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Entrevista

Juca Kfouri abraçou o jornalismo quase por acaso. Em 1970, ao terminar o curso de ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP), foi convidado a trabalhar no departamento de documentação da Editora Abril. Quatro anos depois assumiria a chefia de reportagem da revista Placar. A trajetória de sucesso acabou levando-o para outra vertente do mercado, à direção da revista Playboy. Mas a ascensão não parou aí. Virou comentarista da TV Globo e colunista dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo e atualmente apresenta o programa Cartão Verde, na TV Cultura. Conhecido pelas críticas ferrenhas que faz à cartolagem do futebol brasileiro, o que já lhe rendeu várias ameaças, Juca Kfouri falou com exclusividade à Revista E sobre o esvaziamento dos estádios brasileiros, sobre a permissividade da imprensa especializada e sobre a preocupante nova categoria de torcedor no Brasil: “Com o pay-per-view das televisões por assinatura, nós estamos criando a geração de torcedores de sofá”.

 

Sobre a polêmica em torno de empresas comprando times de futebol. Isso é bom ou é ruim para o esporte?

A transformação dos clubes de futebol em empresas é a única coisa que pode fazer com que o futebol brasileiro concorra de igual para igual com os centros mais avançados, como Itália, Espanha, Inglaterra e França. O futebol se transformou num negócio de tal magnitude que não pode mais ser gerido da maneira quase folclórica como era tempos atrás. Sempre se diz que o futebol tem uma gestão amadora e que isso não é mais possível hoje. Na verdade, no Brasil, o futebol não é mais amador. Essa classe dirigente que está aí hoje não é remunerada pelo clube, mas ela arruma maneiras de se remunerar. De forma pouco transparente. O que falta ao futebol brasileiro é dar um enfoque de capitalismo. A socialização da miséria obriga o Corinthians a jogar com a União Barbarense, por exemplo. Isso não tem sentido, só permite a sobrevivência dos campeonatos estaduais – que já morreram e só esqueceram de enterrar. E a própria torcida dá essa resposta se ausentando. Os estádios estão vazios. É o papo do ovo e da galinha: os estádios estão vazios porque os nossos ídolos estão lá fora ou os nossos ídolos estão lá fora porque os nossos estádios estão vazios? É claro que sempre se fala da comparação do que acontece aqui com o que ocorre na Europa, da diferença de desenvolvimento etc. É um fator, claro. Mas o problema é que o Brasil não perde mais apenas jogadores “provados” em Copas do Mundo, como aconteceu nos anos 80 com o Sócrates, o Júnior ou o Zico, que foram todos embora. Hoje o Diego faz uma boa temporada no Santos e tchau. Fora os casos que a gente nem chega a ficar sabendo, como o do Hélder, por exemplo, que eu nunca vi jogar aqui no Brasil. Um olheiro o viu lá no Paraná e de lá mesmo ele foi embora. Não tem concorrência, com o Manchester United querendo pagar 60 milhões de euros pelo Ronaldinho. Flamengo nenhum segura isso. Mas dá para pagar 8 milhões pelo Kaká. Não podemos esquecer que o futebol brasileiro tem alguns clubes com algumas das maiores torcidas do mundo, dada a magnitude da população brasileira. Por que a gente não consegue reverter isso a nosso favor? Por que o Brasil virou exportador de pé-de-obra? Por que o Brasil, em vez de vender o espetáculo, vende o artista? Pela má gestão. Como é que o futebol italiano fez a sua revolução nos anos 70? Era um futebol tão encalacrado quanto o nosso, por corrupção, dívidas na previdência, na receita etc. O governo italiano fez uma lei que suspendia o subsídio dado aos clubes e forçava-os a se tornarem empresas. Ao mesmo tempo, fez uma espécie de Proer [Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional] que beneficiava aqueles que mais rapidamente se organizavam empresarialmente, favorecendo o pagamento da dívida com o governo. Isso transformou os times italianos no que eles são hoje.

 

Está faltando uma legislação mais moderna ao Brasil?

