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É difícil estabelecer um marco inicial para a prática do turismo, mas sem dúvida a sua história remonta, no mínimo, à Idade Antiga. Na Grécia, por exemplo, dava-se muita importância ao ócio e ao tempo livre, utilizados para deslocamentos em busca de cultura e principalmente para assistir aos jogos olímpicos.

O Império Romano, durante um período de prosperidade econômica, também foi marcado por passeios, inclusive através das idas aos grandes teatros. Séculos mais tarde, passando pela Idade Média e as suas peregrinações religiosas, até as possibilidades pós-modernas de passeios turísticos pelo espaço, o turismo sempre esteve muito ligado à questão do deslocamento e ao conceito de viajar, muitas vezes remetendo aos aviões ou grandes transatlânticos.

A própria Organização Mundial de Turismo (OMT) – órgão especializado da Organização das Nações Unidas (ONU) – aponta para essa relação ao definir turismo como “as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos daqueles onde vivem”.

No entanto, a turismologia – no Brasil, os primeiros cursos superiores na área surgiram somente a partir da década de 1970 – tem refletido a respeito das atividades de lazer que não necessariamente envolvem deslocamentos, mas que, por suas possibilidades sensoriais, são de alguma forma turísticas. Nesse sentido, o Sesc São Paulo desenvolve o seu Programa de Turismo Social desde 1948, contribuindo para esse debate e propondo atividades para o paulistano dentro da sua cidade.

“Trabalhamos um pouco nessa contramão de que é possível fazer turismo na sua própria cidade, e muitas empresas têm percebido as possibilidades desse segmento”, afirma a assistente da Gerência de Programas Socioeducativos (Gepse) do Sesc São Paulo Denise Miréle Kieling. Assim, a formação de um novo olhar sobre a metrópole tem sido um dos desafios de um espaço urbano marcado, principalmente, pela heterogeneidade. “O turismo é completamente experimental e a vivência que ele proporciona faz com que a pessoa saia transformada através de uma imersão sensorial”, reflete Denise. 

Desde 1996, o Sesc promove passeios em São Paulo destinados aos moradores da cidade, convidados a enxergar as múltiplas possibilidades da metrópole, tanto por meio de roteiros inusitados (veja boxe São Paulo Desconhecida) como a partir de propostas diferenciadas que buscam sempre agregar conhecimento ao turista. “Uma das contribuições do Sesc à cidade é fazer com que ela se debruce sobre si mesma.

É claro que o gigantismo de São Paulo coloca limites ao conhecimento da metrópole, mas não é que o paulistano conheça pouco a cidade, e sim que não pratica lazer com a potencialidade que ela oferece”, esclarece o professor Paulo Garcez Marins, historiador e docente do Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

Além da preocupação em utilizar plenamente o espaço urbano, o Turismo Social do Sesc, através de seu Programa “Por perto de São Paulo”, propõe um olhar investigativo sobre a cidade, com um viés educacional. “Pensamos o turismo como formação, tendo a cidadania como princípio norteador, mas sempre também dentro de uma perspectiva lúdica, prazerosa, que desperte algo nas pessoas”, detalha Denise.

O turismo na cidade de São Paulo possui também uma historiografia muito ligada aos seus sucessivos processos migratórios. “Do ponto de vista de uma aproximação turística da cidade, há duas características fundamentais: a diversidade de grupos étnicos que se estabeleceram aqui e essa prática recorrente de compartilhamento das suas especificidades culturais no cotidiano”, explica Paulo Garcez.

Portanto, outro potencial da atividade turística diz respeito às possibilidades de integração de costumes e culturas, promovendo a troca e o entendimento entre os povos. Desde 1996, o Sesc São Paulo participa das comemorações do Dia Internacional do Turismo (veja boxe Virado à paulista), celebrado no dia 27 de setembro e que, neste ano, em sua 32ª edição, traz justamente como tema “Turismo: Conectando Culturas”.

É essa a vertente social do turismo, que, além de entendê-lo como atividade inclusiva, propõe um tipo de deslocamento que busca a experimentação, através da fruição da cultura, da solidariedade e das paisagens não apenas físicas, mas também humanas.


São Paulo desconhecida

Roteiros oferecem um novo olhar sobre a metrópole

São Paulo Inesperada: Área de Proteção Ambiental Bororé-Colônia (Sesc Consolação): passeio por uma região, no extremo sul do município de São Paulo, que ainda tem áreas de floresta atlântica intocada. Destaque para a ilha de Bororé e a cultura dos índios guarani da aldeia Tenondé Porã. Veja também o Almanaque desta edição na página 81.


Sons da Cidade (Sesc Pinheiros): Roteiro que aborda a história de São Paulo a partir da vivência de seu universo musical. Serão percorridas as regiões dos bairros do Bixiga, Centro e Casa Verde, ressaltando a importância do choro, seresta e samba.


Café, Hábitos e Costumes – História e Poesia (Sesc Santo André): Para desvelar a importância do café na formação da cultura paulista, é realizada uma caminhada pelo centro histórico de São Paulo e bairro da Luz, com as presenças de um historiador e de um ator.
São Paulo da Fé (Sesc Santana): Panorama da diversidade cultural e religiosa da cidade, por meio de visitas orientadas a templos representativos das religiões de São Paulo, como o budismo, o candomblé, o islamismo, o cristianismo etc. Outros roteiros podem ser encontrados no Em Cartaz desta edição.



Virado à paulista

No Dia Mundial do Turismo série de atividades evidenciam a diversidade cultural do estado


Estabelecido, a partir de 1980, pela Organização Mundial do Turismo (OMT), o Dia Mundial do Turismo é comemorado todo 27 de setembro. O objetivo da data é promover a importância do turismo e de seus valores sociais, culturais, políticos e econômicos, através de diversas ações inspiradas em um tema proposto a cada ano e que, em 2011, será “Turismo: Conectando Culturas”.

Desde 2006, o Sesc São Paulo participa das comemorações, levando em consideração a temática proposta pela OMT. “Escolhemos o subtema Virado à paulista para, ao invés de pensarmos em conectar culturas longínquas, buscarmos propor a troca dentro do nosso próprio estado, descobrindo costumes que estão muito próximos da gente”, afirma a assistente da Gerência de Programas Socioeducativos (Gepse) do Sesc São Paulo Denise Miréle Kieling.

Assim, diversas atividades vão enfocar as manifestações culturais paulistas, mas não necessariamente envolvendo deslocamentos. O Sesc Consolação, por exemplo, traz, durante o mês de setembro, um cardápio especial em sua lanchonete, com uma gama de opções da culinária típica do estado, com influência indígena, bandeirante até chegar aos imigrantes e migrantes recentes.

Já o Sesc Pompéia promove, no dia 24 de setembro, o Encontro de Luthiers, aula aberta sobre o processo de construção de uma viola caipira, com apresentação musical ao final. “É um conceito de turismo ligado à experiência sensorial que te desloca para outros lugares”, explica Denise. Mais informações sobre a programação no Em Cartaz desta edição.