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Grandes plateias em exposição

É cena comum hoje na capital paulista encontrar uma extensa fila à porta de museus ou instituições que abrigam grandes exposições brasileiras e estrangeiras. O número de frequentadores desses locais nunca foi tão expressivo. Mas a realidade nem sempre foi assim. Ela começou a ser mudada há cerca de 15 anos, quando se iniciou um movimento de aumento da oferta de equipamentos culturais e da forte internacionalização das exposições em São Paulo. Só para citar alguns exemplos de melhoria do cenário: em 2001 são inaugurados o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB SP) e o Instituto Tomie Ohtake; em 2004, é a vez do Museu Afro Brasil e da Estação Pinacoteca abrirem as portas; e, em 2011, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) ganha novo espaço, no Parque do Ibirapuera. As mudanças no circuito cultural paulistano incluíram também importantes reformas, entre outros, na Pinacoteca, no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Museu da Casa Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM) e no Itaú Cultural. Não é de espantar, portanto, que o público venha ano a ano ganhando familiaridade com o repertório das artes plásticas e compareça em peso a mostras de destaque e que a cidade tenha se tornado um polo artístico internacional.

A partir dos dados de duas pesquisas recentes, é possível ter uma ideia desse crescimento do público. Em 2008, o instituto Datafolha entrevistou 598 paulistanos e 26% destes declararam ter o hábito de visitar exposições. Dois anos depois, a pesquisa sobre hábitos culturais realizada pela consultoria J. Leiva Cultura & Esporte com 914 paulistanos chegou ao resultado de que 45% deste total iam a museus. O economista e criador da consultoria João Leiva acredita que, além do crescimento da oferta e revitalização dos equipamentos culturais na cidade, a realização de uma série de grandes mostras ajudou a popularizar o ato de ir a exposições.

Para o diretor do CCBB SP, Marcos Mantoan, atualmente as classes C e D têm mais condições de frequentar instituições culturais, o que faz com que o público, antes restrito a iniciados, tenha se expandido consideravelmente. Mas não se trata só disso, a importância das obras em exposição é fator determinante para atrair o público, afirma ele, se referindo às exposições Índia!, realizada em parceria com o Sesc, Antony Gormley – Corpos Presentes e Impressionismo: Paris e a Modernidade, que reuniram em média 4.900 pessoas por dia, no CCBB. “Hoje nós despertamos interesse nas instituições, não só brasileiras, mas internacionais, que vêm nos procurar, e isso é recente”, diz.

Para o ex-curador-chefe do Museu de Arte de São Paulo (Masp) Fábio Magalhães, responsável pela exposição Caravaggio e Seus Seguidores, maior bilheteria desse museu em 2012, até o mês de novembro, São Paulo faz parte do circuito internacional de artes plásticas desde a criação da Bienal, em 1951. “Obras que nunca tinham ido a países importantes, como Inglaterra e Alemanha, vieram para o Brasil pela Bienal; é o caso de Guernica, do Picasso. Isso foi um grande salto que teve continuidade posteriormente com a internacionalização dos museus, começando pelo Masp, depois com a Pinacoteca e hoje temos o Instituto Tomie Ohtake fazendo um trabalho intenso na área internacional”, explica. Segundo ele, a qualidade da oferta de exposições em São Paulo pode ser comparada à de Milão, Barcelona e Madri. “Ao mesmo tempo, em São Paulo, você tinha uma grande exposição impressionista no CCBB e o Caravaggio no Masp, além da Bienal e de outras no Tomie Ohtake etc. Então, a metrópole tinha duas grandes exposições de porte internacional acontecendo. Isso não é comum mesmo em grandes cidades”, afirma Magalhães.

A gerente do Itaú Cultural, Sofia Fan, relaciona esse momento privilegiado das artes plásticas na cidade ao interesse internacional pela arte brasileira e pelo mercado que ela movimenta e à melhora da situação econômica do país. “Esses fatores tornaram a cultura um bem e uma atividade cada vez mais acessíveis”, diz.

Além de atrair acervos importantes, muitas exposições internacionais que São Paulo recebe são idealizadas exclusivamente para o Brasil, como é o caso da recente do Caravaggio, a de Miró, Chagal e a Luzes do Norte – Desenhos e Gravuras da Coleção Barão de Rothschild, atualmente no Masp, entre outras. Esse tipo de exposição se diferencia das pré-formatadas, aquelas que já vêm prontas do exterior, que são comuns no mundo todo, pois têm custo reduzido devido à grande circulação.

