Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

A influência do gênero e a participação da mulher na solidariedade entre gerações

Introdução:

A população de idosos de países desenvolvidos e subdesenvolvidos está aumentando cada vez mais. No caso do Brasil esse processo de envelhecimento populacional, segundo Augusto (2003), é consequência de uma série de fatores, tais como a diminuição da taxa de natalidade, em razão da introdução e difusão de métodos contraceptivos orais; o aumento da expectativa de vida; o aumento da escolaridade feminina, e sua maior inserção no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de idosos em 1991 era de 10.722.705, passando para 14.536.029 em 2000. Já em 2010 foram aproximadamente 21 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade, representando 11,1% da população brasileira. Estima-se que esse contingente atinja 14% no ano de 2020, e que continue a crescer a taxas
elevadas (IBGE, 2010).

O envelhecimento da população apresenta desafios à sociedade, pois influencia o consumo, a transferência de bens, o mercado de trabalho e acima de tudo a organização familiar (SILVA, 2005). Diversos estudos (SANTOS, 2003; CALDAS, 2002; NERI et al., 2002; SAAD, 1997) tratam de idosos que se tornam dependentes de redes de apoio formal e/ou informal. As primeiras são representadas por hospitais, asilos e unidades de apoio domiciliar, ao passo que as redes de apoio informal funcionam
baseadas na solidariedade entre gerações.

Assim, esses estudos mostram os idosos representando ônus financeiro ou mesmo como um “fardo” para a família. Porém, hoje uma parcela significativa de idosos consegue manter não só o próprio sustento como também amparar sua família, por meio de transferências financeiras (OLIVEIRA & SILVA, 2007; AREOSA & AREOSA, 2008; ALMEIDA, 1998; LEAL et al., 2007; TAVARES et al., 2011).

Desse modo, entende-se por transferências o ato ou efeito de transferir recursos em forma de bens e serviços, que se reverte em ajuda, monetária ou não, para as famílias ou os indivíduos. As transferências oferecidas pelas famílias possuem duas subcategorias: herança e transferências entre vivos. Por herança compreende-se a transmissão de propriedade financeira ou de outra natureza, para outras pessoas, após a morte de alguém. As transferências entre vivos referem-se à transmissão de dinheiro, de bens e de serviços entre pessoas vivas (SILVA, 1994).

Ao analisar alguns estudos como os de Peixoto (2005), Vitale (2005) e Guedes et al. (2009), pode-se classificar as transferências (entre vivos) de recursos na família ou solidariedade familiar em financeira/material e afetiva/simbólica, que juntas constituem a base das relações familiares. A transferência de recursos chamada de financeira/material corresponde a pagamento de estudos, quitação de contas domésticas (água, luz, telefone, etc.), empréstimo de dinheiro, entre outros. Ao passo que a afetiva/simbólica compreende, em geral, atividades do cotidiano como auxílio nas tarefas domésticas, levar e buscar as crianças na escola ou ao médico.

Com relação aos fatores que influenciam na solidariedade entre gerações, Saad (2004) afirma que algumas características familiares aparecem frequentemente associadas a diferentes padrões de suporte. A importância do gênero, tanto dos pais quanto dos filhos, fica clara na definição dos fluxos de solidariedade. Uma pesquisa feita por Adams (1964) sobre os fatores que afetam a ajuda paterna aos filhos casados revelou que tal ajuda está relacionada ao tempo de casamento do filho, ao estrato ocupacional da família de origem e ao sexo do recebedor. Adams sugeriu que, em razão das diferenças de gênero quanto ao treinamento para ser independente, as jovens casadas tinham maior probabilidade de aceitar e de receber ajuda de seus pais do que os rapazes casados.

Analisando os diversos trabalhos encontrados pode-se perceber outro fato que deve ser destacado: a solidariedade familiar é bidirecional. Assim como existem filhos que necessitam da ajuda de seus pais, existem pais que por motivos financeiros ou de saúde são ajudados por seus filhos (PEIXOTO, 2005). Porém, este trabalho se centrou nas solidariedades familiares financeira/material e simbólica/ afetiva realizadas da geração mais velha para a mais nova.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi apresentar uma breve revisão bibliográfica identificando as formas de solidariedade que são oferecidas por idosos aos seus respectivos filhos e a influência do gênero nessa solidariedade.

