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Três lances de um esporte social

_ Ei, você quer jogar?
_ Eu? Sim... mas eu não sou muito bom!
_ Tem problema não. A gente tá se divertindo. Vem cá! Entra no time e brinca com a gente.

Talvez você já tenha presenciado, e/ou vivenciado, um lance como o descrito. Ele ilustra o início de muitas relações. Relação com o outro, de exposição, de troca e de muitas outras possibilidades que os jogos ou atividades que requerem destreza física com a observância de regras específicas favorecem. Inclusive aquelas que, a princípio, podem se mostrar indesejáveis, mas que são fundamentais para o amadurecimento pessoal, como a vivência de conflitos, perdas, inimizades etc.

De fato, “viver é perigoso”. Ainda assim, é encantador observar o quanto uma criança, que espreita seus pares praticando qualquer modalidade esportiva, aguarda, ansiosamente, por um convite como o exposto.
Presumo que, na busca pela compreensão do lance acima, possamos marcar algumas respostas: “criança gosta de criança”, “jogando, ela se entrega a deus-dará, gasta energia, realiza-se”. Assim seja, visto que a vida solicita muitas práticas e aprendizagens por meio das quais exercitamos o prazer da descoberta e o do viver.

Descobertas que, por vezes, evidenciam dados nada animadores. Valendo-se da Pesquisa de Esporte 2003 (p. 34-35), disponível  em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pesquisa_esporte2003/default.shtm, constatamos que “as escolas públicas estaduais que possuíam instalações esportivas em 31 de dezembro de 2003 correspondiam a 58,1% de seu total” e que “era elevado o número de escolas públicas estaduais que não possuíam instalações esportivas”.

Lê-se também: “considerando-se que a escola é uma das mais importantes instituições de socialização das crianças, com os esportes coletivos exercendo um papel de suma importância nesse processo, que se constitui no embrião básico e fundamental para a iniciação esportiva, e que a prática orientada de esportes na escola contribui para a formação de crianças saudáveis, os resultados anteriormente apresentados recomendam a necessidade de políticas públicas mais incisivas na área”.

Mas o jogo ainda não terminou. Retornemos, então, àquela criança que um dia se mostrou um pouco tímida para adentrar na brincadeira esportiva e depois passou a se interessar. Exercitando, ela foi aprendendo e se aprimorando. Agora ela joga muito bem, é uma criança que não só se envolve nas partidas de seu time como também procura, ao máximo, entregar-se às performances. Mais ainda, é prodigiosa em agregar seus talentos esportivos à arte da convivência, reconhecendo na troca com o outro a potência para o enriquecimento de sua comunidade.

Permita-me fazer uma narração comentada desse segundo lance:

_ Enfrentando os desafios, o time mostra que não só pode melhorar, como ganhar!

Volto então o olhar para as oportunidades de sociabilidade, práticas de aprendizagens e experimentações que espaços como os Parques e Praças Públicas, Ruas de Lazer, Clubes, Condomínios, Associações Comunitárias, entre outros, oferecem à população.

Os lances que aí acontecem esboçam uma infinidade de sonhos, esperanças e buscas.

E dentre tantas possibilidades que as cidades oferecem, deparamo-nos com as unidades do Sesc. Dentre suas múltiplas realizações, o Programa Sesc de Esportes. Nele, atividades específicas que promovem o brincar, o aprender, o competir, o jogar e o divertir, estimulando a conquista da autonomia corporal, a melhoria da qualidade de vida e o aprendizado de novas habilidades e expressões corporais.

O placar depois do terceiro lance da partida revela como são importantes os programas e trabalhos de diferentes instituições, organizações que “abrem suas cortinas” e realizam ações respeitando e garantindo a troca simbólica plural entre os envolvidos, o convívio entre os diferentes. Eles efetivamente investem na formação de pessoas e na construção da cidadania.

_ Ei aí, meu filho, como foi o jogo?
_ É, pai, foi legal! Me diverti bastante, joguei o meu melhor... terminou 3 X 3! Quem viu gostou; muitos ficaram até o fim.
_ Que bacana! Valeu, então.

José Henrique Osoris Coelho, formado em Ciências Sociais, é gerente adjunto da área de Desenvolvimento Físico-Esportivo do Sesc