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O lazer como expressão de vitalidade na velhice: uma experiência das atividades desenvolvidas em um Centro de Convivência de Idosos em Fortaleza-CE

Introdução:

O envelhecimento da população constitui-se hoje como um fenômeno mundial, uma vez que os números revelam o seu crescente aumento em relação às demais faixas etárias. O contingente da população mais velha nunca foi tão grande em todo o mundo e no decorrer de toda a história.

A Contagem da População do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) mostrou que, nos últimos sete anos, a população do Brasil cresceu a uma média anual de 1,21%. No ano 2000, eram 169.799.170 milhões de habitantes, aumentando para 183.987.291 milhões em 2007. Especificamente, com relação à população velha brasileira, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009, do IBGE, revela que o número de pessoas no Brasil com 60 anos ou
mais chegou a cerca de 21 milhões. Considerando apenas o segmento de pessoas com mais de 75 anos (cerca de 5,5 milhões), os mais velhos no Brasil tomam proporções significativas, mudando bastante o perfil etário até pouco tempo considerado extremamente jovem.

Mais do que nunca, o tema do envelhecimento da população brasileira tem merecido destaque especial nas pautas de discussões e deliberações de direitos específicos para os velhos – destacam-se a Política Nacional do Idoso (PNI) em 1994 e o Estatuto do Idoso em 2003 –, porém os estudos ainda são considerados incipientes para contemplar as particularidades que o segmento demanda. Nessa perspectiva, este trabalho propôs-se a estudar os velhos e sua corporeidade, expressa na vitalidade de atividades físicas, bem como suas relações, sobretudo as de poder, com as demais gerações.

Em 2012, assiste-se ao Ano Europeu de Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações, cujo desafio é o de discutir e fomentar políticas públicas efetivas em consonância com o acelerado processo de envelhecimento e as necessidades que demandam. Os países europeus não fogem à regra de envelhecimento populacional e, por isso, revelam a preocupação com a nova velhice que se mostra cada vez mais visível e ativa.

Ademais, considera-se importante justificar a terminologia adotada em todo o trabalho com relação à palavra “velho”, tão estigmatizada e pejorativa na sociedade atual. Conforme evidencia Beauvoir: “Toda uma tradição carregou essa palavra [velho] de um sentido pejorativo – ela soa como um insulto. Assim, quando ouvimos nos chamarem de velhos, muitas vezes reagimos com cólera” (1990, p. 353). Porém, corroborando com as ideias do professor Rubem Alves (2001), e com autores especialistas em gerontologia social, entende-se que o vocábulo “idoso” é uma maneira de eufemizar (ou maquiar) esta fase da vida, trazendo à tona apenas a questão do “politicamente correto” ou do aspecto “legal”, desconsiderando, assim, o lado afetivo, poético e, sobretudo, real da palavra “velho”.

A partir de tal relevância e urgência, este trabalho se propõe a compreender os significados que as atividades de lazer desenvolvidas em um Centro de Convivência de Idosos representam para os velhos participantes. Ademais, como objetivos específicos deste processo investigativo, destacam-se: conhecer o trabalho desenvolvido pelo Centro de Convivência em estudo, com vistas a identificar se as estratégias utilizadas contribuem para uma melhor qualidade de vida dos participantes; apreender o perfil socioeconômico dos sujeitos, haja vista a importância de se avaliar e refletir sobre seus reais modos e condições de vida; refletir como o Estado, por meio dos Centros de Convivência de Idosos, tem construído e viabilizado políticas públicas no sentido de institucionalizar direitos.

Esta investigação foi desenvolvida a partir da abordagem quali-quantitativa de caráter explicativo. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 6 dos 62 velhos assíduos do C.C.I., totalizando uma amostra de 10%; e os questionários para a construção do perfil foram aplicados com todos os participantes assíduos. Destaca-se que os velhos, na qualidade de sujeitos da pesquisa, ficaram cientes desta de maneira que responderam às questões espontaneamente e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Dessa maneira, este artigo está organizado em três tópicos, a seguir: Vitalidade, corpo e lazer; Os participantes do Centro de Convivência em estudo; e, por fim, tem-se as Considerações finais da pesquisa.

Vitalidade, corpo e lazer

Vitalidade, do latim vitalitate, cuja raiz vita significa vida. Segundo o dicionário, trata-se de um vocábulo que representa qualidade do que é vital; vigor, energia; conjunto das funções de um organismo. Toda a descrição mencionada tem como cerne a palavra “vida”. Em outras palavras, vitalidade é a tentativa de não morte, a reafirmação da vida, a negação do corpo e da mente para a finitude.