Para atender ao objetivo proposto foi realizada uma busca bibliográfica e posteriormente uma seleção de artigos e livros que tratam do tema. Assim, pôde-se realizar uma discussão acerca da realidade vivida pelos aposentados e em especial sobre os papéis sociais desempenhados por homens e mulheres idosos dentro das famílias, compreendendo as estratégias familiares que buscam melhorias na qualidade de vida.

Solidariedade financeira/material

No Brasil, assim como nos países da América Latina em geral, o intercâmbio de ajuda entre pais e filhos tende a acontecer ao longo de todo o ciclo de vida familiar, como se existisse uma espécie de contrato intergeracional estipulando o papel dos diferentes membros da família em cada estágio do ciclo (SAAD, 2004).

Essas ajudas são usadas como estratégias de muitas famílias em momentos de dificuldades financeiras, isso porque, segundo Motta e Scott, apud Almeida (1998), existe uma parte da população que não tem condições para ter acesso ao crédito e a empréstimos, pois não possui renda suficiente para garantir o pagamento. Então, uma alternativa para essas pessoas é solicitar empréstimos a parentes. Assim, essas transferências são usadas com o objetivo de amenizar as condições precárias
de vida da população de baixa renda.

Pesquisas realizadas por Williams, apud Almeida (1998), mostram a importância das transferências de renda entre famílias para manutenção da subsistência, para sobrevivência e para melhoria da qualidade de vida. A autora afirma que, em muitos casos, apesar dos recursos limitados, os familiares fornecem ajuda financeira e de outros tipos às suas redes de parentesco.
Saad (1999) estudou as transferências entre gerações no Brasil e observou que, apesar de as relações de troca entre pais e filhos assegurarem a sobrevivência nas idades mais avançadas, em decorrência da situação de carência e desemprego que predomina em grande parte da população brasileira, é crescente o número de filhos adultos dependentes dos pais idosos, fazendo com que o rendimento de pensão destes se transforme na principal fonte de renda da família.

Neste sentido, deve-se destacar a pesquisa realizada por Peixoto (2004), na qual foi mostrado que grande parte dos pais com mais de 60 anos ajuda os filhos adultos tanto por meio da prestação de pequenos serviços quanto financeiramente. E essa ajuda financeira dos pais aposentados, em especial daqueles que têm duas fontes de renda – aposentadoria e trabalho informal, por exemplo –, desempenha um papel decisivo na organização familiar. Isso também é visto em estudos de Camarano (1999a) e Pessôa (2007), os quais mostram que as famílias brasileiras compostas de pessoas aposentadas se encontram em melhor situação econômica que as outras. Pesquisas de Oliveira e Silva (2007) corroboram essa assertiva quando destacam que as famílias que possuem mulheres aposentadas estão em melhores condições econômicas que as demais, pois as mulheres estão no centro das transferências de recursos.

Peixoto (2004), numa pesquisa com idosos, na cidade do Rio de Janeiro, que recebem pensão de aposentadoria de até sete salários mínimos, constatou que muitos desses aposentados continuam a trabalhar mesmo depois da aposentadoria. Os homens trabalham, em geral, como camelôs, carpinteiros, pintores de parede e motoristas de caminhão, ao passo que as mulheres exercem, principalmente, atividades domésticas remuneradas como costura, lavagem de roupa, produção de bolos e doces para vender, faxinas em domicílios ou venda de produtos de beleza. Um dos motivos de esses idosos continuarem trabalhando mesmo depois de se aposentar é a necessidade de socorrer financeiramente filhos e netos, pois esses aposentados afirmam saber o quanto a família depende dessa ajuda. Vários entrevistados confessaram estar cansados e ter vontade de se aposentar definitivamente, contudo, enquanto a família necessitar, eles continuam trabalhando.

Oliveira e Silva (2007) analisaram as transferências financeiras feitas aos parentes por pessoas idosas, por meio de empréstimos tomados de instituições financeiras, chegando a duas conclusões interessantes.

Primeiramente, entre as mulheres pesquisadas, 63,7% tomaram empréstimo para repassar o valor a seus filhos, ao passo que apenas 30,7% dos homens usaram essa mesma estratégia. Como pode ser visto, as mulheres aposentadas que participaram dessa pesquisa ajudaram os filhos financeiramente duas vezes mais que os homens.