Nós já temos, e ela é quase perfeita. Diria que das mais modernas. Aliás, essa história é ótima. Uma vez, conversando com o Gabriel Cohn [professor titular de teoria política da USP] sobre futebol, ele me disse que não acreditava em sociólogo no Brasil que não tivesse os fundilhos das calças puídos por arquibancada. Ou seja, o cara pode até não gostar de futebol, mas menosprezar a importância que o futebol tem no Brasil é não entender o País. Veja a Lei Pelé. Estamos falando da primeira gestão do Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 1998. Uma lei absolutamente moderna, que motivava os clubes a se transformar em empresas. Não os obrigava, mas induzia por meio de uma série de auxílios dados ao que o fizesse. Eu achava, e era minha luta, que isso deveria ser mesmo obrigatório. No entanto, existe um artigo na Constituição brasileira – 271, se não me engano – que diz que as entidades esportivas gozam de autonomia. A bancada da bola enfiou goela abaixo no Congresso o entendimento de que, se tem autonomia, não pode ser obrigado a fazer nada. Criou-se uma confusão entre autonomia e soberania. A universidade também tem autonomia, no entanto, o que o Estado legisla em relação à universidade deve ser cumprido. Só que veio o Maguito Vilela [senador do PMDB] e estuprou a Lei Pelé. De maneira cabal. A ponto de só recentemente, já no final do governo Fernando Henrique, ter sido possível recomeçarem as coisas. O Estatuto do Torcedor e a Lei da Valorização do Esporte foram as duas primeiras leis aprovadas no governo Lula. Uma delas diz que no estádio de futebol o torcedor tem o direito de sentar no lugar numerado. Coisa que a cartolagem dizia que não era possível, que não era da cultura do brasileiro etc. – com uma tremenda cara-de-pau. A gente argumentava dizendo que no teatro há lugares numerados, mas eles rebatiam que teatro não era parâmetro. Houve duas CPIs, uma na Câmara e a outra no Senado, que provaram uma série de coisas e pediram uma porção de inquéritos em relação à maioria da cartolagem brasileira – e hoje tudo isso está morrendo. O grande mérito das CPIs foi o de informar a sociedade que aquilo que alguns malucos da imprensa publicavam – tidos como ranhetas, ranzinzas, ou acusados de ter problemas pessoais com os cartolas – não era tanta maluquice assim.

 

A gente pode dizer que a população que vai ver futebol, nesse contexto, continua sendo enganada?

Continua. Num estado de absoluta letargia. Eu procuro às vezes olhar de forma mais otimista. O torcedor brasileiro simplesmente se abstém. Ele protesta pacífica e passivamente não indo mais ao estádio. Porque, quando vai, é tratado como gado. Ou você compra no câmbio negro, junto com o estacionamento, ou é uma desgraça. O desestímulo para ir ao campo é grande. Com a contrapartida do pay-per-view das televisões por assinatura, nós estamos criando a geração de torcedores de sofá. Eu vejo aqui em casa mesmo. Meus dois filhos mais velhos, que têm por volta de 30 anos, se lembram dos vários jogos a que foram comigo. Já meu filho de 14 anos foi três vezes, e em jogo pequeno, de uma torcida só. Outro dia me propôs de a gente ir ao jogo do Palmeiras contra o Corinthians, depois me perguntou se iria passar no pay-per-view. Como sempre, ia. Aí ele desistiu de ir ao estádio. Eu disse que era muito melhor no estádio, mas ele respondeu que estava com medo. Um moleque de 14 anos ter esse tipo de preocupação! E o que é pior é que ele não vai levar os filhos dele ao campo. Os outros dois vão, porque foram comigo. Mas a memória que o Felipe [o filho de 14] tem de futebol é ver comigo o jogo no sofá.

 

O esporte e o lazer podem aliviar as tensões sociais?