Na ética de Dietrich Bonhoeffer (2006), o vitalismo é compreendido como componente inato e fundamental do ser: “Bonhoeffer não aceita o mecanicismo relativizador da vida como meio para um fim, bem como não aceita o vitalismo absolutizador da vida como fim em si próprio” (COSTA JÚNIOR, 2004, p. 11). Em outras palavras, vitalidade é tudo o que é expresso dentro do equilíbrio: direitos/deveres.

Logo, vitalidade caracteriza-se como um estilo de ser, indo além da dimensão cronológica. Segundo Neri e Debert (1999), diversos outros fatores são determinantes ao se avaliar a força vital de um indivíduo, quais sejam: gênero, classe social, saúde, educação, cultura, etc. A condição social é retratada por Beauvoir (1990) como um fator extremamente limitante, embora não seja o único, para o velho vivenciar sua vitalidade.

Além da condição social, Beauvoir (1990, p. 387) alerta que o moral e o físico estão estreitamente ligados:

Para realizar o trabalho que readapta ao mundo um organismo pejorativamente modificado, é preciso ter conservado o prazer de viver. Reciprocamente: uma boa saúde favorece a sobrevivência de interesses intelectuais e afetivos. Na maior parte do tempo, o corpo e o espírito caminham juntos (...). Mas nem sempre (...). Os moralistas que, por razões políticas ou ideológicas, fizeram a apologia da velhice, pretendem que ela liberta o indivíduo de seu corpo. Por uma espécie de jogo de equilíbrio, o que o corpo perde, o espírito ganharia (...).

Monteiro (2003), em Espaços internos e externos do corpo: envelhecimento e autonomia, destaca que, se o velho não tiver autonomia sobre o próprio corpo, ele perderá até a possibilidade de adquirir conhecimentos, pois não estará aberto às experimentações que a vida oferece. Essa teoria é preconizada por Maturana (1997) e afirma que o organismo sempre se relacionará com o ambiente externo enquanto estiver vivo, obtendo um sentimento de pertença.

Já Giddens (1993) afirma que o corpo é o instrumento para o ser humano conhecer o mundo, os outros e a si próprio, é a força expressiva de interação e vitalidade. Além disso, o corpo é, sobretudo, uma construção cultural e, como tal, deve ser estudado contextual e especificamente. A possibilidade de estar em contato com o mundo e com o outro provoca, segundo Monteiro (2003), a sensação de vitalidade. Em outras palavras, é a partir do “corpo externo” que se sente o “corpo interno”; ou, como no dizer de Merleau-Ponty (1971): o corpo é o veículo do ser-no-mundo.

Costa (2001) ratifica que o corpo deve ser analisado como um espaço de expressão da vitalidade e da comunicação. Dessa maneira, observar a corporeidade significa, ao mesmo tempo, observar os modos e estilos de vida do ser humano, a ser explorado a seguir. Por sua vez, Davidoff (2001) também relata que um corpo que vive sozinho e em ambientes pequenos, como um quarto, compromete sua saúde e vitalidade tanto em nível sensorial como no comportamental, pois o corpo necessita de espaço e movimento: “A exclusão privada favorece o processo de descorporificação, o desaparecimento da pessoa, porque sem o corpo não há existência, deixando lugar apenas para o diagnóstico” (MONTEIRO, 2003, p. 146).

A oferta de espaços maiores e coletivos pode favorecer a vida e a saúde do velho, proporcionando-lhe a sensação de vigor, bem-estar e, claro, vitalidade (PERRACINE, 2006). É por intermédio do corpo que o mundo do ser humano é construído, logo, se, com a chegada da velhice, há a total falta de movimento e pouco contato com o outro, o velho deixa de viver e passa a esperar pelo momento de sua morte; alguns, menos engajados em seus projetos, “defendem-se, entretanto, do declínio com energia, por um sentimento de dignidade. Vivem sua última idade como um desafio. É o tema da narrativa de Hemingway O velho e o mar” (BEAUVOIR, 1990, p. 385).

