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Cinco Vezes Ney Matogrosso: artista homenageado do 29º Festival Mix Brasil recebe mostra de cinema exclusiva no Sesc Digital

Conheça os 5 filmes estrelados pelo cantor que estarão disponíveis gratuitamente na plataforma a partir de quinta-feira 11/11

 

Por Elton Telles*

Neste ano de 2021 em que completa 80 primaveras, o artista Ney Matogrosso será o homenageado do 29º Festival Mix Brasil. Além de receber o Prêmio Ícone Mix, em reconhecimento por sua carreira artística singular e transgressora, Ney também ganha uma mostra de cinema com exibição exclusiva na plataforma Sesc Digital. O panorama é formado por cinco títulos, onde Ney exercita seus atributos como ator ou é colocado sob perspectiva como personagem central nos documentários. Os filmes exibidos serão “Ney à Flor da Pele” (2020), de Felipe Nepomuceno; “Ralé” (2016), de Helena Ignez; “Depois de Tudo” (2008), de Rafael Saar; “Olho Nu” (2012) e “Caramujo-Flor” (1988), ambos de Joel Pizzini.

Narrado em primeira pessoa, “Olho Nu” é um documentário intimista adornado com registros pessoais do artista. Antes de estourar com suas performances intensas sobre os palcos, Ney remonta suas memórias e as compartilha com o público, reavivando diversas passagens particulares até o momento em que fora convidado a ser um dos integrantes do seminal conjunto Secos & Molhados. A partir daí, a música brasileira nunca mais seria a mesma, e a contribuição ousada e revolucionária de Ney ganha o protagonismo no filme.

A certa altura do documentário, ele afirma: “Eu adoro ser subversivo. Em todos os governos que passarem, eu sempre serei subversivo, porque eu só sei ser subversivo”. Com uma linguagem poética e diversos fragmentos de sua prolífera carreira, incluindo apresentações, entrevistas raras e imagens de arquivo, “Olho Nu” nos coloca diante da complexidade do artista, que atravessou décadas se valendo de uma postura essencialmente subversiva – em suas próprias palavras – para quebrar paradigmas não somente na música, mas também do comportamento padrão e aceitável socialmente.

Em outro documentário que compõe a mostra, “Ney à Flor da Pele”, a proposta de rompimento com o que é considerado masculino por meio da arte é um argumento muito evidente no longa. Entre shows e videoclipes do cantor, acompanhamos algumas entrevistas em que é questionado sobre a androginia e suas preferências artísticas, e Ney esclarece que suas escolhas são para sustentar um discurso coerente de defesa da liberdade. De ser o que quiser, de ser o que realmente é, o que é essência e intrínseco a cada pessoa. 

Embora se apresentem em formatos distintos e tragam abordagens diferentes, “Olho Nu” e “Ney à Flor da Pele” dialogam perfeitamente em estabelecer Ney Matogrosso como um artista brasileiro de vanguarda, como alguém que, a partir da ousadia, engrossou o caldo da discussão sobre sexualidade e liberdade, propondo uma transformação, um novo viés de se enxergar o mundo e as coisas.

 

Foto: Divulgação

 

Ficções

A Mostra Tributo a Ney Matogrosso conta com três ficções. Uma delas é “Ralé”, longa-metragem dirigido pela lendária Helena Ignez, que contracena com Ney no filme. Ele interpreta um barão ex-viciado em heroína que funda uma seita ligada aos rituais com ayahuasca, o chá sagrado do Santo Daime. Simultâneo a essa trama, o espectador acompanha a gravação e bastidores de um filme dentro do filme, intitulado “A Exibicionista”. A ideia de descolonização do imaginário é explorada em cada frame de “Ralé”, que flerta com a linguagem fluida e ensaística do cinema marginal dos anos 1970, do qual Ignez foi um dos nomes mais importantes.

O romântico curta “Depois de Tudo”, de Rafael Saar, se passa integralmente no apartamento de um casal gay sexagenário. Eles cozinham, assistem juntos a um clássico russo na televisão, mas as coisas acabam não sendo tão bem resolvidas como parecem. No filme, Ney divide a cena com o grande ator cearense Nildo Parente, falecido em 2011. “Depois de Tudo” foi um dos últimos trabalhos de Parente para o cinema.

Para fechar a maratona dedicada a Ney Matogrosso no Festival Mix Brasil 2021, no enigmático e experimental “Caramujo-Flor”, inspirado na obra de Manoel de Barros, Ney interpreta um de seus personagens, o Cabeludinho. Filmado no pantanal mato-grossense, o filme oferece uma experiência sensorial através de colagens visuais e sonoras que vão além da mera contemplação. O elenco reúne grandes nomes, como Aracy Balabanian e a cantora Tetê Espíndola. “Caramujo-Flor” consta na lista dos 100 melhores curtas-metragens brasileiros de todos os tempos, uma votação organizada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Confira a programação completa com as informações dos filmes do "Tributo a Ney Matogrosso" no site oficial do Festival Mix Brasil, acessando mixbrasil.org.br.

 

Serviço
29º Festival Mix Brasil - 11 a 21 de novembro
Tributo a Ney Matogrosso - Plataforma Sesc Digital
Assista em sesc.digital

 

* Elton Telles é jornalista, crítico de cinema e escreve para o CineSesc.