Em segundo lugar, esse estudo realizado no município de Viçosa/MG sugeriu que a percepção dos filhos quanto à dívida assumida junto a seus pais e mães era variável: quando a ajuda era oferecida pelo pai, 26,7% dos filhos lhe devolveram a quantia emprestada; ao passo que nos casos em que a ajuda era oferecida pela mãe, o porcentual de devolução caiu para 14,3%. Assim, na maioria das vezes (85,7%) em que as mães utilizaram empréstimos tomados em instituições financeiras para ajudar
seus filhos, elas assumiram uma dívida sem que aqueles se sentissem na obrigação de pagar o empréstimo.

Um dos motivos pelos quais o filho não reembolsa a mãe parece estar ligado à percepção do papel social da mãe como sendo a pessoa que tem por obrigação cuidar e suprir as necessidades dos filhos. Do mesmo modo, a mãe parece se responsabilizar pelo pagamento do empréstimo feito para ajudar um filho, com base na ideia de que esse é o papel de mãe e é esse o comportamento que a família espera dela: que realmente ela seja a responsável por ajudar financeiramente os filhos e não cobrar reembolso.

Solidariedade afetiva/simbólica

De acordo com os dados de uma pesquisa sobre gênero, família e trabalho realizada por Peixoto (2005), as relações entre avôs/avós, filhos e netos demonstram que, quando as mães trabalham fora de casa, “ficar” e “cuidar” dos netos são tarefas das avós. Os homens aposentados auxiliam seus filhos duas vezes menos que as aposentadas nas atividades domésticas.

Esse estudo também mostrou que apenas 6,6% das mulheres de baixa renda que trabalham fora têm empregada doméstica. Isso porque são as avós que ajudam as filhas, assumindo a tarefa de prover e educar os netos. Nessa mesma temática, Moragas (2004) alerta sobre a possibilidade de essa ajuda resultar no abuso dos filhos, que deslocam todas as obrigações aos seus pais (avós) para o cuidado de seus filhos (netos).

Com relação às mulheres aposentadas, a pesquisa de Attias-Donfut (1995) confirma que são elas que, em geral, organizam-se em redes de ajuda para a realização das atividades domésticas; ao passo que os homens aposentados são duas vezes menos solidários e, essencialmente, para os trabalhos manuais e pequenos reparos.

Numa análise comparativa, Rossi (1986) e Shi (1993) declaram que as mulheres, em geral, aparecem muito mais engajadas em fluxos de apoio que os homens, o que costuma ser atribuído não só às suas maiores necessidades financeiras, mas também ao fato de serem elas mais apegadas emocionalmente aos filhos.

Dados da pesquisa de Leal et al. (2007), na qual foi investigada a importância das transferências e trocas com idosos no contexto familiar, corroboram com os citados acima, nos quais a questão do gênero nas ajudas dos idosos na família se compatibiliza com a forma “tradicional” de se desempenhar as funções do lar. Os trabalhos de manutenção doméstica, na forma de consertos e reformas, eram realizados predominantemente pelos homens, ao passo que as tarefas como cuidar de crianças e limpar a casa predominavam entre as mulheres. Essa pesquisa também expôs que as mulheres ajudam os filhos adultos duas vezes mais que os homens, 66,6% e 35,0%, respectivamente.

As marcas de gênero na solidariedade familiar

No século XIX, houve no Brasil uma focalização na educação feminina, mostrando a necessidade de ensinar as mulheres a ler, escrever e contar, de modo que se permitisse que estas se tornassem mães aptas a formar cidadãos bons e virtuosos. A educação voltada para a mulher consistia em aperfeiçoar as habilidades domésticas, preparando-a para o papel de mãe e esposa, pois as ações sociais exercidas por essas mulheres deveriam continuar restritas aos domínios domésticos (GALINDO, 1999).

O objetivo da educação da mulher para exercer apenas os papéis de mãe e esposa demonstra a representação existente do “lar” como esfera feminina e da “rua” como esfera masculina, fazendo com que a vida doméstica seja o “destino natural” da mulher. Segundo Passos (1999), essa divisão sexual é adquirida culturalmente e transmitida seguindo a tendênciade acreditar que esse direcionamento é natural: o masculino segue o caminho da agressividade, criatividade e do mundo externo, ao passo que o feminino, o da passividade, menor criatividade e do mundo doméstico.

No campo profissional, uma das consequências dessasatitudes é a mulher obter menos prestígio e carreiras mal remuneradas, exercendo atividades na área de ensino, cuidar eservir, como, por exemplo, secretárias, enfermeiras e professoras. Sendo essas atividades exercidas concomitantemente com os trabalhos domésticos (PASSOS, 1999).