Costa Júnior (2003 p. 8) conclui vitalidade como sendo uma potência do ser, realmente existente em cada um, mas não necessariamente externalizada: “Vitalidade é o poder de criar além de si próprio sem perder a si próprio. Quanto maior poder de criação além de si próprio tem um ser, mais vitalidade tem ele”. Entre as expressões mais conhecidas da vitalidade está o lazer. O exercício físico, sob a forma do lazer, favorece a pessoa velha a minimizar os efeitos causados pelo processo natural de envelhecimento, tanto em nível patológico como, sobretudo, numa dimensão psicossocial.

O capítulo V do Estatuto do Idoso, de acordo com as exposições anteriores, é especialmente dedicado aos direitos fundamentais da educação, da cultura, do esporte e do lazer. Em relação à educação e ao lazer, é dever do Poder Público criar oportunidades de acesso a cursos especiais que abranjam também o domínio de novas tecnologias para a pessoa velha. No sentido da preservação da memória e da identidade culturais, os velhos devem participar das comemorações de caráter cívico ou cultural.

Assim, mais uma vez, os velhos têm direito ao desconto de 50% em eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer.
Ainda que o lazer, a partir da Constituição de 1988, tenha se transformado em direito de todos os cidadãos brasileiros e uma das obrigações do Estado, seu acesso ainda é bastante limitado. As organizações dos velhos, por intermédio dos Grupos de Convivência, representam a constituição de um espaço no qual podem ter acesso ao lazer por meio das atividades que desenvolvem. Torna-se oportuno e essencial, na atualidade, o desenvolvimento de uma dinâmica que permita pensar ou executar meios a fim de que recursos criativos para as pessoas velhas possam ser aplicados de maneira que entendam a urgência de seu crescimento demográfico e da importância de sua participação social, econômica, política e cultural. As condições atuais são muito mais favoráveis aos velhos que antigamente, pois

Em média, os nossos bisavós viviam 300 mil horas, trabalhavam 120 mil horas e dormiam 94 mil horas. Descontados os anos da infância e de escola primária, lhes restavam só 23 mil horas para dedicarem-se às atividades domésticas e de higiene, à reprodução, à diversão e à velhice (...). Por sorte, em somente duas gerações a sociedade industrial provocou mudanças revolucionárias, de modo que hoje aumentou a massa de pessoas que não trabalham no sentido estrito do termo (estudantes, desocupados e idosos), e mesmo aquela que trabalha dispõe de mais tempo livre. Subtraída a infância e os oito anos de escola obrigatória, o tempo que sobra, livre do cansaço e do sono, supera as 300 mil horas. Portanto, as horas de que dispomos como tempo vago são equivalentes a toda a existência de nossos bisavós (DE MASI, 2000, p. 316).

O lazer, na qualidade de expressão da vitalidade do ser, atua como confirmação e superação da vida, isto é, transcende o aspecto da idade na medida em que o velho age como sujeito ativo e político em seu meio social. Desenvolver potencialidades deve ser uma atividade constante humana e, na velhice, proporciona uma maior compreensão das perdas ocasionadas pelo envelhecimento. O lazer direcionado aos velhos emerge como um momento privilegiado em que os indivíduos são convencidos a assumir a responsabilidade pelo seu envelhecimento e, consequentemente, pela sua saúde, pela sua aparência, pela sua participação ativa na sociedade e, sobretudo, pela expressão de sua vitalidade (NERI & DEBERT, 1999).

É importante frisar, pois, que cada velho possui seu ritmo, advindo de suas experiências e modos de vida, tece a sua própria corporeidade de viver a sua vitalidade e que vai além de uma visão meramente cronológica, já que

(...) se o indíviduo se propuser, em qualquer atividade, imprimir toda a sua vontade e todo o seu potencial, fazendo o melhor possível dentro de suas limitações, não há justificativa para desânimo ou sentimento de inutilidade ou incompetência. As atividades podem ser adaptadas de acordo com os interesses e as necessidades dos idosos, valorizando-se mais o ato em si do que a velocidade imprimida ao movimento. A sua aprendizagem se faz de modo mais lento e talvez seja por isso que
eles conseguem cercar seus erros com mais prudência e rapidez
(COSTA JUNIOR, 2004, p. 3).

Em outras palavras, corpo e sociedade estabelecem uma relação dinâmica e recíproca. Mais importante que a longevidade é como vivê-la, ou seja, de que maneira se vive e se propaga a própria energia. É imprescindível garantir a vivência plena da corporeidade e, consequentemente, da vitalidade.

