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O envelhecimento feminino em nossa cultura

DANILO MIRANDA

Vivemos um tempo de expressivo aumento da longevidade humana. As populações da grande maioria dos países envelhece a um ritmo considerável. Chegar aos oitenta anos de idade e em boas condições de saúde, já não é privilégio de poucos. Avanços da ciência aliados a hábitos saudáveis, tem provocado esse fenômeno inédito na história da humanidade. Sob a ótica de gênero, constatase que as mulheres, em média, são mais longevas que os homens.

A maior longevidade feminina é fato bem estabelecido e provado pelos resultados de sucessivos e amplos levantamentos estatísticos. Possivelmente, fatores constitucionais somados a um modus vivendi feminino tenham a ver com uma vida mais extensa e produtiva. Sem dúvida, refletir sobre o envelhecimento na perspectiva de gênero é um empreendimento pouco frequente na gerontologia e, no entanto, muito necessário. As mulheres representam ampla maioria nos grupos de Terceira Idade e em relação à participação social em diferentes contextos, em decorrência do fenômeno que os cientistas sociais têm chamado de “feminização da velhice”.

Nesta edição, destacamos a reflexão trazida por Ângela Mucida que discute a construção da subjetividade feminina em nossa cultura, de um ponto de vista psicanalítico, sobretudo a partir das contribuições de Freud e Lacan. Apoiada não só nos teóricos, mas em sua própria clínica, a autora analisa os efeitos do envelhecimento sobre a sexualidade feminina, assim como as razões para que o envelhecimento seja entendido como um caminho para a desvalorização da mulher. Conclui que cabe às mulheres “maduras” de hoje a importante tarefa de criar novos espaços na cultura que sustentem suas escolhas e, sobretudo, sua feminilidade.

Não devemos esquecer que as mulheres que nesta década estão adentrando na velhice eram adolescentes nos chamados “Anos Dourados”, anos 60. Aliás, nem tão dourados assim, pois foram anos de movimentos de resistências de jovens, de mulheres, de negros, de homossexuais, de várias minorias, a toda sorte de autoritarismo, na família e no Estado. A boa nova é que as mulheres brasileiras avançam no caminho da emancipação, como pudemos constatar em recente pesquisa que o SESC SP promoveu em parceria com a Fundação Perseu Abramo. As mulheres consultadas se revelaram politicamente mais amadurecidas e mais conscientes de seus problemas e de seus direitos e também dos caminhos a percorrer para uma equiparação social com os homens. Essa nova atitude certamente trará impacto positivo sobre as próximas gerações de mulheres maduras.

Nosso entrevistado é o médico Oscar Del Pozzo que tem dedicado sua velhice a serviço de outros idosos, isto é, daqueles que vivem em condições de vida desfavoráveis por imposição da pobreza e da doença. Dono de uma vitalidade invejável e de um espírito de luta admirável, Oscar Del Pozzo é um exemplo a ser seguido por todos aqueles que pretendem envelhecer com dignidade.