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Acidente de percurso

Com o crescimento a cada ano do número de idosos no Brasil, diversos setores da sociedade começam a se voltar para a questão da qualidade de vida na terceira idade. A consolidação do processo de envelhecimento populacional lança luz sobre medidas para favorecer a autonomia e atividade para idosos.

Para garantir essa independência, especialistas se dedicam ao combate de inúmeras síndromes geriátricas. No entanto, uma das que vêm chamando mais atenção nos últimos anos é a da instabilidade e quedas. “Com a idade, acontecem várias alterações físicas que variam desde a alteração do equilíbrio, da marcha e da força muscular, até doenças que aumentam a vulnerabilidade ao tombo.

Porém, a queda é sempre um evento que envolve mais de um fator”, explica a doutora Aline Thomaz Soares, especialista em geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e médica do Programa de Prevenção de Quedas do Hospital das Clínicas.

No ano passado, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo lançou o manual Vigilância e Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas, que está disponível para consulta na internet e traz diversos estudos sobre o tema (.PDF do Manual).

Um deles é da fisioterapeuta e gerontóloga Mônica Perracini, responsável por trazer para o Brasil, desde 2008, a Semana de Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas, realizada anualmente ?pela ONG britânica Help The Aged International. “Começamos a campanha preocupados com a conscientização mesmo, de como é importante saber que cair é uma coisa comum nessa idade, mas que as pessoas não precisam aceitar isso como algo natural do envelhecimento”, afirma Mônica.

Desde a primeira edição, o Sesc São Paulo participa da Semana com diversas atividades. “Temos uma gerência voltada exclusivamente para a terceira idade, que está o tempo todo pensando em como melhorar a condição do idoso”, diz Regina Sodré, assistente da Gerência de Estudos e Programas da Terceira Idade do Sesc (GETI).

De acordo com a doutora Aline Thomaz, o mais importante, em relação à queda, é entendê-la como enfermidade. “Na parte clínica, o ideal é ter todas as doenças controladas e, no âmbito físico, buscar o fortalecimento muscular”, explica. Além desses fatores inerentes ao próprio envelhecimento, as quedas estão também relacionadas às condições extrínsecas à pessoa, que dizem respeito, principalmente, às circunstâncias ambientais da cidade.

É justamente sobre essa questão que tem se debruçado a arquiteta e mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Adriana de Almeida Prado, em sua atuação como coordenadora da Comissão de Edificações e Meio do Comitê Brasileiro de Acessibilidade da Fundação Prefeito Faria Lima (Cepam). “Nas pesquisas sobre a causa mortis entre idosos, 29% são no contato com o transporte e trânsito. Desse total, 19% são quedas no ambiente urbano”, revela.

Segundo Adriana, a má qualidade das calçadas é responsável pela maior incidência de quedas nas ruas. “A lógica da cidade, já há alguns anos, está invertida, focada no automóvel, ou seja, no veículo particular. O homem está em segundo ou terceiro plano, e a nossa luta é, justamente, para resgatar o ambiente urbano, que deveria estar a serviço da melhor qualidade de vida do ser humano.”


Cuidados domésticos

O lar também deve ser mais bem adequado para a qualidade de vida

As quedas também são muito frequentes na residência das pessoas idosas. Nesse sentido, começam a surgir com maior incidência estudos arquitetônicos voltados para a melhor adaptação da moradia ao idoso. Além disso, algumas construtoras passam a enxergar a questão da acessibilidade como um nicho de mercado a ser explorado.

“As pessoas preparam a casa para o bebê que vai chegar, mas não fazem nada para o melhor envelhecer”, explica a arquiteta e gerontóloga Adriana de Almeida Prado, que lista preocupações que devem ser levadas em conta na reforma do imóvel para a terceira idade:
-    barras de apoio, principalmente nos banheiros e cozinha;
-    corrimão nas escadas e corredores;
-    utilização de rampas;
-    trancas em ordem e de fácil manejo;
-    boa iluminação e fácil acesso aos interruptores;
-    luz ao lado da cabeceira da cama;
-    tapetes somente fixos no chão e emborrachados por baixo;
-    pisos antiderrapantes e sem brilho;
-    poltronas com apoio para os braços.



É melhor prevenir

Evento promove a conscientização do problema da instabilidade entre idosos

Durante a 4ª Semana de Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas, que ocorreu no mês passado, diversas unidades do Sesc São Paulo (Pompeia, Consolação, Vila Mariana, Ipiranga, Santo Amaro, Santana, Santo André, Campinas, Bauru, Araraquara e Catanduva) contaram com uma programação voltada para a conscientização do problema da instabilidade na terceira idade. As atividades buscaram as mais diversas abordagens sobre o problema da queda, tendo este ano a preocupação com os distúrbios visuais como um dos principais assuntos.

“De acordo com as pesquisas, 29% dos idosos caem ao menos uma vez por ano. Por isso, enfatizamos essa proposta, através de palestras, workshops e cursos que trouxessem uma sensibilização para essa questão”, afirma Regina Sodré, assistente da Gerência de Estudos e Programas da Terceira Idade do Sesc (GETI).

Após participar, em 2007, de uma reunião da Organização Mundial da Saúde (OMS), com especialistas do mundo inteiro para discutir a questão da queda em idosos, a fisioterapeuta e gerontóloga Mônica Perracini entrou em contato com a ONG britânica Help The Aged International, responsável pela criação do Dia Mundial de Prevenção de Quedas em Idosos, e reuniu alguns parceiros que já eram referência na questão da terceira idade – entre eles o Sesc – para realizar a primeira edição do evento em 2008 no Brasil, com o slogan “Cair de maduro é só pra fruta”, que permanece até hoje.

“O primeiro passo é identificar quem tem mais risco de cair e trazer ações específicas para essas pessoas. Dentre as intervenções que funcionam na prevenção, o exercício consegue reduzir aproximadamente 30% dos eventos de queda, mas eles precisam ser direcionados”, explica.

No último dia 28, Mônica Perracini coordenou uma equipe de quatro fisioterapeutas, durante a Oficina de Prevenção de Quedas, ocorrida no Sesc Pompeia. Na ocasião, os idosos presentes passaram por uma bateria de testes físicos funcionais que, em conjunto, avaliaram a probabilidade de queda de cada um. Além disso, foi feita uma análise comportamental, a partir de um questionário sobre a preocupação com a possibilidade de cair. ::