Público interessado

Entre os fatores de sucesso de algumas mostras recentes estão o interesse do público – que, aliás, sempre existiu –, a própria concepção das exposições, com seções lúdicas e interativas, e uma maior flexibilização dos espaços expositivos. “Escher [em cartaz no CCBB SP até julho de 2012] foi uma das exposições mais visitadas da história brasileira e foi uma surpresa para os organizadores, não se imaginava que um artista desconhecido do grande público levaria tantas pessoas ao museu”, informa Magalhães, ex-curador-chefe do Masp. Segundo ele, isso aconteceu, pois, além da obra do artista gráfico holandês não ser difícil de ser compreendida, ela é muito curiosa e traz um jogo visual que intriga o observador. Mas, mais do que isso, a atividade interativa que a curadoria preparou atraiu um público enorme.

Mantoan acrescenta que a característica das mostras faz parte do projeto de formação de público do CCBB. “As pessoas têm necessidade de participar, tocar e sentir as obras, então, desde que autorizados pelos artistas e curadores, planejamos atividades de interação”, diz ele. “No Impressionismo, por exemplo, o museu não permitiu que fossem tiradas fotos dentro da sala, mas havia placas táteis. Por outro lado, o Antony Gormley não só permitiu as fotos, como também que as pessoas subissem nas obras. Em Índia! e Escher também era possível fotografar em alguns momentos e havia obras interativas.”

Outros pontos que, segundo Mantoan, contribuem para as constantes quebras de recordes de público são a gratuidade do ingresso e a divulgação das exposições tanto na imprensa quanto nas redes sociais. “Se você faz um projeto que tem duração de 60 dias sem que nenhum único dia ele deixe de constar em um veículo de comunicação, isso desperta a curiosidade das pessoas, a vontade.” Mas ele acredita que a enorme procura é também reflexo de um momento privilegiado das artes plásticas na cidade. “Tivemos uma felicidade enorme de estar no mesmo período do Caravaggio, da Bienal e de outras exposições importantes. Várias vezes ouvi pessoas dizendo que estavam fazendo um circuito dessas exposições.”

A interatividade também foi importante para fazer da exposição de Lygia Clark a mais visitada do ano no Itaú Cultural. “Apesar de a obra da Lygia ser bastante complexa, o aspecto lúdico atraiu muita gente. Poder entrar nos casulos, colocar as máscaras, as roupas, isso já faz parte da situação de comunicabilidade com que a artista trabalha, mas foi enfatizado pela curadoria”, afirma Magalhães.

Espaço informal

A flexibilização do ambiente para que as pessoas tenham contato com as obras de maneira mais informal é outra característica importante para a atração de público. Segundo João Leiva, o temor de não ser bem recebido ou achar que o local é muito solene são razões apontadas pelas pessoas para não frequentar museus.

Os planos de expansão de espaços expositivos mostram que o crescimento do circuito de artes plásticas da cidade está em plena ebulição. Em 2014, termina a reforma do edifício ao lado do Masp, que será incorporado ao museu, e o Instituto Moreira Salles (IMS) inaugura nova sede na Av. Paulista, entre as ruas Bela Cintra e Consolação. A Pinacoteca estuda a construção de um novo edifício no centro de São Paulo e a criação de uma filial em Botucatu, no interior paulista. O CCBB SP planeja uma nova sede, cogita-se que o terreno escolhido seria o quadrilátero formado pela Alameda Rio Claro e as ruas Pamplona, Itapeva e São Carlos do Pinhal, onde funcionava parte do Hospital Matarazzo. Já o Centro Cultural São Paulo (CCSP), que recebeu exposições importantes, como a de Nuno Ramos em 2003 e a comemorativa de 70 anos do Foto Cine Clube Bandeirante em 2009, passa pela primeira grande reforma deste sua inauguração. O objetivo é revitalizar e expandir os espaços e salas de espetáculos.

Para Magalhães, apesar de São Paulo ser um centro cultural importante, a geografia dos equipamentos culturais ainda é muito restrita ao centro e os museus que permitem públicos numerosos são poucos. Já Leiva diz que, apesar do público de artes plásticas ter tido um aumento percentualmente relevante, em números absolutos, ainda são poucos os que frequentam museus. “Muitos dos que não vão a museus alegam falta de interesse, mas, ao analisarmos os dados, percebemos que são as pessoas com menor escolaridade que respondem isso, e, conforme o grau de escolaridade aumenta, maior é o consumo de bens.