Diante de tal situação, pode-se notar que as mulheres idosas de hoje tiveram muito menos oportunidades educacionais e de participação no mercado que os homens. Em consequência disso, atualmente essas mulheres possuem rendimentos mais baixos e mais escassos (MOTTA, 1999). Neste sentido, Attias-Donfut (2004) acrescenta que as mulheres são penalizadas na velhice por terem dividido seu tempo de vida entre o trabalho e as tarefas domésticas.

Entretanto, de acordo com a pesquisa de Oliveira e Silva (2007), mesmo passando por dificuldades por causa dos baixos rendimentos e se privando de algumas coisas, as mulheres são maioria em se tratando de solidariedade financeira.
Souto (1999) ressalta que são as mulheres idosas também que assumem novos papéis na família, como a responsabilidade
dos cuidados dos netos pela necessidade da participação da mulher no trabalho fora de casa.

Corroborando com Souto (1999), Vitale (2005) afirma que, no esteio das relações entre as gerações, os avós, mais especialmente as mulheres, convivem muitas vezes com a responsabilidade sobre o cuidado dos netos, somada às ajudas financeiras oferecidas aos filhos. Isso porque é das mulheres que a família espera – e delega – a assistência à geração mais nova.

Outra perspectiva existente é a das mulheres sós. Isso porque, como as mulheres excedem numericamente os homens – constituem pelo menos 60% da população idosa –, terminam ficando sem par estável, uma vez que os homens morrem mais cedo. Com isso, existe uma significativa parcela de mulheres solteiras, separadas ou viúvas, terminando por assumir um posto tradicionalmente masculino, mas crescentemente feminino, de chefes de família (MOTTA, 1999). Essas são as “avós chefes de família”, provedoras de um grupo familiar acerca do qual Camarano (1999b) afirma que existem poucas pessoas trabalhando. Com isso, pode-se perceber que nesses casos as mulheres contribuem afetiva e financeiramente para a manutenção da família.

Os diversos, novos e velhos, papéis desempenhados pelas mulheres aposentadas na família proporcionam a elas bem-estar, pois, de acordo com Souto (1999), os idosos buscam uma revalorização perante a sociedade, uma sensação de pertença, por meio da qual se sintam parte fundamental da família, sentimento esse que é perdido com a chegada da velhice.

Historicamente a invisibilidade da mulher mascarou o seu papel como sujeito ativo no mundo do trabalho e sua consequente contribuição na vida privada, particularmente para a sobrevivência familiar. Os relatos históricos davam destaque ao homem, branco e adulto, das camadas mais altas da sociedade. Essa invisibilidade passou, então, a ser questionada e modificada pela ação de pesquisadores e estudiosos que, conscientes do lugar da mulher na história, passaram a respeitar suas especificidades culturais.
Com o advento do feminismo são mostradas em várias pesquisas as conquistas sociais das mulheres, embora na área de ciências sociais seja nítida a escassez de estudos sobre os homens de idade. Motta (2009) realizou uma da poucas pesquisas sobre a participação do homem idoso na sociedade atual. A autora mostra que historicamente os homens ficaram socialmente quietos, pois não tinham revolução de gênero a fazer. Os homens não precisavam porque sempre tiveram liberdade de sair e se reunir em praças e jardins com outros homens para conversar. Essa constatação mostra, mais uma vez, que a educação do homem voltada para a vida pública e o trabalho acabou por fazer com que estes se engajassem, em menor proporção que as mulheres, nas atividades domésticas e nas necessidades dos filhos.

Conclusão

Os resultados encontrados nas bibliografias consultadas demonstram a grande importância de conceder aos indivíduos idosos oportunidades de inserção nas decisões sociais da sua própria vida. A significativa participação, tanto na solidariedade financeira quanto na afetiva, indica que eles estão muito além da condição de serem tratados somente como objetos de cuidado, tendo se mostrado, muitas vezes, como um apoio fundamental no qual a família se ampara.

