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A voz da periferia

Há dez anos, o Brasil perdia prematuramente um grande artista, Chico Science, o principal articulador do movimento Mangue Beat. Com a fusão de gêneros que criou, ele conquistaria admiradores em várias partes do mundo, e sua música ainda hoje desperta o interesse de pesquisadores dentro e fora do país. Irrequieto e criativo, Science tanto abriu caminho à expressão dos jovens da periferia do Recife, quanto ajudou a divulgar grupos da cultura popular tradicional. A reportagem de capa deste número conta um pouco dessa história, que continua a repercutir na capital pernambucana.

Apresentamos também duas matérias, com assuntos inter-relacionados, que tratam da política brasileira de comércio exterior. A primeira aborda as evidentes dificuldades para aumentar as exportações de produtos de maior valor agregado. Na comparação com seus principais concorrentes, Índia e China, o país apresenta algumas supostas vantagens, em termos de condições climáticas e qualidade do solo, ou mesmo devido à existência de um idioma único, das quais, no entanto, não consegue tirar proveito efetivo. A causa fundamental desse fenômeno, segundo os especialistas, é a falta de um projeto de inserção no mercado globalizado.

Já a segunda matéria enfoca as iniciativas do Brasil para tentar barrar a entrada de produtos estrangeiros por meio de mecanismos de proteção comercial. De acordo com levantamento feito pela Organização Mundial do Comércio, o país está entre aqueles que mais têm lançado mão de medidas antidumping para proteger seu mercado interno, ainda que sem sucesso, uma vez que as importações continuam a crescer.

O comércio exterior está também presente em uma terceira reportagem, esta relacionada à infra-estrutura. As hidrovias, que mereceriam receber pelo menos parte da atenção que se dedicou, por décadas, ao transporte rodoviário, oferecem vantagens insuperáveis de custo, mas faltam investimentos que ampliem a navegabilidade dos rios, que o país tem em grande abundância. Produtos como soja, minérios e álcool seriam os itens exportáveis mais favorecidos.

Por fim, mostramos uma realidade bastante controversa, que suscita opiniões extremas: o infanticídio nas aldeias indígenas brasileiras. Para grande número de pessoas, essa situação é absolutamente inaceitável. Para outras tantas, trata-se de uma herança cultural que deve ser respeitada, porque qualquer interferência talvez resulte em prejuízo ainda maior. Seja como for, parece válido imaginar como o índio vê o tratamento desumano que muitas crianças recebem em nossa sociedade.

Abram Szajman
Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac