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Quinze anos


Em julho de 1994 chegava às unidades do Sesc São Paulo a Revisa E, hoje referência para leitores e intelectuais quando o assunto é cultura, esporte, lazer e cidadania
 

 
A Revista E, publicação que mensalmente chega às unidades do Sesc São Paulo da capital e do interior, completa, em 2009, 15 anos de existência. São 180 números ao longo dos quais ela vem levando, aos profissionais do comércio e serviços e aos demais frequentadores do Sesc, assuntos ligados à cultura, esporte, lazer e cidadania, ou seja, as principais áreas de atuação da instituição. A acolhida do público é comprovadamente calorosa: os 50 mil exemplares de tiragem mensal costumam deixar rapidamente os balcões das recepções.

Esses 15 anos de existência reiteram a principal vocação da revista: ser o veículo institucional do Sesc São Paulo para divulgar as ações que promove. No mesmo sentido, repercute e ressalta a programação de todas as unidades, servindo como uma ponte sólida entre o público e a instituição. “A Revista E nasceu como um instrumento de divulgação da programação do Sesc”, explica Erivelto Busto Garcia, que foi coordenador editorial da revista durante dez anos. Na sua opinião, a publicação funcionou e ainda funciona como agente unificador das informações dispersas pelas unidades. “Também serve para padronizar a própria imagem do Sesc diante do público, num processo complementar à programação multivariada oferecida pela instituição”, afirma.

No entanto, nem só de serviços vive a revista. O conteúdo oferecido todo mês aos seus leitores abarca uma grande gama de assuntos. “A Revista E é também uma forma de a instituição abrir suas portas para visões externas, de intelectuais, artistas, e animadores culturais, que o Sesc traz para as páginas da publicação, além das matérias de interesse de seu público frequentador, chanceladas pela visão da instituição”, conclui Erivelto.

Nesse sentido, dá como exemplo a reportagem Contraste urbano, publicada na edição de novembro de 2000, que aborda a vida cotidiana e aspectos ecológicos no extremo sul da capital paulista, mais especificamente no bairro de Marsilac, quando a revista revelou uma São Paulo desconhecida de grande parte dos próprios moradores.

Pluralidade

Outra característica da publicação é o diferencial do conteúdo. “Afinal, que outra revista traz um conto inédito todos os meses?”, exemplifica Erivelto, referindo-se à seção Ficção Inédita, uma prova de que a revista sempre caminhou pari passu com a criação literária, abrindo espaço a novos talentos ou presenteando os leitores com textos de figuras consagradas. O escritor Ivan Ângelo foi o primeiro autor a aparecer na seção, com o conto Uma Situação Delicada, publicado na edição de outubro de 1994. Quinze anos depois da estreia, ele se espanta com o fato: “Acho que o tempo passa mais rápido para uns do que para outros”, graceja. O escritor confessa ser um leitor assíduo da E e ressalta o papel da revista na antecipação de temas que só receberão atenção da grande mídia mais tarde. Ivan cita assuntos relacionados à ecologia, meio ambiente e violência que repercutiram antes na revista.

No que diz respeito à área em que milita, o autor comenta a posição de destaque da revista. “Em relação ao panorama literário, a Revista E é um grande veículo, pois publica vários autores importantes e muitos em início de carreira. Estes sempre dependem de publicações desvinculadas do mercado, que já têm seus próprios recursos e buscam seus assuntos dentro do entretenimento. Por seu turno, a Revista E ?tem uma visão menos imediatista, por isso pode publicar gente nova.”

De fato, a visibilidade proporcionada pela revista serve como um impulso considerável na carreira dos neófitos. O escritor André Sant’Anna, por exemplo, viveu de perto essa experiência. Se atualmente ele tem uma carreira literária sólida, no final dos anos de 1990, quando teve um trabalho publicado na E, ainda era um autor desconhecido, mas promissor, tateando os meandros do ofício. “Tenho uma história curiosa com a Revista E: ela foi o primeiro lugar onde apareci como escritor, numa matéria em que fui entrevistado”, diz. Algumas edições mais tarde, em agosto de 2000, o conto Minhas Memórias foi publicado. André diz que esse trabalho foi o ponto de origem para um livro lançado no ano passado, chamado Sexo e Amizade. “Esses dois momentos importantes na minha vida literária estão ligados à revista.”

O crítico literário Fábio Lucas ratifica a opinião de André Sant’Anna. “Mensalmente eu aguardo a chegada da revista”, declara. “Ela tem um padrão exclusivo ?de informação literária. De um lado, permite que obras de criação sejam expostas e ilustradas com muito bom gosto. Por outro lado, não é uma revista passadista, porque a todo momento encontro autores novos a quem é dada a liberdade de exprimir suas descobertas ou ansiedades.”

Informação

Ao lado dos aspectos literários, Fábio Lucas faz menção a outra característica da publicação: a abertura de suas páginas ao debate intelectual sobre temas candentes da realidade nacional e internacional, contemplados na seção Em Pauta. Segundo o crítico, trata-se de um espaço privilegiado. “Um leitor curioso contará com personalidades de grande vulto intelectual informando suas posições a respeito de problemas emergentes”, informa. “A difusão de assuntos de interesse cultural e acadêmico, que não necessariamente perfazem os temas privilegiados da grande mídia, é preocupação constante da revista”, afirma o superintendente de comunicação Ivan Paulo Giannini. “A revista se constitui em importante veículo educativo para nossa clientela que, à procura de serviços, encontra informação”, analisa Giannini.

Alheia a interesses mercadológicos e comerciais, a Revista E pode pautar matérias e articulistas de acordo com objetivos menos imediatistas, porém de concepção mais complexa, como informa a professora titular de literatura brasileira da Universidade de São Paulo (USP) Walnice Nogueira Galvão. “A Revista E tem um papel fundamental na interação de ideias produzidas pela academia com um público não especializado”, diz. “Essa postura está inserida no trabalho geral que o Sesc desenvolve em várias áreas do conhecimento, levando informações relevantes e ações de grande qualidade para a comunidade.” O filósofo Renato Janine Ribeiro, também professor titular da USP, concorda com a colega de academia. “O Sesc galvaniza um público muito interessado em cultura e em atividades físicas”, comenta o professor, afirmando ainda que a Revista E faz parte dessa ação holística desenvolvida pela instituição. “A revista tem trazido para todos uma contribuição bastante rica e que permite às pessoas acesso cada vez maior ao conhecimento.” Para Janine Ribeiro, o Sesc tem uma “vocação pública”, e a Revista E está integrada nesse contexto. Para finalizar, o filósofo define em termos filosóficos o lugar da publicação. Para ele, o material publicado está longe do trivial. Em termos precisos, isso significa dizer não apenas algo que está fora do comum, do simples, do ordinário. “O não trivial significa aquilo que é muito desejável”, conclui.

 

“Agora há um recurso no computador que, quando acha que alguma coisa no texto está errada, recusa e sugere. Eu vou lá aceitar sugestão de computador?”
O escritor Ariano Suassuna, em depoimento, junho de 2002

 

“O importante é desenvolver a criatividade das crianças. Por exemplo, musicalizando o quarto onde elas se reúnem, improvisando com materiais que desenvolvem os sentidos”
O compositor Koellreuter (1915-2005), em entrevista, março de 1996

 

“Eu fiz o que pude. Meu pai não pôde fazer isso, ficou louco. Eu pude. Minha mãe me contou que, quando eu nasci, ao saber que eu era uma menina, ele disse: ‘Que azar!’”
A escritora Hilda Hilst (1930-2004), em depoimento, fevereiro de 2001

 


“É preciso que se valorize a pessoa. A promoção humana, pessoal. A pessoa precisa crescer. Não basta apenas o conhecimento científico”
A médica e sanitarista Zilda Arns, em entrevista, dezembro de 1999

 


“A globalização cultural a que assistimos, no fundo, representa uma globalização financeira, que vai contra os interesses do país e de sua gente”
O geógrafo Aziz Ab’Sáber, em entrevista, junho de 2001

 


“Como os pobres são muito mais sagazes e sabem que não podem contar com ninguém, são obrigados a ter atitudes de alerta todos os dias. Eles vão refazer o país”
O geógrafo Milton Santos (1926-2001), em entrevista, julho de 1998

 

“O futebol de vinte anos atrás, além de ser melhor, respeitava muito mais o público”
O ex-jogador de futebol Sócrates, em entrevista, abril de 1998

 

“Um bom conhecimento é capaz de apreender (captar) a complexidade daquilo que se passa, além de situar as informações num contexto, considerando os fenômenos globais”
O filósofo Edgar Morin, em entrevista, outubro de 1999

 

“As pessoas precisam saber o que é arte”
O diretor de Antunes Filho, em entrevista, fevereiro de 2002

 

“Cabral [João Cabral de Melo Neto] é mais rigoroso, mais radical, jamais deixa a peteca cair, já Drummond [Carlos Drummond de Andrade] é mais indulgente, mais sentimental, sobretudo quando, em sua poesia, aflora o cronista das amenidades da vida”
O poeta Haroldo de Campos (1929-2003), em entrevista, abril de 2003

 

“Nosso país é muito carente de informações culturais. É possível encontrar, atualmente, pessoas de muito bom nível financeiro (...), mas que não têm conhecimento nenhum sobre o que são as artes plásticas”
O artista plástico Thomaz Ianelli (1932-2001), em depoimento, janeiro de 2001

 

“O meio ambiente se refere sempre a um estado saudável da vida, à melhoria de seu padrão cultural, com reflexos nos relacionamentos humanos, na criação de novos valores”
A ambientalista e senadora Marina Silva, em entrevista, agosto de 1995

 

“Quanto às virtudes da natureza humana, defendo uma tese que não pode ser contrariada, não porque seja minha, mas porque corresponde às evidências: o ser humano é o único ser cruel que existe no planeta”
O escritor José Saramago, em depoimento, janeiro de 2001