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Políticas, programas, projetos e práticas intergeracionais no Peru

RAFAEL QUISPE CHURA

O contexto do país sobre o problema dos idosos engloba a exclusão e os abusos na família, no trabalho e na sociedade, com pouco envolvimento de pessoas idosas no âmbito de um processo de crescente urbanização e envelhecimento progressivo da população. A imagem negativa que a sociedade tem do idoso e do envelhecimento. O frágil sistema de políticas e programas de proteção econômica e social em nível local e regional agrava a situação social dos idosos.

Os idosos precisam ser valorizados como pessoas com experiência e sabedoria que podem contribuir muito com a sociedade. É uma tarefa contínua para criar espaços onde se descubra o enriquecimento mútuo entre as diferentes gerações, se cultive a solidariedade e se promova a família e a sociedade com a atitude aberta e receptiva para com eles. Para promover mudanças de atitude nas novas gerações, a fim de que no futuro a sociedade tenha percepção realista do envelhecimento, sem negligenciar o papel que os idosos têm de adotar para alcançar essas mudanças. Ao mesmo tempo, sejam essas novas gerações o meio indireto para fortalecer os laços familiares entre os membros. Não podemos esquecer o papel que corresponde à família em cuidar do idoso, tornando-se o principal apoio que vai dar carinho, segurança, assistência econômica e material, além de fornecer habilidades básicas para as crianças e os jovens sobre o processo de envelhecimento, inclusive uma imagem positiva do envelhecimento.

A questão das relações intergeracionais é mencionada e apoiada no seguinte quadro jurídico: Ley 28803 de las Personas Adultas Mayores, artigo 19 de Intercâmbio Geracional, o qual diz que “O Estado promove programas de intercâmbio geracional que permitem que crianças, jovens e adultos adquiram conhecimentos, habilidades e conhecimento para atender as necessidades que surgem na velhice”. Por sua vez, o Plan Nacional para las Personas Adultas Mayores 2006-2010 no seu Princípio 3.7, afirma que “É responsabilidade política e social, atual e futura, promover a solidariedade intergeracional, não só da população em geral com os idosos, mas também dos idosos com os mais jovens, para a transmissão dos seus conhecimentos, habilidades e experiência, e reconhecendo a contribuição dos idosos do ponto de vista do desenvolvimento espiritual e cultural”.

As práticas intergeracionais de relações interpessoais e afetivas entre as gerações se dão em geral no seio da família e entre avôs e netos – e avôs, pais e netos –, que são as mesmas que fomentam os vínculos, o afeto e a solidariedade na família.

Tem-se pouco conhecimento sobre as experiências intergeracionais fora da família que pretendem estabelecer relações de afeto e trazer uma mudança de atitudes; práticas descritas se desenvolvem em órgãos do setor público e privado. As experiências são enquadradas de acordo com um perfil dos beneficiários, sejam estes idosos residentes, não residentes, sejam eles rurais ou urbanos, alunos de instituições públicas ou privadas de ensino, da juventude, sendo que é importante considerar o contexto ou a realidade, que determinam as metodologias a serem utilizadas nas práticas intergeracionais que permitam contribuir com a construção de uma sociedade para todas as idades.

No que se refere a órgãos públicos, podemos mencionar as seguintes práticas:

• EsSalud é o Seguro Social de Saúde que presta serviço a seus segurados no país, e tem Centros del Adulto Mayor (CAM), que são locais de encontro geracional os quais objetivam melhorar o processo de envelhecimento, mediante o desenvolvimento de programas de integração familiar, intergeracionais, socioculturais, recreativos, produtivos e de estilos de vida para o envelhecimento ativo. No CAM se fomenta a realização de Eventos de Integración Intergeneracional, promovendo a troca de experiências com crianças, adolescentes e jovens. São realizadas também Campañas de Sensibilización intergeneracional, promovendo caminhadas e desfiles, para reavaliar a imagem do idoso.

