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Vivendo bem a velhice

Regina Célia Sodré Ribeiro

Vivemos uma década marcada por significativas considerações e estudos sobre o envelhecimento.
Muito se faz em prol do idoso. Precisamos urgente de uma política social para implementar uma série de propostas, provenientes de todos os setores, ou seja, do público, do privado e do terceiro setor.Dados estatísticos revelam-nos um panorama surpreendente de um Brasil que até poucos anos atrás se julgava jovem. De 1980 até os nossos dias a população idosa aumentou cerca de 53%, e a projeção para o ano 2020 é passar de sete para vinte milhões de idosos.
Esperar dos poderes públicos todas as medidas para melhorar a qualidade de vida de tantos idosos é, em primeiro lugar, utopia e, em segundo e mais importante, abrir mão do nosso direito ao exercício da cidadania.É ingenuidade considerar que só os idosos devam lutar por seus direitos. É deixar o próprio futuro nas mãos de outros.
Participar é a palavra-chave. Participar conscientemente de todos os atos, movimentos, reflexões e discussões de nossa vida diária.Registros de inúmeras queixas por parte de idosos em relação à saúde, à violência, a maus-tratos, ao relacionamento familiar, entre outras, alertam-nos para as mudanças essenciais que podem ocorrer nesse período da vida. As causas são diversas: a síndrome do ninho vazio – com a saída dos filhos de casa –, a aposentadoria sem preparo, a separação do cônjuge, a viuvez, o aparecimento de alguma doença grave ou a invalidez.As manifestações psicossociais, geradas pelas causas citadas e aliadas à proximidade da finitude da vida, podem significar perda de auto-estima, sentimento de angústia, solidão e até depressão.
Ao dizer "antes prevenir do que remediar" estamos falando de ações fundamentadas numa previsão de possíveis conseqüências.
As questões negativas e positivas do envelhecimento estão intimamente ligadas ao tipo de atenção que o indivíduo dispensa a si mesmo. Ao deparar com um idoso alegre, bem-humorado e sorridente, podemos afirmar que ele constantemente é assim. Quando observamos um avarento, podemos deduzir que ele sempre fez muitas economias na vida.
Existem muitos octogenários vivendo ativamente, como artistas, governantes, cientistas, médicos etc., embora alguns convivam com limitações de audição, de visão ou de locomoção motora. Nesses exemplos é que nossa meta deve ser buscada: viver bastante e com qualidade.
Nesse sentido identificamos hoje muitas condições positivas e favoráveis: a medicina avança velozmente em direção à cura de doenças como o câncer e a AIDS; avanços e aperfeiçoamentos em áreas terapêuticas e preventivas apontam para uma longevidade mais saudável, terapias firmam-se como medidas eficientes na melhora do estado geral dos idosos.
A conscientização do processo de envelhecimento e o autocondicionamento para aproveitar melhor essa fase da vida são fatores determinantes para garantir anos de vida mais saudáveis e duradouros.
Os diversos movimentos de grupos de idosos, surgidos em nossa sociedade, ganharam nesta última década uma dimensão política e reivindicatória. Hoje eles já sabem que são uma grande força política no panorama nacional.As pessoas idosas têm percebido a importância de refletir sobre suas próprias vidas, de reanimar interesses e expectativas, e ainda de redimensionar sua participação social.
Em breve, a sociedade presenciará uma revolução de valores no que se refere à terceira idade, e uma aposentadoria e um tratamento dignos serão consequência direta do exercício mais consciente da cidadania.

Regina Célia Sodré Ribeiro é psicóloga e técnica do Sesc