Está na Constituição brasileira que o cidadão tem direito à prática esportiva. Qual é a função do Estado num País em desenvolvimento, com todas as carências que a gente tem? É atender ao esporte de alto rendimento ou é a democratização do acesso ao esporte? É óbvio que é a inclusão social por meio do esporte, dar possibilidade de esporte para crianças e adolescentes, acessibilidade para o deficiente físico, e pensar o esporte como forma de lazer e de promoção da saúde. No Brasil, o Ministério da Saúde é, na verdade, o ministério da doença. Está sempre correndo atrás. Mais leito, mais médico, mais hospital. O Ministério da Saúde deveria ser o do esporte. É no que você tem a condição de fazer a prevenção, de tornar a população mais saudável. Mas isso até hoje não foi posto em prática. A exemplo do que se diz, de que o Brasil na verdade nunca teve uma política industrial, o Brasil jamais teve uma política esportiva. E continua sem ter. Um dos pilares do projeto que a gente entregou para o presidente Lula são as tais caravanas do esporte. Fizeram agora uma, duas semanas atrás, para Santarém. Um grupo de esportistas, das mais variadas formações, vai para uma comunidade carente, passa lá uma semana, ensinando práticas esportivas, noções básicas de higiene etc., e deixam um trabalho monitorado por algum estudante ou professor de educação física. É uma coisa com uma capilaridade óbvia. Eu sei de cabeça. Nessa primeira caravana estavam o Sócrates, o Afonsinho, a Fernanda Keller e a Ana Moser. Foram oito ou dez esportistas pelos quais as pessoas têm verdadeira adoração. Imagine essa gente chegando a Santarém. Imagine, dando uma clínica de tênis, ensinando as regras básicas de vôlei, envolvendo os profissionais de educação física e nutricionismo. A custo baixíssimo. E quem está pagando isso é a iniciativa privada. Estão com apoio da Peugeot, da Vivo. Vão fazer em dez cidades brasileiras neste ano.

 

As pessoas usam o esporte como se fosse o bálsamo de todos os pecados, que afasta das drogas, da criminalidade etc. Você acha que a imprensa trata essa relação com clareza?

É a coisa do politicamente correto, mas também não é assim. É claro que o esporte ajuda a manter a pessoa longe de vícios, se ela tem a mínima preocupação com o corpo. Mas, por outro lado, o maior esforço hoje no mundo do esporte é o controle do doping, dadas as infinitas técnicas de dopagem existentes atualmente. E o que é o doping senão uma droga poderosíssima, terrível, e que mata as pessoas cedo? Acabou de sair um livro interessantíssimo, escrito por um jornalista norte-americano, o Franklin Foer, que trata de como o futebol explica o mundo [Como o Futebol Explica o Mundo – Um Olhar Inesperado sobre a Globalização,  Jorge Zahar Editor, 2005, 224 p.]. Um ensaio para entender a globalização. Esse cara vai à ex-Iugoslávia e à Inglaterra para entender o fenômeno das torcidas organizadas, do hooliganismo [de hooligans, torcida inglesa conhecida pelo comportamento altamente violento]. De acordo com o autor, os Estados Unidos são um país que começou a gostar de futebol como uma reação dos progressistas à violência inerente à maior parte dos esportes de massa praticados lá. Ele vai à Itália para mostrar de que maneira, por intermédio do Milan, o Berlusconi tenta seduzir a mídia e como, no caso do Juventus, a Fiat tenta corromper a arbitragem. E vem ao Brasil para mostrar como o futebol tem uma porção feia. E revela a face do Ricardo Teixeira e do Eurico Miranda. Ou seja, ele vai aparentemente aos lugares certos para explicar cada um dos fenômenos da globalização. E aqui ele vem para ver corrupção. Isso tem uma relação direta com a nossa mídia. Esse é o problema. A promiscuidade que se dá entre a mídia brasileira com a cartolagem no futebol. A confusão entre cobrir e ser sócio. É o que a própria televisão faz.

 

E isso vem dos chamados donos da mídia mesmo ou seria um vício da reportagem esportiva no Brasil?

