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Crédito, inadimplência e empreendedorismo

ABRAM SZAJMAN

(Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac)

Esta edição de Problemas Brasileiros traz um assunto de significativa importância para a economia do país. O tema é a ampliação da oferta de crédito, especificamente aquele que seria dirigido a parcelas menos favorecidas da população ou a pequenos empreendedores, pessoas que, geralmente pressionadas pelo desemprego, são levadas a iniciar negócios próprios.

A reportagem dá conta de que a atividade econômica está patinando, à espera de uma arrancada que parece distante e improvável. Principalmente porque a engrenagem dos negócios ficou presa em um círculo tristemente vicioso: não há crescimento porque não existe consumo, devido ao grande desemprego, e milhões de brasileiros não têm emprego porque a produção não se aquece…

O estímulo imaginado pelo governo foi o crédito popular, através de linhas de financiamento barato destinadas aos excluídos do setor financeiro. Iniciativa louvável, mas que ainda esbarra em sérias dificuldades. Por exemplo, uma das saídas foi o empréstimo com desconto em folha de pagamento, mas essa medida favorece somente quem está empregado. Para os desempregados, o mínimo que se exigiu foi uma conta bancária, mas essa condição inexiste para milhões de brasileiros.

Mais: um grande número de pessoas não consegue crédito porque está devendo na praça, ou seja, necessita de financiamento para pagar contas. São os inadimplentes, que procuram honrar compromissos fazendo novas dívidas, geralmente com agiotas, grandes fornecedores de crédito extremamente facilitado, mas a custos exorbitantes.

O objetivo de pagamento de dívidas parece ser, aliás, o grande entrave para a política de crédito barato. São recursos que não seguem diretamente para o consumo, muito menos para a instalação de um negócio, por menor que seja. Destinam-se tão-somente a engordar as contas bancárias dos agiotas, ou vão para o crediário das empresas comerciais, que por sua vez também enfrentam dificuldades para levantar empréstimos que façam girar seus estoques.

A questão, portanto, não é a falta de verbas, que as instituições financeiras, oficiais e privadas, disponibilizam. O problema é a condição do tomador de empréstimo, ou sua incapacidade de honrá-lo. São muito poucos, infelizmente, os que conseguem dinheiro para instalar um negócio qualquer, capaz de gerar recursos, empregos e a própria sustentação.

Esse assunto mereceu também, de certa forma, os comentários do economista Yoshiaki Nakano, registrados igualmente nesta edição. O ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, referindo-se à realidade macroeconômica do Brasil, afirmou, com todas as letras, que os fluxos financeiros somente podem contribuir para o desenvolvimento quando se destinam a criar, apoiar ou reforçar a base produtiva. Nakano condena o direcionamento preferencial dos recursos para o mercado financeiro, sem adicionar capacidade de produção, que é forma ideal de gerar emprego, renda e crescimento consolidado.

Por essas e por outras, a conclusão amarga é que a solução para a economia brasileira ainda parece distante. Acreditamos, porém, que a situação atual se deve a um esforço governamental de corrigir distorções macroeconômicas, controlar a inflação e assentar bases mais duradouras de desenvolvimento. O preço do ajuste evidentemente é alto e esperamos que tal esforço e os sacrifícios dele resultantes possam um dia valer a pena.

Isso somente estará comprovado quando o crédito – consignado, popular ou em qualquer de suas formas – passar a ser dirigido majoritariamente a iniciativas de empreendedores, sejam micro, pequenos ou médios. São eles que têm o poder de alavancar o crescimento da produção, do emprego e do consumo, recolocando o país no rumo certo.

 

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