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Mudanças adequadas aos usuários idosos: humanização do atendimento na instituição hospitalar

ZALLY PINTO VASCONCELLOS DE QUEIROZ
ADRIANA ROMEIRO ALMEIDA PRADO

O envelhecimento da população mundial: um novo perfil demográfico no século XXI

Para abordar a questão das adequações necessárias ao digno e adequado atendimento à população idosa na instituição hospitalar, torna-se necessário situar o processo de envelhecimento da população brasileira e os seus reflexos em todos os âmbitos da vida em sociedade: econômico, político e sociocultural.O aumento da expectativa de vida, aspiração antiga da humanidade, tem sido considerado uma das maiores conquistas do século XX. Na maioria dos países, cada vez mais o aumento significativo da população idosa trará novas e diversificadas demandas, o que nos permite afirmar que o aumento da esperança de vida, o qual por um lado é um triunfo, passa a ser também um grande desafio.

Nos países desenvolvidos, o processo de transição demográfica aconteceu de maneira lenta e gradativa, possibilitando a adequação dos serviços assistenciais existentes às novas necessidades decorrentes do envelhecimento populacional.

Já nos países em desenvolvimento, o envelhecimento da população aconteceu em ritmo muito rápido, bem mais rápido que o desenvolvimento econômico e social, do que resultaram sociedades envelhecidas antes de se tornar mais bem atendidas em suas necessidades. 

Esse aumento da esperança de vida se deve, conforme afirmam diversos autores, em primeiro lugar à redução da mortalidade infantil, que progressivamente foi atingindo os demais grupos etários. Em contrapartida, a fecundidade também vem se reduzindo de forma acentuada, contribuindo para a elevação, em dados porcentuais, dos idosos no contexto geral da população.

Segundo Camarano (2006), estima-se que em 2006 a população brasileira com mais de 60 anos seja da ordem de 17,6 milhões de habitantes e que em 2020 significará cerca de 15% da população total. Ainda segundo a mesma autora, entre os idosos o segmento dos muito idosos, aqueles com mais de 80 anos, é o que vem crescendo mais e, segundo o censo de 2000, já são quase 1.800.000 pessoas.

Esse acelerado processo de transição demográfica acarreta mudanças profundas em todos os aspectos da vida em sociedade. Mas, sem dúvida, um dos setores mais atingidos é o da saúde, tanto pelas repercussões nos aspectos assistenciais como pela crescente demanda de novos recursos e estruturas.

Esse fato é explicado porque, paralelamente ao processo de transição demográfica, ocorre o processo de transição epidemiológica, que se refere à modificação dos padrões de morbidade, invalidez e morte que caracterizam uma população (CHAIMOWICZ, 2006), e que acontecem ao lado de outras transformações de natureza econômica e sociocultural.

Segundo o mesmo autor, o processo de transição epidemiológica engloba três mudanças básicas: a substituição, entre as principais causas de mortalidade, das doenças transmissíveis por não transmissíveis, a alteração da maior carga de morbimortalidade dos mais jovens para os mais idosos, a transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra em que a morbidade é dominante.

Assim sendo, pode-se dizer que a longevidade traz consigo a maior incidência e prevalência de doenças crônicas que exigem novas propostas em atenção à saúde, constituindo um enorme desafio para os países em desenvolvimento, como o Brasil, onde se constata uma superposição epidemiológica: coexistem doenças transmissíveis e crônico-degenerativas. Essa situação provoca maior demanda pelos serviços de saúde, os quais, não estando preparados para atender o público idoso, contribuem com o desenvolvimento de incapacidades, perda de autonomia e prejuízo da qualidade de vida dessa população (CHAIMOWICZ, 2006).

Indicadores demográficos e epidemiológicos da população idosa brasileira

Conforme já referido, em 2006 a população idosa com 60 anos e mais está estimada em 17,6 milhões de habitantes, significando mais de 13% da população brasileira; em 2020, segundo projeções recentes, esse porcentual subirá para 15% e em 2025 o Brasil ocupará o 6o lugar entre os países com maior número de pessoas idosas. 