De certa maneira isso remonta aos velhos tempos de Assis Chateaubriand. Hoje, em alguns veículos, o jornalista não tem condição de chegar para o dono do veículo e dizer “espera aí, estamos cobrindo mal tal coisa”, porque o cara vai dizer para ele “companheiro, vamos fazer uma coisa: você não atrapalha os meus negócios e eu não atrapalho os seus”. Hoje a relação se dá muito nesses termos. De um negociante para outro negociante. O cara é garoto-propaganda de uma porção de marcas. Ele não denuncia uma eventual mazela de um patrocinador dele. Como é que ele vai exigir, em nome da isenção, que o dono do veículo faça o mesmo em relação a um protegido dele? Fica complicado. É coisa de cronometrar. É só pegar os programas dominicais e ver: tem mais merchandising do que publicidade. A mim parece evidente que eu não posso ser colunista econômico e fazer propaganda de um banco. Tem gente que diz que os jornalistas têm de fazer isso porque os salários estão muito baixos. Bom, então vamos assaltar banco. Vamos resolver a questão salarial do jornalista. Isso não é uma justificativa.

 

O impacto da mídia em relação a uma celebridade é maior do que era, por exemplo, nos anos 60, com o Garrincha etc.?

Eu fico muito curioso em saber como a mídia reagiria a um Garrincha hoje. E mais: como um Garrincha reagiria à cobertura da mídia de hoje em dia. Eu tenho para mim o seguinte: é muito comum você ouvir dizer que alguns ídolos do futebol são frutos da mídia. Já cansamos de ouvir isso do Zico lá no Rio de Janeiro. O Galinho [apelido de Zico] teve de jogar em time de segunda na Itália e ficar um gol atrás do Pratini, que jogava no Juventus, no campeonato italiano, para que reconhecessem que ele realmente era bom. Aqui em São Paulo é mesma coisa. Vamos pegar um caso que eu acho exemplar: o Edmundo. Com a origem que teve, com as dificuldades que teve, com a rápida ascensão, virou o que virou e foi tratado com incompreensão o tempo todo. Não é questão de dizer que precisava passar a mão na cabeça dele. Mas a incompreensão, a animosidade era total. Eu lembro de uma vez que a gente fez uma capa para o relançamento da Placar que dizia “O animal precisa de carinho”. E ele aparecia com um ursinho de pelúcia no colo. Não entender o Edmundo como um fenômeno brasileiro dá a medida da cegueira e do interesse mais rasteiro. Se ele fosse um cara conformado, fosse um cara que jogasse o jogo da indústria, ele seria tratado de um jeito diferente. É a coisa do bad boy [menino mau, em inglês]. E aí a imprensa acaba tendo um caráter que não é moralizador, mas é moralista. Essa, por sinal, é uma das grandes confusões feitas no Brasil: confundir moralidade com moralismo. Isso explica muita coisa. Como é que um cara que hoje anuncia uma cerveja e amanhã anuncia outra pode ir para a televisão e dizer que o jogador de futebol não tem mais amor à camisa?

 

E fica difícil de explicar isso, não?

Isso. Uma coisa que até hoje as nossas maiores autoridades não entenderam, ou entenderam e agem por gosto, sabem o que estão fazendo, é que a maioria da população de qualquer país do mundo nunca tem contato com a justiça. Passa a vida inteira sem entrar no fórum, sem ser chamada para depor. Nem como testemunha. Meu pai já dizia isso. O futebol no Brasil é uma área que dá permanentemente ao torcedor uma relação com conceitos de justiça. Quando um jogador vê seu time ser julgado, ser objeto de alguma questão na justiça esportiva, e vê pessoas como o Eurico Miranda entrar em campo, peitando o árbitro, sem que aconteça nada com ninguém, é claro que ele vai dizer: “Por que eu vou ter de me comportar bem? Por que eu não vou jogar coisa no gramado? Se o deputado fez isso, por que eu não posso fazer? Por que eu vou respeitar sinal vermelho? Ou não vou jogar papel no chão?” Isso serve pra tudo. “Por que eu vou pagar imposto de renda se a CPI mostrou tudo que mostrou da cartolagem brasileira, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação, o diabo a quatro, e nenhum desses caras foi punido?” A dona da maior rede de hotéis dos Estados Unidos é presa por sonegação e vai para a cadeia. A dona do programa de economia mais badalado é denunciada por informação privilegiada e vai para a cadeia. E paga uma baita multa. O cidadão comum, então, passa a pensar que compensa fazer as coisas direito. Porque, se pegaram um peixe grande, imagine eu. Ele passa a pensar que se fizer tudo direito, ninguém o pega.