Os temas abordados nos eventos de integração intergeracional são: a comunicação humana, a solidariedade entre gerações, os papéis sociais de crianças, adolescentes, jovens e idosos. Os principais mitos sobre envelhecimento e normas e valores sociais.

• INABIF – O Programa Integral Nacional para e Bienestar Familiar, por intermédio dos Centros de Desarrollo Integral de la Família: CEDIF desenvolve atividades de prevenção e promoção destinadas a famílias, crianças, adolescentes, mulheres e idosos em situação de risco e/ou vulnerabilidade, as mesmas que estão localizadas em áreas periféricas. Sua ação objetiva promover o desenvolvimento humano, a integração familiar e a capacitação para geração de renda que irá contribuir com a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Entre as linhas de ação do CEDIF está o reforço da solidariedade entre os usuários do CEDIF (crianças, jovens e idosos) por meio da realização de encontros intergeracionais como: as celebrações conjuntas em ocasiões especiais, a encenação de histórias infantis Cuéntame un cuento abuelito, compartilhando histórias da terra natal, e a realização de concursos intergeracionais de canto e dança.

• Os municípios, sejam eles de nível distrital e municipal, constituem os CIAM: Centros Integrales del Adulto Mayor que visam a proporcionar, por intermédio dos municípios, uma atenção integral às pessoas idosas e em que o processo é a relação com outras gerações; é assim, por exemplo, que o município de Miraflores, em Lima, promoveu o desenvolvimento das relações intergeracionais por meio da narração de histórias pelos idosos para as crianças, resgatando a produção em um documento. O município de J.L. Bustamante y Rivero, em Arequipa, por intermédio do Consejo del Adulto Mayor, incentiva encontros para relacionamentos entre idosos e jovens.

• O Ministerio de Salud, por intermédio dos serviços de saúde, presta serviços à população que está na Etapa de Vida Adulto Mayor (EVAM), reconhecendo que a saúde é um pré-requisito para alcançar uma qualidade de vida adequada. Para isso são instalados Clubes del Adulto Mayor em todo o país, no nível dos cuidados primários. Os clubes são centros que previnem, informam e educam sobre o estilo de vida saudável, promovendo oficinas de artesanato cujas vendas representam uma renda adicional; além disso, identificam o contato intergeracional como estratégia que permite também combater o isolamento dos idosos e sua relação com outras gerações próximas de sua localidade: crianças, jovens e adultos. 

No que se refere a órgãos privados, podemos mencionar as seguintes práticas:

• Universidades Privadas – Temos a experiência da Pontificia Universidad Católica del Perú, por intermédio da Universidad de la Experiencia (PUCP-UNEX), que desenvolvem encontros universitários intergeracionais a fim de promover um bom entendimento entre jovens e idosos da UNEX, o reconhecimento e a valorização da experiência. Por sua vez, temos a experiência da Universidad Alas Peruanas, de Lima, que, por meio de seu Curso de Gerontologia Social, faz com que seus alunos, em seu período de formação acadêmica, estabeleçam diferentes espaços de relacionamento intergeracional com idosos.

• ONGs – Entre as organizações não governamentais, temos a experiência da associação de comunicadores sociais “Calandria”, que promove o diálogo intergeracional na produção de comunicação de rádio para influenciar a sociedade, abordando questões como violência familiar, abuso sexual, relação intergeracional entre pai e filhos, prevenção de DST/HIV, entre outras. O Centro de la Mujer Peruana “Flora Tristán” realiza oficinas intergeracionais como um espaço de diálogo entre jovens e idosas para abordar as questões do aborto, as medidas de preveni-lo e atendê-las em outras questões.

• Cáritas del Perú é uma organização da Igreja Católica integrante do Programa Regional Trabajo Social a favor de Adultos Mayores en América Latina y en el Caribe (PRAM), na qual participam Cáritas Cubana, Cáritas Chile, Cáritas do Peru, Fundación Cáritas para el Bienestar del Adulto Mayor (FUNBAM México), Red Latinoamericana de Gerontologia (RLG), Associação Reciclázaro-Cáritas Lapa-Brasil e a Pastoral Social de la Arquidiócesis de Panamá.