Uma das grandes conquistas do século XX foi a redução da mortalidade, fenômeno observado em todos os grupos etários e em todas as populações. Ainda segundo Camarano (2006), a esperança de vida ao nascer aumentou nove anos entre 1980 e 2000. Em termos relativos, os ganhos na esperança de vida da população idosa foram mais significativos que os da população total. Isso significa que, em 2000, um homem que completasse 60 anos poderia esperar viver mais 17 anos, e uma mulher mais 20 anos. Esse aumento da sobrevida se deveu à redução das taxas de mortalidade, que foi mais intensa nos anos de 1990.

Conforme estudos realizados pelo Ministério da Saúde em relação às causas de morte de idosos, entre os anos de 1980 e 2002, mencionados também por Camarano (2006), destacam-se as doenças cérebrovasculares, doenças isquêmicas, doenças hipertensivas, diabetes mellitus, pneumonias, neoplasias e as causas externas. 

Em relação ao estado de saúde da população idosa brasileira, essa autora se reporta aos dados de dois suplementos da PNAD, 1998 e 2003, que apontam prioritariamente para doenças crônicas: doenças da coluna, hipertensão, artrite ou reumatismo, doenças do coração, depressão e diabetes. Um outro dado interessante é a existência de pelo menos duas patologias referidas pelos idosos entrevistados, número esse que aumenta com a idade, indicando a redução da autonomia e a fragilização da velhice que acompanha o aumento da longevidade.

Algumas recomendações das políticas de atenção ao idoso

lacional em todos os países do mundo e das dificuldades encontradas nos países menos desenvolvidos para o adequado atendimento das necessidades específicas dessa população, órgãos como a OMS e a ONU deram início a encontros internacionais abordando a questão do envelhecimento, propondo aos países participantes recomendações quanto a políticas públicas, visando a garantir a dignidade da vida na fase da velhice.

O primeiro deles, a I Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento, aconteceu em Viena, em 1982, chamando a atenção para o fenômeno do envelhecimento populacional e recomendando políticas de proteção aos idosos principalmente nos países em desenvolvimento. 

Em 1999, declarado Ano Internacional do Idoso, foram definidos os princípios da ONU para o envelhecimento: independência, participação, cuidado, dignidade e autorrealização, chamando a atenção para que estas sejam as diretrizes no estabelecimento das políticas públicas voltadas à população idosa.

Nesse mesmo ano, a OMS elegeu como tema do Dia Mundial da Saúde a questão do Envelhecimento Ativo, chamando a atenção para a importância do desenvolvimento de programas voltados à promoção do envelhecimento saudável.

Em 2002 uma nova reunião, a II Assembléia Mundial da ONU sobre o Envelhecimento, produziu um documento: “Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento”. Todos os artigos desse documento são extremamente interessantes para o norteamento das ações políticas, entre as quais destacamos o artigo 14:

Reconhecemos a necessidade de conquistar progressivamente a plena realização do direito de cada um de usufruir o mais alto grau de saúde física e mental que se possa obter. Reafirmamos que alcançar o mais alto grau possível de saúde é um objetivo social da mais alta importância, no mundo inteiro, e para que se torne realidade é preciso adotar ações em muitos setores sociais e econômicos, além do setor de saúde. Comprometemo-nos a proporcionar aos idosos acesso universal e em condições de igualdade a atenção médica e serviços de saúde, tanto em saúde física como mental, e reconhecemos que as necessidades crescentes da população idosa requerem políticas adicionais, particularmente cuidados e tratamentos, promoção de estilos saudáveis de vida e ambientes propícios.

No Brasil, a partir da constatação do envelhecimento populacional que o país vivenciava a partir da década de 1970, algumas propostas voltadas ao atendimento da população idosa foram adotadas e finalmente consolidadas com a aprovação, pelo governo federal, da Lei no 8.842/94, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso. Nesse documento legal, a questão da saúde do idoso é colocada, no capítulo voltado às ações governamentais, levantando, entre outros, os seguintes compromissos:

• garantir aos idosos a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde;

• adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e similares, com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde;

• elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares e acompanhar a sua implementação.

Em 1999, o Ministério da Saúde convocou uma comissão de especialistas na área da Geriatria e Gerontologia para a elaboração do estudo que subsidiou a proposta de criação da Política Nacional de Saúde do Idoso (Portaria no 1.395/99), a qual, entre outras determinações, garante ao idoso hospitalizado o direito a acompanhante.