Passado tantos anos, o que dá para dizer sobre a tal democracia corintiana?

Aquilo era uma coisa séria. O homem e suas circunstâncias e as coincidências históricas. Fez com que, num determinado momento, um clube de massa que estava por baixo, no equivalente à segunda divisão no campeonato brasileiro, tivesse um dirigente jovem, saído da escola de sociologia, sem nenhuma experiência no mundo do futebol, mas com idéias arejadas: Adilson Monteiro Alves. Depois ele se perdeu, mas teve uma importância ímpar. Tinha ainda uma figura como o Sócrates. Médico, com a cabeça arejada também, libertário, revoltado com os padrões de certas pessoas do futebol – como não poder dormir com a esposa antes do dia do jogo. Tinha um moleque como o Casagrande, que era um louco, anarquista, mas cheio de vida e inteligente. E esses caras disseram que só havia um jeito de tentar reerguer o Corinthians: propor uma experiência inovadora. E mobilizar as pessoas em torno disso. Aliado à qualidade técnica de alguns deles, que tinham autoridade moral para chegar na torcida e dizer: “O Corinthians perde porque vai no grito dos torcedores e se desguarnece lá atrás; deixa com a gente que a gente vai ficar tocando bola e o gol surge naturalmente”. A torcida olhou muito desconfiada no começo. E a maioria era contra. A mídia era contra. Quem era a favor da democracia corintiana? O Osmar Santos, a revista Placar e um ou dois jornalistas do Jornal da Tarde. O time começou a ganhar. A torcida começou a ver que era verdade, que o gol surgia naturalmente. É uma conquista inquestionável o que o Sócrates conseguiu fazer. Os torcedores foram no ritmo dele em vez de o Sócrates ir no ritmo da torcida. O Sócrates jogava dez ou 15 minutos e decidia o jogo. Genialmente. Nunca foi um atleta. E começou a desmascarar toda a hipocrisia. Em vez de ele sair do treino e ir para casa tomar cerveja, como todo jogador faz, optava por ir beber no Bar da Torre, no Parque São Jorge. E todo mundo via. E questionava: “Não é possível jogador de futebol tomando cerveja”. Na quarta-feira ganhava de novo. “Vai ver, cerveja não faz mal a jogador de futebol.” Junto a isso, o começo do movimento das diretas, cujo porta-voz maior, midiaticamente, era o locutor de futebol, o Osmar Santos. Junto com a Rita Lee, que era corintiana. Isso tudo permitiu aqueles dois anos de democracia corintiana, que se esvaíram entre os dedos, tão logo aquelas pessoas saíram. Não ficou rigorosamente nada, a não ser uma história bonita para contar.

 

Dada a força do atraso da estrutura.

A ponto de, dois anos depois, o Adilson ter perdido a eleição no Corinthians. Até mesmo, não conseguiu se eleger para a presidência. E a Gaviões da Fiel foi lá, quis invadir, bater. Porque a estrutura estava montada para eleger o cara que foi eleito, o Roberto Páscoa. Que era uma múmia. O estatuto dos clubes está voltado para fazer essa gente. Conselheiro vitalício, o presidente nomeia. Você faz o seu colégio eleitoral. Se pegar o estatuto do Palmeiras para ler, você não acredita. No século 21, num País que vive democraticamente desde 1985, alguém teve coragem de escrever um artigo que diz que o sócio do Palmeiras que for pego dentro do clube fazendo críticas à diretoria é passível de suspensão e até expulsão. Já expulsaram. Não está implícito. Está escrito.

Fotos: Adriana Vichi