Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Território Criativo

Integrantes do coletivo Base-V no primeiro dia de pintura de paredes no SESC Pinheiros
Integrantes do coletivo Base-V no primeiro dia de pintura de paredes no SESC Pinheiros

Território Criativo

texto: Flavia Galembeck fotos: Flavita Valsani

Em nova intervenção no SESC Pinheiros, o coletivo Base-V revisita o tema da urbanidade e da ocupação dos espaços públicos nas paredes das escadarias entre o segundo e o sétimo andar da ala Paes Leme. A economia das formas dos artistas contrasta cores vibrantes para fazer um contraponto entre convivência e isolamento, natureza e artificialidade no cotidiano da metrópole.

"Quando pensamos na cidade de São Paulo nos vem à mente confusão: amontoados de coisas, aglutinação de pessoas, carros, prédios e orelhões. Em contraste a essas pequenas áreas repletas de elementos, adicionamos espaços vazios, que representam, por exemplo, um passeio à periferia, onde há grandes áreas verdes, ainda que pontuadas por alguns elementos urbanos" David Magila

Esqueça o hábito de subir escadas encarando o bico dos sapatos. Você terá muito o que que verna intervenção “Desvios” feita pelo Coletivo Base-V nas paredes das escadas da ala Paes Leme, que vão do térreo ao sétimo andar do SESC Pinheiros, em São Paulo. Até o final de junho, a obra convida os olhos a percorrer esse espaço e à reflexão sobre a geografia espacial das metrópoles.

À medida que o visitante avança nos degraus, depara-se com um imenso caderno de viagens da maior metrópole da América Latina. Porque se locomover por esse território é muitas vezes isso mesmo, uma viagem. E foi pensando nessa jornada que o coletivo desenvolveu o conceito do trabalho.

Com elementos da paisagem da cidade, em traços firmes pontuados pelo plano de fundo com cores artificiais, inspirados nos corantes de alimentos processados, como o azul esverdeado, o amarelo bege e o laranja, trata-se de um exercício de observação da ocupação e interação entre os diferentes elementos desse território.

A intervenção mostra paisagens urbanas incompletas, soltas na malha urbana, o que estimula o observador a fazer sua própria interpretação dos espaços ocupados e dos vazios, da pre- sença e da ausência.

“Quando pensamos na cidade de São Paulo nos vêm à mente confusão, amontoados de coisas, aglutinação de pessoas, carros, prédios e orelhões. Em contraste a essas pequenas áreas repletas de elementos, adicionamos espaços vazios, que representam, por exemplo, um passeio à periferia, onde há grandes áreas verdes, ainda que pontuadas por alguns elementos urbanos”, explica David Magila.

A urbanidade e a ocupação de espaços é uma tema recorrente nos trabalhos assinados por Magila, Danilo Oliveira e Anderson Zansky, que atualmente formam o coletivo Base-V.

Na opinião de David, muitas das intervenções do grupo, se retiradas do local de origem, não teriam a mesma força, porque a obra dialoga com aquele espaço. Como a que foi feita na sala de internet do próprio SESC Pinheiros e que reproduziu na parede de vidro, com adesivos, as formas das mesas e cadeiras da sala, em 2005. A totalidade dos elementos era percebida à medida que o expectador se afastava daquele ambiente. Ou em outro trabalho, na reprodução da cerca de arame no SESC do Carmo, que se estendia para o muro, interagindo com a paisagem e outros elementos.

Eles também integraram a mostra Graphias - do papel ao pixel, na Galeria Marta Traba, que reuniu artistas de artes visuais e grafismo de dez países e ficou em exposição até o fim de janeiro deste ano, no Memorial da América Latina. Com a obra Imagem Meramente Ilustrativa, um painel gigante (7 metros de largura por 4 metros de altura), o trio reproduziu uma esquete de folheto publicitário de um ima­ ginário lançamento imobiliário, em carvão. O realismo da peça ficou por conta de um pequeno detalhe (de 50 cm), que mostrava uma menina e sua mãe, pintadas em tinta óleo, dentro da piscina do empreendimento.

Versátil, o trio afirma não ter uma assinatura e utiliza diversas técnicas, como serigrafia, xilogravura, estêncil, pintura, desenho, e variadas mídias e materiais, o que confere múltiplas identidades a seus trabalhos. “A cada­ obra a gente se reinventa em função do ritmo, do local, do material, da técnica e das próprias referências que vamos coletando ao longo do tempo, como cinema e música, e que, de uma certa forma, também interferem no resul­ tado final do trabalho”, afirma Magila. Colegas do curso de Artes Plásticas da Unesp em São Paulo, eles fundaram o coletivo em 2002, inicialmente com a Revista V1, que possibilitava a colaboração de diversos artistas. Em seguida, eles criaram o site www.base­ v.org, em que ainda hoje mantem essa filosofia colaborativa, com espaço para trabalhos de outros artistas.

Outros integrantes já entraram e sairam do grupo, como Rafael Cou­ tinho, Ricardo Ruiz e Luis Ravagnani. Da formação original sobraram os três, que há oito anos se encontram religio­ samente no estúdio sediado na Acli­mação. “A nossa convivência é muito rica e nós três temos muitas similari­ dades e muitas diferenças”, afirma Ma­ gila. Amigos e colegas de trabalho, os três juntos experimentam e exploram a potencialidade urbana e se esquivam de rótulos e modismos.

"O trabalho com a educação não formal e a promoção de hábitos saudáveis permeiam todas as ações do Sesc São Paulo. São conceitos que representam um papel importante quando buscamos tornar efetivos o bem­estar e a qualidade de vida no dia a dia das pessoas" Danilo Santos de Miranda, diretor regional Sesc São Paulo