Alguns anos depois, em 2003, pela dificuldade de implementação da Política Nacional do Idoso, que não previa sanções ao seu descumprimento, foi aprovada pelo governo federal a Lei no 10.741/03, que instituiu o Estatuto do Idoso, o qual, entre outras determinações, aponta as seguintes responsabilidades do setor de saúde:

Artigo 15 – É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo de ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.

As ações relacionadas a este artigo são: atendimento ambulatorial, em unidades geriátricas de referência, atendimento domiciliar, reabilitação, fornecimento gratuito de medicamentos, especialmente os de uso continuado, bem como órteses e próteses e outros recursos relativos a tratamento, habilitação ou reabilitação.

Artigo 16 – Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico.

Artigo 18 – As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como a orientação a cuidadores familiares e grupos de autoajuda.

O Estatuto prevê, também, sanções às entidades governamentais e não governamentais que descumprirem as determinações da lei, indicando os Conselhos do Idoso, o Ministério Público, a Vigilância Sanitária e outros órgãos previstos em lei para o acompanhamento, a fiscalização e a avaliação do cumprimento das determinações desse Estatuto.

Os desafios da longevidade e o atendimento hospitalar

Considerando as características do processo de transição epidemiológica e o aumento significativo de pessoas muito idosas no Brasil, há de se repensar as adequações necessárias aos diversos serviços de atenção à saúde do idoso. 

Entre esses serviços, destaca-se o atendimento hospitalar, pois, conforme alguns estudos vêm demonstrando, os idosos utilizam os serviços hospitalares com intensidade muito maior que outras faixas etárias, em tratamentos de duração prolongada e de recuperação mais lenta e prolongada (RAMOS et al., 2004).

A hospitalização é percebida pelos idosos como uma ruptura do seu cotidiano, trocando as condições usuais de habitação por um ambiente estranho e geralmente ameaçador: perdem a sua identidade, deixam de usar a sua roupa, passam a uma condição de passividade e impotência e geralmente são apenas informados sobre o seu tratamento, alimentação, horários, etc.

A hospitalização de idosos é considerada de grande risco pelos profissionais de saúde, até porque as causas mais frequentes de internação são as doenças dos aparelhos circulatório e respiratório, fundamentais na manutenção da vida. Os idosos, principalmente os mais idosos, são também suscetíveis a complicações decorrentes de repouso prolongado no leito durante o período de hospitalização.

As conseqüências negativas que se dão a partir desse fato prejudicam diversos órgãos e funções fisiológicas, acentuando as alterações relativas à idade e comprometendo a reserva fisiológica desses idosos hospitalizados (IZZO, 2005).

A esse respeito, o documento “Desafios a serem enfrentados no terceiro milênio pelo setor saúde na atenção integral à saúde”, elaborado pelos profissionais que compuseram a Comissão do Ministério da Saúde que subsidiou a elaboração da Política Nacional de Saúde (Portaria MS no 1.395/99), assim se expressa:

No âmbito hospitalar, a assistência a esse grupo populacional deverá considerar que a idade é um indicador precário na determinação das características especiais do idoso enfermo hospitalizado. Neste sentido, o estado funcional constituirá o parâmetro mais fidedigno para o estabelecimento de critérios específicos de atendimento. 

Assim sendo, é de fundamental importância que toda a equipe hospitalar, e não apenas os profissionais de saúde, entenda e reconheça os efeitos negativos da imobilidade no leitopara a recuperação do idoso, procurando encontrar soluções para que a permanência forçada em situação hospitalar seja a mais adequada para a minimização desses efeitos. Todos os serviços deverão estar preparados para identificar os pacientes mais comprometidos, provendo a estes uma assistência diferenciada.

Esse empenho começa pelo planejamento do ambiente em que o idoso vai permanecer hospitalizado, de forma que se ofereça a melhor qualidade de vida possível em tais circunstâncias. Toda a ambiência e as rotinas hospitalares devem ser repensadas com esse objetivo.

