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Faces da experimentação

Ana Bella Geiger. Crédito: Luiz Velho
Ana Bella Geiger. Crédito: Luiz Velho

O PIONEIRISMO DE ANNA BELLA GEIGER, ESCULTORA, PINTORA, GRAVADORA E ARTISTA INTERMÍDIA

Em sua vasta trajetória, Anna Bella Geiger, 88 anos, concebeu obras que figuram como potentes reflexões sobre o Brasil e seus paradoxos. Um dos trabalhos mais emblemáticos de sua carreira data de 1976-1977 e é, também, atemporal: Brasil Nativo/Brasil Alienígena. Composta por 18 cartões-postais, a série propõe uma releitura do cotidiano dos Bororo, povo indígena do Mato Grosso, a partir de retratos da artista nos quais reproduz cenas idealizadas da vida dessa população, constantemente desprotegida pelo poder público. A obra também deu nome a uma exposição realizada entre novembro de 2019 e março de 2020 numa parceria entre o Sesc São Paulo e o Museu de Arte de São Paulo (leia mais na edição nº 280 da Revista E) e ao livro Anna Bella Geiger: Brasil nativo, Brasil alienígena (Edições Sesc São Paulo e Masp, 2019), organizado por Adriano Pedrosa e Tomás Toledo.

Assim, em plena ditadura, Anna Bella questionava as narrativas hegemônicas e a história oficial. Caracterizada pela constante busca pela experimentação estética, a criadora tem sua obra amplamente examinada no livro Anna Bella Geiger, segundo volume da coleção Arte, Trabalho e Ideal, publicada pelas Edições Sesc São Paulo (veja Testemunha de seu tempo). A organização é de Fabiana de Barros, artista plástica, Marcia Zoladz, jornalista e editora de imagem, e Michel Favre, cineasta e fotógrafo.

Arte, Trabalho e Ideal com Anna Bella Geiger convida o leitor a pensar sobre o trabalho da artista sob o seu próprio ponto de vista. Anna Bella foi entrevistada pelo curador Pablo León de la Barcae; durante a entrevista, ela demonstra como a sua biografia está intimamente ligada à construção de sua obra em sua extensa carreira”, explicam os organizadores.

 

DE INOVAÇÃO EM INOVAÇÃO

Precursora da arte abstrata em terras brasileiras, a carioca participou da histórica exposição inaugural do movimento, em fevereiro de 1953, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis (RJ). Nas décadas seguintes, alcançou o domínio de variados suportes, formatos e linguagens, sempre transpondo simbologias e dimensões de natureza pessoal e política, transitando com fluência pelo conceitual.

Presente no acervo de importantes instituições, como o Tate Modern, de Londres, e o Centre Pompidou, em Paris, Anna Bella iniciou estudos de desenho e gravura nos anos 1950, com a gravadora brasileira Fayga Ostrower (1920-2001), de origem polonesa, como a aluna. Partiu para Nova York em 1954, onde frequentou as aulas da historiadora da arte alemã Hannah Levy (1912-1984) no The Metropolitan Museum of Art (MET).

Participou, entre 1960 e 1965, do ateliê de gravura em metal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), organização da qual também se tornaria professora. Nos anos 1970, a artista impulsionou a aplicação de novos formatos em suas produções, sendo pioneira na videoarte no país. No período, abraçaria também a fotomontagem, fotogravura, xerox e Super-8.

História do Brasil: Little Boys & Girls, fotografias e colagens, fotocolagem, 1975 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger
 

Detalhe de BU-RO-CRA-CIA, da série Sobre a Arte, pintura, cor, 1975 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger
 

 

TESTEMUNHA DE SEU TEMPO

LIVRO EXAMINA BUSCAS ESTÉTICAS DA CRIADORA POR MEIO DE IMAGENS, ENSAIO E ENTREVISTA

Anna Bella Geiger, edição bilíngue, mergulha nas diferentes fases da artista em 156 páginas, que trazem um amplo apanhado iconográfico de suas obras. Os organizadores do livro, Fabiana de Barros, Marcia Zoladz e Michel Favre, relatam como se deu a seleção dos trabalhos que estão na publicação. “Conhecíamos a obra da artista e sabíamos que algumas deveriam fazer parte. Achamos importante incluir obras recentes, como a instalação do Rrose Sélavy, no Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro, em 2018. Ou ainda a série BU-RO-CRA-CIA, iniciada em 1979 e constantemente revisitada pela artista. Além disso, ela generosamente nos deu acesso ao seu acervo de trabalhos e ainda ao seu arquivo de fotos pessoais, e participou da escolha”.

O volume apresenta, ainda, uma conversa entre a homenageada e Pablo León de la Barra, curador-geral da América Latina no Museu Solomon R. Guggenheim de Nova York e curador-chefe do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Na entrevista, concedida nos meses de fevereiro e novembro de 2018, Anna Bella falou sobre o papel do artista em tempos difíceis: “Entendo que, como artista, preciso ter uma estratégia a fim de poder observar que esse ainda é um bom momento no qual as pessoas estão conseguindo conversar, discutir. É para isso que nós, como artistas, lutamos através do significado de nossa obra e de nossas ideias, para que todos possam se tornar cidadãos plenos”.


Menino Negro, gravura em metal, 1950 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

Sem Título, desenho a carvão, 1950 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

 

Sem Título, colagem, 1951 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 


Sem Título, Fase Visceral, Objetos Tridimensionais, 1966-1977 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 


História do Brasil: Little Boys & Girls, fotocolagem, ambas, 1975 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

 

3 Colunas com Camuflagem, chumbo e papel-pergaminho, 2005 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger
 

 

Rollinhos/Little Scrolls, escritos, desenhos e colagens sobre papel-pergaminho, 1998 | Acervo Anna Bella Geiger

 


O Espaço Social da Arte II, desenho a lápis e nanquim, 1977 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

 

Rose Sélavy, ensaio, serigrafia impressa sobre página de jornal, 2008 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

Local da ação com Euhropa/Bras. Am. Lat., série Fronteiriços, gaveta de arquivo de ferro, encáustica, folhas de flandres e fios de cobre, 1995 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

Intolerância, série Migrações, gesso, pintura a óleo, pigmento azul-cobalto, 2017 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

Imagens da série Brasil Nativo/Brasil Alienígena (com 18 cartões-postais), 1976-1977 | Acervo Anna Bella Geiger
 

 

No verso do cartão-postal, o texto: “... com o meu despreparo como homem primitivo” | Acervo Anna Bella Geiger

 

Espiral, Circumambulatio Ambiente Parcial, vídeo, 1972 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

  Ambiente Parcial, Espiral, 1972 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger
 
Circumambulatio, the body of the artist, 1972 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

Sem Título, Fase Visceral, guache sobre papel com recortes e dobras, 1967 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

Fígados Conversando, Fase Visceral, água-forte, água-tinta e recorte, 1968 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger

 

Órgão Ocidental, Fase Visceral, desenho, guache, ecoline e nanquim, 1966 | Crédito: Acervo Anna Bella Geiger
 
EW18 com Mapa da África, bordado, alfinetes e folhas de metal colados sobre tela, 2014 | Acervo Anna Bella Geiger
 


 

 

 

 
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