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O crescimento do mercado interno

ABRAM SZAJMAN
(Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac)

Os jornais noticiaram no início deste mês de março, com certo alarde, que a economia brasileira apresentou crescimento de 5,2% em 2004. A informação, que tem por base levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), provocou comentários otimistas em vários setores. Segundo algumas opiniões, seria a primeira prova de que a recuperação verificada no começo do ano passado é real e rebate a crítica de que seria apenas um vôo de galinha.

Com efeito, não é preciso muito conhecimento ornitológico para saber que um galináceo não foi dotado pela natureza com a capacidade de voar mais que alguns segundos ou poucos metros. Também não é necessário ser economista para constatar que o vôo da economia, pelo menos por ora, mostra sinais de consistência que não se viam há um bom tempo no Brasil. Segundo o ministro Antonio Palocci, trata-se do êxito de uma política econômica equilibrada e de um controle fiscal adequado. Situação que todos esperamos se mantenha daqui para a frente.

É claro que aquele indicador de 5,2% deve ser visto com certa reserva, pois a base de comparação, o ano de 2003, foi um período de vacas magras, marcado por um pífio crescimento de 0,5%.

De qualquer forma, é uma boa notícia, que nos anima mais ainda quando se observa que a maior contribuição veio do mercado interno, ou seja, do consumo, que cresceu 4,1%, superando até os números das exportações. Um sinal de que o nível de emprego e da massa salarial também vem respondendo bem às expectativas, fazendo com que as pessoas, mais otimistas, voltem às compras e façam a economia girar com a rapidez necessária para um crescimento sadio - estimuladas inclusive pela alta do nível de crédito, que, ainda segundo o IBGE e no caso das pessoas físicas, apresentou elevação de 22,2%.

Outra informação animadora diz respeito à balança comercial, que pela primeira vez na história ultrapassou US$ 100 bilhões nos 12 meses terminados em fevereiro de 2004. Somente no primeiro bimestre desse ano o crescimento das exportações foi de 33,9% em relação a igual período do ano anterior. Um avanço importante, pois, além de calçar nossas reservas, injeta ânimo na confiança dos investidores internacionais, favorece a negociação da dívida e reduz a vulnerabilidade externa do Brasil.

Os investimentos industriais e a esperança de que as parcerias público-privadas atinjam o objetivo de equipar o Brasil da infra-estrutura de que precisa reforçam o otimismo.

Disponibilidade de crédito e aumento do número de empregos, com a conseqüente alta da massa salarial, são itens consagrados de uma velha receita de crescimento. É o círculo virtuoso dos salários alimentando o consumo, que estimula a produção, que amplia as ofertas de trabalho.

É bom lembrar, porém, que nem tudo são flores, pois permanecem em plena vigência certas condições indesejadas, como as altas taxas de juros, as dificuldades no caminho dos empreendedores e a exagerada carga tributária. São realidades que, por seu peso específico, ameaçam a estabilidade do vôo da economia.

Acreditamos que há espaço de manobra para reduzir os juros e conter os impostos em níveis condizentes com a justiça fiscal. Mas sobretudo defendemos que a iniciativa de criar empresas e a liberdade para produzir sejam incentivadas, apoiadas e liberadas de toda a burocracia que vem transformando possíveis empreendedores em ativos protagonistas do mercado informal.

Se com esses problemas o mercado interno apresentou números que favoreceram o PIB, imagine-se se a quantidade de empresas, micro e pequenas principalmente, fosse multiplicada infinitamente, como ocorre com os ambulantes. Por certo ninguém mais ousaria falar em vôo de galinha.

 

 

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