Adequação necessária das instituições hospitalares para atendimento das necessidades específicas do segmento idoso

Conforme recomendação de Perracini (2006), os cuidados em relação ao ambiente hospitalar reportam-se aos fatores que podem significar risco para a segurança do idoso, o impedimento de acesso aos espaços pelos quais poderia circular, a redução do seu conforto ou o limite do seu desempenho. É necessário, também, que o ambiente seja calmo e acolhedor. Segundo a mesma autora, os aspectos básicos relacionados com o ambiente a ser proporcionado ao paciente idoso são:

• Condições de acessibilidade e uso;

• Facilidade de circulação, especificamente no que diz respeito ao conforto, à conveniência e à possibilidade de escolha;

• Comunicação: aspectos sensoriais e de interação social;

• Proteção: que não cause medo ou ansiedade;

• Segurança: sem riscos de lesões e acidentes;

• Privacidade.

As adequações que favoreçam esses aspectos básicos contribuirão para que as tarefas de cuidado sejam facilitadas e haja uma redução dos acidentes, propiciando dessa forma suporte e qualidade à vida, apesar das situações de fragilidade e risco que acompanham a internação hospitalar de idosos.

Algumas outras sugestões são feitas em relação ao ambiente:

Quanto ao mobiliário:

As camas, mesmo sendo hospitalares, devem ter aparência doméstica, preferencialmente devem ter regulagem de altura, oferecendo algumas variações de posição de cabeceira; grades protetoras ajudam em alguns casos e o colchão deve ser firme, permitindo mudanças de posição com mais facilidade.

As cadeiras devem ter braços com altura entre 18 e 20 cm, a partir do assento, pois essa medida propicia estabilidade e descanso para a coluna lombar; o assento deve ser firme e com profundidade adequada; o encosto deve suportar os ombros e, se possível, permitir o apoio do pescoço.

Quanto à disposição:

As áreas de passagem devem ter largura de 0,90 m, ficar livres de móveis e acompanhar o desenho do aposento, em termos de disposição de portas e janelas. É importante a instalação de corrimãos nos dormitórios, permitindo uma maior segurança ao idoso. O acesso às janelas deve estar livre, possibilitando a visualização das áreas externas, permitindo assim ao idoso a comunicação visual com a vida além do seu quarto hospitalar.

Quanto à superfície:

As condições do piso são fundamentais para evitar quedas, propiciar conforto e permitir a deambulação.

A escolha de um piso que diminua o ruído é muito importante na discussão da humanização, para o conforto dos idosos doentes e dos funcionários dos hospitais.

Tapetes soltos devem ser evitados, mesmo que tenham borrachas antiderrapantes, pois significam risco para idosos com distúrbio de equilíbrio e marcha.

Quanto à iluminação:

Os idosos necessitam de mais luz que adultos jovens, assim os interruptores devem ser de fácil acesso e manuseio, devendo, preferencialmente, ser de cor contrastante com a cor da parede para facilitar a visibilidade. 

A iluminação natural deve ser privilegiada, mas deve-se prevenir ofuscamento com a utilização de persianas.

Quanto às portas:

As portas devem ter cerca de 90 cm de largura, oferecendo um vão livre de 85 cm. Nos banheiros, as portas devem ser preferencialmente de correr, com fácil deslizamento, ou devem abrir para fora, evitando que, numa eventual queda, o idoso obstrua a entrada.

É de extrema importância que toda a equipe do hospital participe do planejamento das adequações ambientais necessárias, opinando sobre as escolhas e decisões, de forma que todos fiquem empenhados no oferecimento de condições mais dignas aos pacientes idosos.

Acessibilidade nos estabelecimentos hospitalares

Em dezembro de 2004 foi publicado o Decreto no 5.296 que regulamenta a Lei Federal no 10.098/00 – lei que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, ficando sujeitos ao cumprimento todos os edifícios de uso público ou coletivo, a serem construídos, ampliados ou reformados.

Esse decreto aponta as normas da ABNT como referência para as adaptações das edificações já construídas e as adequações de novos projetos, e define prazos para estas modificações serem efetivadas, que são de 30 meses a partir de sua publicação (2 de dezembro de 2004).

