Consulado Geral da Grécia em São Paulo é a divulgação da cultura contemporânea grega por meio de parcerias e intercâmbios artísticos. Em sintonia com a Embaixada da Grécia em Brasília, e com o governo grego, tentamos aproximar nossos povos, cuja amizade e respeito mútuo são indiscutíveis.


Qual a importância dessas parcerias e quais iniciativas já foram realizadas?

Criar parcerias com Instituições robustas como o Sesc, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a Flip, os grandes Museus de São Paulo, assim como as instituições acadêmicas brasileiras, apresentar o trabalho e as iniciativas do governo grego, mas também da sociedade civil e das grandes fundações gregas (como a Onassis e a Niarchos), faz parte do grande esforço que o Consulado Geral da Grécia em São Paulo está fazendo. Nesse sentido, o apoio das Comunidades Gregas do Brasil e sobretudo de São Paulo, e dos gregos e descendentes no Brasil, é relevante e essencial. As Mostras de Cinema Grego, Exposições sobre Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, programas de residências artísticas de artistas gregos em São Paulo, tal como a participação de artistas gregos em exposições e pesquisas do Sesc são algumas das nossas iniciativas até agora que serão ampliadas nos próximos anos, começando já em 2021, ano em que celebraremos com os amigos e parceiros brasileiros os 200 anos da Declaração da Independência da Grécia.

 

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A programação Visões: Cinema Grego em Foco é uma realização do Consulado Geral da Grécia em parceria com o Sesc São Paulo e fica em cartaz nos dias 18, 19 e 20 de dezembro. Confira o folder de programação e se atente às datas de exibição dos filmes.
 


Cinema #EmCasaComSesc
Visões: Cinema Grego em Foco
sescsp.org.br/cinemaemcasa

Dia 18/12 - APETAXAMIN
Dia 19/12 - SYMPTOM
Dia 20/12 - THE END OF SUFFERING (A PROPOSAL)

Filmes disponíveis por apenas 24h.