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Arte em ascensão

Sabia que a arte indiana tem 8 mil anos de história? Embora tenha uma bagagem milenar, a produção atual daquele país é pouco conhecida. No Brasil, por exemplo, essa cultura se popularizou pela novela Caminho das Índias, escrita por Glória Perez e transmitida em rede nacional pela TV Globo em 2009. No entanto, de acordo com especialistas, a experiência trouxe apenas poucas impressões, que romantizaram os costumes da Índia. “Já o contato real com a arte contemporânea indiana permanece restrito à ioga e às produções cinematográficas de Bollywood”, comenta o mestre em História da Arte Pieter Tjabbes.

Tjabbes, holandês radicado no Brasil, divide com Tereza Arruda a curadoria da mostra Índia Lado a Lado – que está aberta ao público no Sesc Belenzinho, onde está exposta a seção contemporânea das produções (veja boxe A Índia é bem aqui), e no Centro Cultural Banco do Brasil, que abriga a parte histórica da arte indiana. Nas palavras de Tjabbes, mesmo pouco presente no Brasil, a arte indiana contemporânea se fortalece internacionalmente. “Atualmente, encontramos produções artísticas indianas com mais frequência, seja em bienais ou em feiras de arte”, afirma.

Rica e diversificada, segundo classifica o curador, a arte atual da Índia recebe influências orientais e ocidentais. E, para quem não sabe, mantém uma relação com o Brasil por dois fatores. O primeiro deles tem a ver com a colonização. “A Índia, assim como o Brasil, foi colônia portuguesa e, a partir do século 17, foi colônia inglesa”, explica. O segundo motivo é econômico: “Os dois países estão listados no BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), sigla das principais nações em desenvolvimento. Isso tem propiciado um reconhecimento maior da arte indiana, já que o país é mencionado constantemente mundo afora”.

Em franca ascensão, a arte indiana também mantém um pé no passado em função dos seus artistas, muito ligados a questões culturais e, sobretudo, religiosas – presentes no dia a dia do povo indiano. “A parte espiritual, especificamente, permeia todas as expressões culturais daquele país. Isso ocorre de forma tão forte e fascinante que não podemos imaginá-la aqui no Brasil”, explica o curador. Para exemplificar a situação, ele cita o hinduísmo, religião que aguça a curiosidade, entre outros motivos, por causa do sistema de castas e pela filosofia.

Elementos vivos

Os ornamentos, as cores vibrantes e a representação da realidade são marcantes na concepção de obras dos artistas indianos. “São os três tipos de elementos inseridos nos trabalhos que encontramos facilmente em qualquer ambiente na Índia”, sintetiza Tjabbes. “Eles usam esses conceitos e formas para transmitir uma cultura, com significados e valores totalmente diferentes e singulares do país”, complementa.

Segundo Tjabbes, ter um olhar estrangeiro sobre esses aspectos foi fundamental para melhor apreciar a arte indiana e trazê-la aos aparelhos culturais no Brasil, como ocorre no Sesc. “Ter um olhar de fora, como holandês, e ter experiência como conhecedor da Índia me ajudaram”, afirma. “Mas trazer uma mostra ao Brasil exigiu muito cuidado na escolha das obras, porque são elas que fazem jus à história do país.”


A Índia é bem aqui

Exposição de arte contemporânea apresenta obras que exploram as contradições do país que reúne alta tecnologia e tradicionalismo no mesmo caldo de cultura

O Sesc Belenzinho vai abrigar, até 29 de abril, a mostra Índia Lado a Lado, que compreende a produção artística de 17 artistas indianos contemporâneos. A parte histórica da exposição está aberta ao público no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Os temas são variados e não abordam apenas aspectos da própria Índia, mas carregam questões universais.

E mais: as obras tendem a reforçar a pluralidade visual da arte recente no país, de acordo com o técnico de programação do Sesc Belenzinho Alcimar Frazão. “Elas têm a característica de trazer ao público brasileiro um tipo de experiência visual que pertence a outra cultura, outra relação de ser no mundo. Têm ainda um grau de ineditismo, porque a maioria das concepções é vista pela primeira vez no país, e revelam um grau elevado da produção artística”, esclarece.

A imagem de Baiju Parthan, Monumento, mostra o portal de Nova Délhi (capital do país) sitiada por ?tubarões, remontando ao passado ameaçado pela colonização da região. Já a obra Elevador do Subcontinente, de Gigi Scaria, apresenta um elevador com as paredes internas substituídas por três vídeos. Ao entrar nele, a imagem das três paredes se move dando a sensação de transporte a vários andares de um prédio, realçando as faixas sociais da Índia.

A mostra, com a curadoria de Pieter Tjabbes e Tereza Arruda, é o resultado de um detalhado trabalho de pesquisa efetuado em diversos ateliês em cidades como Nova Délhi, Mumbai, Vishakhapatnam e Bangalore, além da colaboração de especialistas indianos e internacionais. “A exposição tem uma ludicidade pela forma de capturar a atenção, mesmo tratando de temas complexos”, diz Alcimar.

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