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Explosão Criativa

Considerada vanguarda das artes visuais brasileiras, a geração que começou a produzir no final da década de 1960 é objeto de estudos dos especialistas e do olhar curioso do público, continuando a desafiar a ambos ainda hoje. Exemplo disso é a produção do paulistano José Resende, arquiteto de formação, que se destacou nesse universo criativo. O aluno de Wesley Duke Lee (1931-2010) fundou, em parceria com os amigos Carlos Fajardo, Frederico Nasser e Luis Paulo Baravelli, a Escola Brasil (1970-1974), com o intento de ajudar na formação de novos artistas.

Tal geração, “por um lado, tem atrás de si os concretistas e neoconcretistas, ligados à linguagem geométrica e que já rompiam os limites da prática artística entre pintura, escultura, instalações e ações, pondo a racionalidade e a universalidade das formas em tensão com a experiência do espaço e sua relação com o corpo do artista e do espectador.

Por outro lado, teve embates com a formação de um mercado e um circuito de arte no país”, esclarece a professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Patrícia Corrêa, autora do livro José Resende (Cosac Naify, 2004).

Em sua opinião, a geração de Resende foi a primeira a viver uma maior circulação internacional de seu trabalho, participando de mostras, bienais e prêmios. “Tudo isso contribui para uma produção aberta em termos de materiais, procedimentos e escalas, mas muito interessada no espaço público, com todos os problemas, precariedades e motivações que isso supõe nas grandes cidades brasileiras”, acrescenta.

Especialmente sobre Resende, Patrícia observa que sua produção sempre foi alimentada pela possibilidade de abordar os contrapontos da complexidade e da fragilidade. Sobre os materiais escolhidos por ele em suas composições, faz um adendo: “Não há tanto interesse nas propriedades físicas dos materiais quanto nas suas possibilidades plásticas, ou seja, na relação que se estabelece entre certas ações e materiais que fazem com que estes se estruturem no espaço”.

Sobre as esculturas de sua autoria, ligadas a objetos tridimensionais feitos em materiais poucos flexíveis ostentados no solo ou em outro tipo de suporte, a pesquisadora cita como referência a estatuária clássica greco-romana. Segundo ela, o trabalho de Resende pode ser associado a uma produção contemporânea de escultura, pois é originário do processo de transformação da prática escultórica vigente no século 20.

“Fundamentalmente, essa prática contemporânea envolve nossa percepção e os sentidos que atribuímos ao espaço em suas diversas dimensões, o espaço do nosso corpo, de nossas histórias, nossas cidades, daquilo que está bem perto e nos toca, e daquilo que está longe e de algum modo também nos atinge”, completa.

Tal abrangência criadora está sendo renovada por meio da intervenção Cabana do Vento, em exposição no Sesc Belenzinho e produzida pelo artista especialmente para a ocasião. Para Patrícia, ficam reservadas a cada espectador as sensações estimuladas pela visualização do trabalho, e muitos pontos são considerados, desde o local da instalação, passando pela luz, seus reflexos, transparências, e a movimentação diária dos frequentadores, que impactará o jeito como a obra se relacionará com o ambiente e, logo, com as pessoas.

“Depende de cada um as sensações e os sentidos dessa massa translúcida e esvoaçante, mas podemos imaginar que ela será de uma suavidade contrastante com esse lugar cheio de estímulos sensoriais, talvez como um intervalo, um tempo suspenso para quem passa por ali, indo de um lugar a outro”, resume.

Espaço da ARTE

Projeto Vão, do Sesc Belenzinho, chega à terceira edição, com o objetivo de alimentar a discussão sobre a relação da escultura com os espaços

Até o dia 4 de agosto será possível contemplar a intervenção Cabana do Vento, criada pelo artista plástico paulistano José Resende especialmente para o projeto Vão, dedicado às artes visuais no átrio da unidade Belenzinho.

Além da ação de ocupação da área central da torre do Belenzinho a partir de propostas exclusivas de convidados, como a intervenção de Resende, o projeto é composto da mostra Risco #3, que reúne artistas que desenvolvem poéticas utilizando as linguagens tradicionais – desenho, gravura, pintura e escultura.

Quem explica a dinâmica das instalações que ocupam o átrio é o técnico de artes visuais da unidade, Alcimar Frazão. “Estamos trabalhando com essa geração de artistas brasileiros ligados à experiência tridimensional, cuja produção ganhou mais repercussão a partir da década de 1960”. José Resende é o terceiro convidado; a primeira artista a participar do Vão foi Carmela Gross e, em seguida, Carlos Fajardo.

“Nossa intenção com essa ocupação é trazer para a ordem do dia a discussão da escultura com os espaços e a experiência do tridimensional em outra escala, diferente do que ocorre em galerias, por exemplo. Interessante que, apesar da intensidade do trabalho, são experiências quase efêmeras, que não podem se repetir integralmente em outros lugares”, analisa Frazão.

Para ter a dimensão do intento artístico, Cabana do Vento possui cerca de 15 metros de comprimento. Ela fica suspensa, chegando a 3,5 metros a partir do solo. Na opinião de Frazão, José Resende é o escultor brasileiro contemporâneo na acepção mais completa do termo: “Visualmente é muito pesado, pois é uma caixa gigante, mas de um lado ele anula essa qualidade, reafirmando a sutileza do tecido, revelada nos pequenos movimentos da peça. Ele traz formas e lança pistas de como podemos entender a escultura no nosso momento”.