Os participantes do Centro de Convivência em estudo

A instituição estudada possui um quadro multiprofissional de equipe técnica, qual seja: uma pedagoga, duas assistentes sociais, um psicólogo, uma educadora social, uma auxiliar de educação. O Serviço Social surgiu na referida instituição por volta de 2004, no final da gestão do então prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães. Desde 2009, o Serviço Social conta com o apoio de um CRAS.
Dentre os programas e/ou projetos que o Centro desenvolve, destacam-se: Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade (PSBS); Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária (ProJovem); Programa Falando com a Comunidade do Instituto Municipal de Pesquisas, Administração e Recursos Humanos (Imparh); Programa de Inclusão Produtiva para Mulheres do Bolsa-Família; Programa Municipal de Atendimento Básico à Pessoa Idosa (Pabi). Após a aplicação de questionários, conclui-se que o perfil dos velhos encontrados no C.C.I. não difere muito do perfil nacional do segmento.

Em geral, a maior parte é feminina; encontra-se nas faixas de idade de 60 a 70 anos e 71 a 80 anos, respectivamente; mantém-se casada; possui um nível de escolaridade considerado baixo; é custeada por meio de benefícios sociais e previdenciários, os quais somam, majoritariamente, um salário mínimo; não trabalha e, por isso, muitas vezes, sobrevive desses benefícios; reside em casa própria e moram com duas a três pessoas; é natural do interior cearense.

Já nas estrevistas semiestruturadas, que dizem respeito ao lazer, foram levados em consideração os 62 velhos assíduos do grupo, entre os quais se recortou a amostra de 10%, ou seja, o equivalente a 6 sujeitos.

Como o objetivo deste trabalho é avaliar de que forma os velhos veem o lazer no Centro, como expressão de sua vitalidade, a amostra não foi aleatória, isto é, por meio da técnica da observação direta, constatou-se quais eram as pessoas mais apropriadas no momento para as entrevistas, as que mais participavam das atividades e as frequentadoras assíduas do Centro.

Observou-se que os velhos entrevistados estão entre 60 e 75 anos de idade, são, em sua maioria, casados, possuem Ensino Fundamental completo e são todos católicos. Como já foi ressaltado, também possuem outra característica em comum: estão numa fase ativa da vida, em que a vitalidade é expressa por meio das atividades de lazer.

Para fazer esta interpretação com o maior esmero possível, ela foi realizada com o embasamento metodológico da análise de conteúdo cuja técnica abrange a exploração do material, o tratamento dos resultados e a interpretação. De acordo com Bardin (1977), o estágio de exploração do material consiste em codificá-lo numericamente, ao passo que o tratamento e a interpretação dos resultados abrangem a fase em que o pesquisador, já embasado teoricamente sobre o tema, pode intercruzá-lo com a realidade apresentada, sistematizando as ilações. Dessa forma, “consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição, podem significar alguma coisa para o objectivo (sic) analítico escolhido” (BARDIN, 1977, p. 105).

De modo condensado, os entrevistados têm preferência pelas atividades religiosas, por passeios e viagens e pelas atividades festivas e de dança. Grande parte afirmou que não existem empencilhos para viver tais tipos de lazer e que, com a chegada da velhice, aumentaram as possibilidades de viver mais plenamente. Todos reconhecem o desconto de 50% em atividades lúdicas, respaldado pelo Estatuto do Idoso, porém seu acesso ainda é um processo.

Com relação às atividades desenvolvidas pelo Centro de Convivência, eles assinalaram a preferência por três delas, quais sejam: passear e/ou viajar, realizar atividades físicas e/ou esportivas, e participar das festas com música e dança. Já as atividades de que menos gostam promovidas pelo Centro são os jogos de mesa e as relacionadas com leitura e/ou escrita.

Considerações finais e sugestões

Antes de iniciar a análise final deste processo investigatório, faz-se necessário reconhecer, primordialmente, que ele não está acabado, muito pelo contrário, as proposições que serão lançadas agora neste espaço servem apenas como subsídio para reflexões maiores e mais profundas. Outrossim, não há, de forma alguma, o desejo de desmerecer esta construção teórica, pois ela é também um acréscimo aos diversos estudos que estão surgindo a respeito do velho e da velhice.

Este trabalho procurou, durante todo o processo, contribuir para uma maior reflexão sobre o velho e a velhice conectando-os com a questão do lazer como expressão da vitalidade. Então, a partir da descrição das atividades de lazer desenvolvidas pelo C.C.I. e da pesquisa realizada com os velhos participantes, puderam-se traçar as considerações que seguem.

