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Comer e viver bem

Nunca se falou tanto nos últimos anos sobre a gastronomia, e podemos encontrar esse reflexo em expressões artísticas como no teatro, exposições, filmes, livros entre outras, influenciando diretamente o comportamento do espectador/consumidor que procura o prazer na alimentação, pela agradável sensação de contentamento proporcionado em torno da comida.

Em contraposição, com a mudança no estilo de vida das pessoas, a busca se volta para praticidade no ato de comer, pois cada vez mais as refeições são realizadas fora do lar, cenário que dificulta conciliar a prática de hábitos alimentares saudáveis e enfraquece a sociabilidade e o valor simbólico agregado ao alimento, tornando-se evidente a imposição de uma identidade cultural e social própria da modernidade.

Realmente tive sorte, pois a minha afinidade com a alimentação começou desde a infância. Nessa época não tinha a menor ideia de que trabalharia na área de alimentação, mas já despontava o espírito curioso e pesquisador em aprender a cozinhar. Ficava fascinada com os quitutes preparados nos programas de culinária: “A Cozinha Maravilhosa de Ofélia” e “Forno, Fogão e Cia”, e sempre fui impulsionada pela minha mãe, uma “baiana arretada”, que, com sua simplicidade e excelência na cozinha, me mostrou a importância em preservar as nossas raízes.

Quando criança, tive a oportunidade de experimentar ingredientes e preparações da cultura nordestina, que somente na atualidade são reverenciados, como, por exemplo: feijão-de-corda, umbu, doce de leite, caju, licuri, mugunzá, canjica, mandioca, tapioca, carne-seca, paçoca de pilão, requeijão de corte, entre outros.

Todo esse repertório permitiu-me constituir uma memória afetiva no que se refere ao alimento e que muito contribui para o meu trabalho. Afinal, a reflexão sobre as questões de natureza sociocultural são essenciais para compreender a relação homem/alimentação ou, mais especificamente, as escolhas alimentares do ser humano.

Como nutricionista, adquiri conhecimentos científicos a cerca do valor nutritivo de cada alimento, mas tenho consciência de que “o comer” envolve não apenas atender a uma necessidade fisiológica, mas dialoga com múltiplos sentidos que agregam significados, sensações e gostos.

No Sesc, os profissionais atuantes nas áreas de alimentação das unidades desenvolvem um laborioso milagre da transformação, tratando o alimento de forma justa e responsável, com cuidados que asseguram a qualidade higiênico-sanitária e o compromisso em fornecer uma alimentação saudável, criando cardápios que procuram contemplar preparações equilibradas, sob o ponto de vista nutricional, explorando as diversidades regionais e propiciando diferentes experiências sensoriais e incentivando o máximo de proveito da refeição.

Mas posso dizer que não existe maior satisfação do que quando vemos a conclusão de um trabalho realizado coletivamente, em que nutricionistas, supervisores, encarregados, cozinheiros, ajudantes de cozinheiros e auxiliares são os protagonistas em disponibilizar uma comida autêntica e preparada com sentimento.

Marcia Drabek, nutricionista, com especialização em hotelaria, é assistente técnica da Gerência de Saúde e Alimentação do Sesc.