Assim, faz-se necessário compreender o “novo” papel desempenhado pelos idosos em nossa sociedade, gerado por novas responsabilidades sociais que eles passam a assumir. Sendo assim, a imagem que se tem de aposentados como figuras dependentes e quase inválidas para o trabalho deve ser repensada, tanto pelo senso comum quanto pela comunidade científica.
É claramente visível a diferença existente entre as formas de solidariedade, afetiva e financeira, oferecidas pelo pai e pela mãe aos filhos. Outra diferença observada é na frequência da ajuda, sendo que as mães ajudam duas vezes mais que os pais, tanto afetiva quanto financeiramente. Assim, como cuidar dos outros faz parte do papel socialmente construído, designado às mulheres, são elas as responsáveis por auxiliar, ajudar e cuidar de seus filhos e depois de seus netos.

No Brasil, a perspectiva de gênero dentro das solidariedades familiares tem sido pouco debatida, tanto nos estudos sobre as questões contemporâneas quanto naqueles que pesquisam e tratam do envelhecimento. É importante considerar a categoria gênero em pesquisas e estudos que analisam qualquer aspecto relacionado ao envelhecimento, pois apesar de homens e mulheres terem em comum a situação da velhice, além das diferenças biológicas de cada sexo, eles foram educados de formas distintas. Isso fez com que homens e mulheres idosos de hoje trilhassem caminhos sociais diferentes.

Essa educação adquirida culturalmente, baseada na divisão sexual, foi construída pela própria sociedade, colocando os indivíduos em trajetórias diferentes, em que as mulheres foram educadas e treinadas para preparar-se para o papel de mãe e esposa. Assim, o “destino” das mulheres idosas de hoje é a vida doméstica e a família, e essa circunstância é um dos fatos que podem explicar essa maior participação das mulheres na solidariedade familiar.

Sendo assim, pode-se perceber que as aposentadas serem lembradas como figuras de cabelos brancos, fazendo crochê e cuidando da horta não corresponde ao perfil das aposentadas atuais, considerando as mudanças pelas quais as famílias passaram nas últimas décadas.