Com a vigência desse decreto será necessária uma adequação na Resolução – RDC no 50 –, de 21 de fevereiro de 2002, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Para elaboração desse item foram sugeridas algumas modificações na RDC no 50 e outros comentários para melhorar a acessibilidade às necessidades daqueles que estão envelhecendo. 

Circulação horizontal

Piso

A escolha de um piso que diminua o ruído é muito importante na discussão da humanização, para o conforto dos idosos doentes e dos funcionários dos hospitais. 

O piso deve ser fosco, pois o brilhante e lustroso reflete a imagem do entorno confundindo os usuários e ofuscando os olhos, além de ser escorregadio, principalmente quando molhado. 

Um exemplo é a manta vinílica, que diminui os ruídos e facilita a assepsia. Este piso existe em várias cores, possibilitando utilizar o contraste entre elas para orientar os pacientes ou usuários, mas cuidado com as estampas que pelo contraste podem causar a impressão de volume, confundindo as pessoas com perdas visuais ou com distúrbios psicológicos. Quando o piso tem cor diferente daquela das paredes e portas, melhora o entendimento do espaço às pessoas de baixa visão.

Circulação vertical

Escada

As dimensões dos pisos e espelhos devem ser constantes em toda a escada e atender a relação 0,63 m<p+2e<0,65 m, onde o piso (p) pode variar de 0,28 m a 0,32 m e o espelho (e) de 0,16 m a 0,18 m. Dessa maneira a variação de inclinação da escada ficará entre 26,57º e 32,74º, inclinação adequada às exigências da norma de acessibilidade vigente.

O primeiro e o último degraus de um lance de escada devem distar no mínimo 0,30 m da área de circulação adjacente. Sugere-se que todo degrau ou escada deve ter sinalização na borda do piso, em cor contrastante com a do acabamento, para garantia da visualização do desnível.

Rampa

Para segurança e conforto dos usuários, no início e no término de uma rampa devem ser previstos patamares com dimensão longitudinal recomendável de 1,50 m, sendo o mínimo admissível 1,20 m. 

As rampas devem ter inclinação longitudinal de, no máximo, 8,33% e a inclinação transversal não pode exceder 2% em rampas internas e 3% em rampas externas.

Quando não houver paredes laterais as rampas devem incorporar guias de balizamento com altura mínima de 0,05 m, instaladas ou construídas nos limites da largura da rampa e na projeção dos guarda-corpos.

Corrimão e guarda-corpo em escadas ou rampas

Os corrimãos devem ser instalados a duas alturas – 0,70 m e 0,92 m – do chão nos dois lados, sendo sempre contínuos, sem interrupção nos patamares e devem prolongar-se por pelo menos 30 cm antes do início ou término da rampa e escada.

As escadas e rampas que não possuírem paredes laterais devem dispor de guarda-corpos com altura mínima de 1,05 m e atender ao disposto na ABNT NBR 9077:2001. A secção dos corrimãos em escadas e rampas deve ser circular e variar de 3,0 cm a 4,5 cm, e os corrimãos devem ser fixados a 4,0 cm, no mínimo, da parede ou de outro obstáculo, para permitir o manuseio a uma mão grande ou deformada. É recomendado que os corrimãos sejam sinalizados por meio de sinalização em Braille, informando sobre os pavimentos no início e no final desses corrimãos.

Banheiros e sanitários acessíveis

Na área da geriatria dos hospitais é necessário garantir banheiros acessíveis com entrada independente dos outros banheiros, que permitam ser utilizados por um idoso em cadeira de rodas ou qualquer outro instrumento de ajuda. Esses banheiros devem garantir área de manobra para uma pessoa em cadeira de rodas fazer transferência para a bacia sanitária e para o banco do boxe de chuveiro, aproximar-se do lavatório e da porta.

Junto da bacia sanitária, no boxe do chuveiro e no lavatório devem ser instaladas barras de apoio para garantir a transferência e o uso das peças com segurança.

Quando houver mais de um sanitário ou banheiro acessível a ser construído no edifício, as bacias sanitárias, áreas de transferência e barras de apoio devem estar posicionadas de lados diferentes, ora à esquerda da bacia, ora à direita, para atender a uma gama maior de dificuldades. 