• A experiência Cáritas ocorre no sul do Peru nas áreas de Cáritas de Tacna, Moquegua e Arequipa. Os Encuentros Intergeneracionales são desenvolvidos entre alunos e alunas de escolas com idosos, tendo enfoque em prevenção do abuso, promoção de tratamento digno, respeito a uma imagem positiva do idoso. No Encontro, para se alcançar os resultados esperados, são desenvolvidas atividades com base em uma metodologia participativa que capta a atenção e concentração de crianças, adolescentes e idosos. Essa metodologia proporciona dinâmicas de diversão e apresentação, debates sobre dramas sociais, trabalhos em grupo nos quais ambas as gerações interagem, dramatização de vivências familiares e jogos.

Nos Encuentros Intergeneracionales são planejados objetivos com os alunos, promovendo o relacionamento com o idoso, sejam como portadores e transmissores de conhecimentos, e que valorizem a experiência e as competências dos idosos. O objetivo quanto aos idosos é que reconheçam as aptidões e potencialidades dos alunos e também sejam transmissores de sua experiência, dando orientações aos alunos. O objetivo seguinte está no âmbito dos docentes, para que os conhecimentos adquiridos e as experiências desenvolvidas possam guiar e orientar os alunos corretamente sobre o processo de envelhecimento e o idoso.

Os Encuentros acontecem em três fases: a fase preparatória, na qual se realiza um processo de treinamento-conscientização em sala de aula para a comunidade educativa (professores e alunos) e, em seu turno, para os grupos organizados de idosos participantes do encontro. Na fase de execução do encontro se realizam apresentações de dramas sociais, trabalhos em grupo com debate, os idosos e os alunos realizam uma apresentação recreativo-artística. Na etapa posterior aos Encontros, são realizadas entrevistas, pesquisas com professores, estudantes e idosos sobre o desenvolvimento dos Encuentros e seus impactos.

As diferentes experiências e práticas promocionais de relações geracionais ocorrem diretamente entre dois grupos de idade, o que é conseguido por meio de grupos mistos de diálogo idosos-crianças-jovens. É importante considerar a realidade local, os atores envolvidos na prática e a experiência dos facilitadores no assunto para o desenvolvimento adequado dos encontros intergeracionais.

Nos encontros intergeracionais, os idosos passam de uma condição passiva para outra ativa, realizando exercício de cidadania ao serem transmissores de valores como solidariedade, respeito, responsabilidade e capacidade de ouvir. São estabelecidas relações de afeto, é produzido um intercâmbio de conhecimentos e são promovidas mudanças de atitude nas gerações mais jovens para uma imagem positiva do envelhecimento.

A questão das relações intergeracionais no país está se tornando mais relevante. É importante a abertura do setor educacional a fim de facilitar a atividade e se envolver na sua execução. Abrir a escola à comunidade é uma grande conquista, e, no futuro, isso pode ser considerado uma fonte de aprendizado para o setor educacional.

Desenvolver mais as experiências no assunto significa destinar recursos financeiros a partir do governo central, dos governos regionais e locais para o desenvolvimento de práticas. A capacitação de profissionais contribuirá para a obtenção de mais recursos humanos no assunto.

Impulsionar o trabalho em Redes deve contribuir para o planejamento, a coordenação do desenvolvimento da experiência na construção de uma sociedade para todas as idades.

Referências bibliográficas

1. Wasiek, Christel: La promoción de una imagen más positiva del adulto mayor a través de eventos integeneracionales. España, Valencia (s.n) 2006.

2. Ximena Romero, Elisa Dulcey Ruiz y Mauro Brigeiro. Hacia una sociedad para todas las edades. Experiencias latinoamericanas sobre relaciones intergeneracionales. Red Latinoamerica de Gerontologia. Santiago 2009.

3. Foro Panel Actividades Intergeneracionales, retos y posibilidades para el Perú: Conferencias y ponencias (1.o, 2010, Lima). Lima.