Diante disso, pode-se concluir que as mudanças dos laços familiares e a escassez de recursos que atinge as famílias demandam novos papéis, apresentando novas exigências para as mulheres idosas, que acabam por se tornar personagens de grande importância, tanto como auxiliares nas atividades domésticas e no cuidado com os netos quanto no sustento dos filhos adultos, mediante contribuições financeiras. Portanto, os apoios familiares parecem ser constitutivos de identidade feminina, mostrando que as mulheres estão no centro das solidariedades entre gerações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADAMS, B. N. Structural factors affecting parental aid to married children. Journal of Marriage and the Family, v. 26, p. 327-331, 1964.
ALMEIDA, A. A. Desemprego e transferências familiares. 1998. 48p. Dissertação (Mestrado em Economia Doméstica) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG, 1998.
AREOSA, S. V. C.; AREOSA, A. L. Envelhecimento e dependência: desafios a serem enfrentados. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 138-150. jan./jun. 2008.
ATTIAS-DONFUT, C. Les solidarités entre générations; vieillesse, familles, État. Paris: Nathan, 1995.
ATTIAS-DONFUT, C. Sexo e envelhecimento. In: PEIXOTO, C. E. (Org.). Família e envelhecimento. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004. p. 85-105.
AUGUSTO, H. A. Aposentadorias rurais e desenvolvimento municipal: o caso de Medina, nordeste mineiro. 2003. 175 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Lavras, Lavras/MG, 2003.
CALDAS, C. P. Contribuindo para a construção da rede de cuidados: trabalhando com a família do idoso de síndrome demencial. Textos sobre envelhecimento, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, 2002.
CAMARANO, A. A. Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: Ipea, 1999a.
_______. Como vai o idoso brasileiro?. Rio de Janeiro: Ipea, 1999b.
GALINDO, D. Educação feminina no século XIX: a formação de mães e esposas no Padre Carapuceiro (1832-1842). In: ÁLVARES, M. L. M.; SANTOS E. F. (Org.). Olhares & diversidades: os estudos sobre gênero no Norte e Nordeste. Belém: Gepem/CFCH/UFPA; Redor – N/NE, 1999. p. 235-249.
GUEDES, G. R.; QUEIROZ, B. L.; VANWEY, L. K. Transferências intergeracionais privadas na Amazônia rural brasileira. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 19, n. 2, set. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512009000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: fev. 2012.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados do Censo 2010. Diário Oficial da União, 4 nov. 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1233&id_pagina=1>. Acesso em: fev. 2012.
LEAL, S. M. R. A.; SILVA, N. M.; LORETO, M. D. S.;TEIXEIRA, K. M. D. A importância das transferências e trocas com idosos no contexto familiar social – Teixeiras-MG. Oikos, Viçosa, v. 18, n. 1, p. 156-177, 2007.
MORAGAS, R. M. As relações intergeracionais nas sociedades contemporâneas. A Terceira Idade, São Paulo, v. 15, n. 29, p. 7-27, jan. 2004.
MOTTA, A. B. Mulheres de mais idade. In: ÁLVARES, M. L. M.; SANTOS E. F. (Org.). Olhares & diversidades: os estudos sobre gênero no Norte e Nordeste. Belém: Gepem/CFCH/UFPA; Redor – N/NE, 1999. p. 167-178.
_______. O homem idoso e sua participação na sociedade atual. A Terceira Idade, São Paulo, v. 20, n. 46, p. 21-32, out. 2009.
NERI, A. L.; PINTO, M. E. B.; SOMMERHALDER, C.; PERRACINI, M. R.; YUASO, D. R. Cuidar de idosos no contexto da família: questões psicológicas e sociais. Campinas: Alínea, 2002.
OLIVEIRA, M. B.; SILVA, N. M. Empréstimos pessoais como meio de transferir recursos entre gerações: um estudo de caso. In: SIMPÓSIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 16., 2007,
Viçosa. Anais... Viçosa, UFV, p. 1.064, 2007.
PASSOS, E. Gênero e identidade. In: ÁLVARES, M. L. M.; SANTOS E. F. (Org.). Olhares & diversidades: os estudos sobre gênero no Norte e Nordeste. Belém: Gepem/CFCH/UFPA; Redor – N/NE, 1999. p. 19-32.
PEIXOTO, C. E. Aposentadoria: retorno ao trabalho e solidariedade familiar. In: PEIXOTO, C.E. (Org.). Família e envelhecimento. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004. p. 57-84.
_______. Solidariedade familiar intergeracional. In: ARAÚJO, C.; SCALON C. (Org.). Gênero, família e trabalho no Brasil. 1. ed. Rio de janeiro: Editora FGV, 2005. p. 225-240.
PESSÔA. E. M. Políticas sociais alternativas à institucionalização de idosos em municípios da região das Missões no Rio Grande do Sul. 2007. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, 2007.
ROSSI, A. S. Gender, personal traits, and the exchange of help between parents and adult children. In: ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN SOCIOLOGICAL ASSOCIATION, 81.,
New York, Anais… 1986.
SAAD, P. M. Transferências de apoio entre o idoso e a família no Nordeste e no Sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Estudos de População, Brasília, 14 (1/2), 1997.
_______. Transferências de apoio entre gerações no Brasil: um estudo para São Paulo e Fortaleza. In: CAMARANO, A. A. (Org.). Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: Ipea, 1999.
_______. Transferências de apoio intergeracional no Brasil e na América Latina. In: CAMARANO, A. A. (Org.). Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea, 2004. p. 169-209.
SANTOS, S. M. A. Idosos, família e cultura: um estudo sobre a construção do papel do cuidador. Campinas: Alínea, 2003.
SHI, L. Family financial and household support exchange between generations: a survey of Chinese rural elderly. The Gerontologist, v. 33, n. 4, p. 468-480, 1993.
SILVA, J. L. A. O idoso do município de Arambaré-RS: um contexto rural de envelhecimento.
2005. 177 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, 2005.
SILVA, N. M. A cross-sectional study of inter-household transfers of income and time. 1994.
124p. Tese (Doutorado em Economia da Família e do Consumidor) – Purdue University, 1994.
SOUTO, E. M. Neve na Serra: os grupos de convivência de idosos como espaço alternativo de sociabilidade feminina. In: ÁLVARES, M. L. M.; SANTOS E. F. (Org.). Olhares & diversidades: os estudos sobre gênero no Norte e Nordeste. Belém: Gepem/CFCH/UFPA; Redor – N/NE, 1999. p. 179-192.
TAVARES, V. O.; TEIXEIRA, K. M. D.; WAJNMAN, S.; LORETO, M. D. S. Interface entre a renda dos idosos aposentados rurais e o contexto familiar. Textos e Contextos, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 94-108, jan./jul. 2011.
VITALE, M. A. F. Avós: velhas e novas figuras da família contemporânea. In: ACOSTA, A. R.; VITALE, M. A. F. Família: redes, laços e políticas públicas. 2. ed. São Paulo: Cortez/ Instituto de Estudos Especiais – PUC/SP, 2005. p. 93-105.