A área de alcance para uma pessoa em cadeira de rodas fica entre 1,20 m e 0,80 m, portanto é nesta faixa que deve ser instalada a saboneteira, o cabide para bolsas, o toalheiro e uma pequena prateleira para porta-objetos.

Sinalização

Um hospital bem sinalizado orienta pacientes e funcionários facilitando o entendimento do espaço e levando a um deslocamento mais seguro e rápido. A sinalização pode ser visual, tátil e sonora, e quanto ao tipo: permanente, direcional, de emergência e temporária. Para sinalizar foram criados símbolos que, associados a setas, vão compor um projeto de sinalização que facilita a compreensão às pessoas não alfabetizadas ou com dificuldade de cognição.

Para as pessoas com baixa visão ou cegas a sinalização visual deve ser associada a uma sinalização tátil utilizando caracteres em relevo e informações em Braille. Os caracteres em relevo têm tamanho, espessura e espaçamento entre letras, para facilitar a compreensão pela leitura com as mãos por pessoas cegas ou por leitura visual para as com baixa visão.

As portas sinalizadas com informação visual e tátil compõem o projeto de sinalização.

Para completar a leitura do espaço podem ser desenvolvidos mapas táteis. Esses mapas táteis, localizados próximos das entradas dos hospitais, vão possibilitar uma compreensão visual do espaço para os idosos videntes e uma leitura tátil aos com perdas visuais. Este projeto de sinalização, para uma perfeita legibilidade da informação visual, vai depender da iluminação do ambiente, do contraste e da pureza da cor.

A sinalização sonora é o último item a compor este projeto. Deve ser utilizada nos elevadores e em situação de emergência, normalmente associada a uma iluminação, para orientação das pessoas com perdas visuais e auditivas, bastante comuns aos idosos.

Humanização no atendimento ao idoso: aspectos éticos

Todos os aspectos abordados anteriormente são muito importantes na adequação e humanização do ambiente hospitalar para as pessoas idosas, mas é preciso que se reflita também sobre a postura ética da equipe que vai atuar junto dessas pessoas, desde os profissionais de saúde até o pessoal de apoio.

A comunicação é fundamental nas relações interpessoais de qualquer natureza, ganhando um significado ainda maior quando envolve pessoas em posições diferentes e em situações de fragilidade física e emocional.

Estabelecida com objetividade, clareza e respeito, a comunicação pode reduzir as incertezas, tão frequentes em situações de doença, e fortalecer o relacionamento entre as pessoas envolvidas (BURLÁ, 2006). 

Como afirma a mesma autora, a maneira como uma notícia é transmitida ao paciente e seus familiares pode ter um grande impacto dependendo da postura do profissional, do ambiente calmo e confortável em que foi dada e da privacidade, que é fundamental para que uma relação de confiança se estabeleça.

Antes de iniciar uma conversa em que assuntos difíceis serão tratados, deve-se ter certeza de que haverá tempo suficiente para que não haja interrupções. O profissional deve também perceber, na relação densa que estabelece com o paciente, se aquele é o momento adequado para a conversa. O profissional deve fazer contato visual com o paciente, evitando porém o constrangimento de um olhar fixo. O tom da voz, a possibilidade do toque e a postura do profissional serão o esteio de uma conversa adequada.

A equipe deve estar consciente de que o idoso não é uma criança, tem uma história de vida e uma identidade que faz questão de conservar, exceto em casos extremos de comprometimento cognitivo. Por isso mesmo deve ser tratado pelo nome, deve ser ouvido e ter oportunidade de manifestar a sua opinião sobre os encaminhamentos que serão dados aos seus problemas de saúde. Conforme citação de Burlá: “Trabalhar sentimentos e emoções, ter sensibilidade e conhecimento técnico para uma avaliação precisa da situação presente são quesitos essenciais para a harmonia e o bom resultado das propostas de intervenção”.

O acompanhamento de uma pessoa em momentos difíceis de sua vida, quando emerge a ideia da proximidade da morte, exige da equipe a sensibilidade necessária para entender o momento singular que vive esse paciente. Para tanto, os profissionais devem estar capacitados e ter muito bem internalizada a sua própria finitude.

Referências bibliográficas

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