 

Caleidoscópio visual

Curadoria que privilegia temas e estéticas variadas e os grandes nomes da arte contemporânea marca a atuação do Sesc na área

O Sesc faz parte do cenário de aumento da oferta e qualidade das exposições em São Paulo. Apostando na diversidade de propostas, a programação inclui artistas e projetos nacionais e internacionais de destaque nas artes visuais contemporâneas. As unidades inauguradas nos últimos dez anos, com espaços dedicados a exposições, contribuíram para elevar a oferta de eventos da cidade. “É praticamente impossível acompanhar todas as exposições que estão acontecendo hoje, em São Paulo; vivemos uma efervescência muito grande e o Sesc é uma das instituições que têm participado ativamente desse cenário das artes visuais”, diz a assistente de artes visuais da Gerência de Ação Cultural Nilva Luz.

Entre os destaques da agenda de dezembro estão The Mediterranean Approach com obras de artistas de diferentes países localizados nos arredores do Mar Mediterrâneo no Sesc Pinheiros e a primeira mostra individual do videoartista Isaac Julien na América do Sul, intitulada Geopoéticas, no Pompeia. No Santana está em exposição Um Itinerário Gráfico com serigrafias de Beatriz Milhazes, e um panorama recente da produção artística iraniana pode ser visto em Pulso Iraniano no Vila Mariana. Já a unidade Rio Preto recebe Entre tantos: Geraldo de Barros. Algumas obras de artistas nacionais e internacionais que compõem a 30ª Bienal de São Paulo até 9 de dezembro, resultado da parceria do Sesc e da Fundação Bienal, partem para itinerância no Sesc Araraquara, Bauru e São José do Rio Preto, no primeiro semestre de 2013. Em janeiro, Trilhas do Brincar, no Santo André, e a reedição da exposição interativa Mil Brinquedos para a Criança Brasileira, de Lina Bo Bardi, no Pompeia, são as atrações para o público infantil.

Segundo Nilva, além das oficinas e cursos na área de artes plásticas realizados periodicamente, o programa de formação de público do Sesc inclui atividades educativas diversas idealizadas para cada exposição e perpassa a curadoria, que também leva em conta o potencial educativo das propostas. “Um dos exemplos dessa atuação é o fato de o número de escolas que atendemos aumentar a cada ano”, diz.

 

Arte campeã de bilheteria

Destaques de público nas últimas décadas em São Paulo

1995
150 mil pessoas formaram filas para ver as esculturas do francês Auguste Rodin na Pinacoteca. A mostra se tornou um marco das exposições recordes de público na cidade.

1997
Um dos expoentes do impressionismo, Claude Monet reuniu 
401.201 visitantes no Masp.

1998
Os quadros surrealistas de Salvador Dalí foram vistos por 200.143 pessoas no Masp.

1999
No total, o público foi de 202.522 pessoas na exposição do Masp que reuniu obras de Pablo Picasso realizadas durante a ocupação alemã de Paris na Segunda Guerra.

2000
Maior exposição de artes plásticas realizada no país, a Mostra do Redescobrimento trouxe cerca de 1,4 milhão de visitantes aos três pavilhões do Parque do Ibirapuera. No Sesc Pompeia, a exposição Êxodos, do fotógrafo Sebastião Salgado, recebeu 202.000 pessoas.

2007
As obras do artista alemão Kurt Schwitters, um dos precursores da criação pop e conceitual, atraíram 220 mil visitantes à Pinacoteca.

2009
137.540 pessoas foram à Pinacoteca ver a primeira exposição do francês Henri Matisse em São Paulo.

2011
Leonilson – Sob o Peso dos Meus Amores trouxe cerca de 60 mil visitantes ao Itaú Cultural.

2012
Três exposições fizeram do CCBB SP o recordista de filas do ano. Índia! reuniu 210 mil pessoas, O Mundo Mágico de Escher, 381 mil, e Impressionismo: Paris e a Modernidade, 325 mil.

As 20 obras do mestre barroco Caravaggio foram vistas por 185.117 pessoas no Masp.

Maior retrospectiva do escultor suíço, a exposição de Alberto Giacometti na Pinacoteca recebeu 125.629 pessoas.

Homenagem aos grandes ídolos da história do ritmo musical, a Let’s Rock atraiu 108 mil visitantes na OCA.

As obras de Lygia Clark, uma das fundadoras do Grupo Frente, marco concretista brasileiro, levaram 60 mil visitantes ao Itaú Cultural.

Fontes: CCBB SP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Itaú Cultural, Masp, Produção Let´s Rock