Constatou-se, pois, ao longo de toda a trajetória da pesquisa, que o velho, independentemente de suas determinações sociais, sente a necessidade de estar em um ambiente onde o contato e a identificação com o outro sejam uma constante. Os Centros/Grupos de Convivência de Idosos, na qualidade de espaço de (re)socialização do indivíduo, representam uma nova visão de mundo para o velho, pois é ali que ele pode expressar a sua vitalidade, por meio das atividades de lazer.

A inserção do velho no grupo possibilita-lhe, portanto, um outro olhar ao mundo, na medida em que abre oportunidades ao novo. O fato de conhecer novas pessoas – mais do que isso, de identificar-se com elas – traz o sentimento de pertença e, com isso, surgem os elos de amizade, fundamentais no processo de autonomia e construção de novos projetos de vida. Ao adentrar o grupo, o velho passa a se interessar mais por si mesmo, a interagir com outras pessoas, a ser mais curioso pelo outro e por novas informações. Esses aprendizados representam uma forma de renovar a vitalidade e de viver mais e melhor.

No concernente aos resultados das entrevistas, concluiu-se que os interlocutores têm preferência pelas atividades religiosas, por passeios e viagens e pelas atividades festivas e de dança. Grande parte afirmou que não existem empencilhos para viver tais tipos de lazer e que, com a chegada da velhice, aumentaram as possibilidades de viver mais plenamente.Todos reconhecem o desconto de 50% em atividades lúdicas, respaldado pelo Estatuto do Idoso, porém seu acesso ainda é um privilégio para poucos.

Com relação às atividades desenvolvidas pelo C.C.I., eles assinalaram a preferência por três delas, quais sejam: passear e/ou viajar, realizar atividades físicas e/ou esportivas, e participar das festas com música e dança. Já as atividades de que menos gostam promovidas pelo Centro são os jogos de mesa e as relacionadas com leitura e/ou escrita.

O C.C.I. está situado no fala de Debert (1997, p. 162) em que constata que os “programas foram e estão sendo criados para resgatar a dignidade do idoso, reduzir os problemas da solidão, quebrar os preconceitos e estereótipos que os indivíduos tendem a internalizar”. É um espaço, portanto, onde o envelhecimento deixa de ser visto apenas como um momento de perdas, e passa a ser visto por meio de um novo olhar cuja experiência e os saberes acumulados no decorrer dos anos vividos fazem da velhice uma fase igualmente importante e significativa da vida.

Dessa maneira, percebeu-se que o lazer proporciona não somente o momento de diversão, o recorte do dia dos velhos, mas que possui um significado maior. As atividades de lazer emergem como uma estratégia interventiva para que o velho participe de projetos políticos e coletivos, e esteja, também dessa forma, expressando seu vitalismo. Em outras palavras, o velho sente-se vivo na medida em que tem voz, em que sua opinião é respeitada e levada em conta. No entanto, é preciso considerar também que o lazer para essa população é apenas uma parte do todo, ou seja, existem vários outros determinantes sociais que permeiam a vida desses velhos.

Considera-se, ainda, o Centro de Convivência um locus privilegiado para o lazer e momento de socialização dos velhos. Em razão da situação de pobreza dos partícipes, evidenciou-se que o Centro, muitas vezes, constitui-se o único equipamento social de que o sujeito dispõe para viver o seu lazer. Envelhecer com qualidade de vida na atualidade, e principalmente no Brasil, onde as desigualdades sociais e econômicas são tão acentuadas, revela-se como um grande desafio para a sociedade civil e para o Estado.

Torna-se emergencial, principalmente nos dias atuais, que o velho tenha, de fato, seus direitos garantidos, uma vez que, somente a partir de sua efetivação, ele poderá exercer sua cidadania e, assim, viver mais dignamente a sua longevidade. Para isso, é igualmente necessário que a equipe multidisciplinar existente nos Centros de Convivência esteja preparada, tanto numa perspectiva de formação profissional como de respeito e ética, para trabalhar e conviver com os velhos.

Outro apontamento é em relação à vida pública desses velhos, pois, de acordo com o que foi estudado, há muito os Centros deixaram de ser apenas um local de vivência do lazer. Para reivindicar direitos sociais é preciso conhecê-los e, acima de tudo, elevar as discussões a um patamar coletivo cujo objetivo permeie a luta pela cidadania e a garantia de direitos.

Assim, o grupo deve incentivar atividades que esclareçam os direitos do segmento, bem como propiciar momentos políticos de intervenção.

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