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São Paulo na tela

Em Alma Corsária, filme de Carlos Reichenbach (1945-2012), lançado em 1993, um homem salva outro que estava prestes a abreviar a própria vida saltando de um viaduto. Logo depois, os dois aparecem comendo pastel em um bar típico da região central de São Paulo.

Encontros e desencontros, descortinando o descortinando as relações humanas, têm neste e em outros títulos conhecidos do cinema nacional um cenário nada secundário, aproveitando a arquitetura, as formas e a dinâmica social paulistana, que não passam incólumes e deixam seu traço na história audiovisual brasileira.

A cidade também é forte inspiração para o diretor dos filmes Contra Todos (2003) e Quanto Dura o Amor? (2009), o cineasta Roberto Moreira, que assegura a impossibilidade de ambas as histórias acontecerem fora de São Paulo: “Contra Todos mostrava como a violência é parte do cotidiano da periferia da cidade, um universo onde vive a maior parte da população e que não tinha muita visibilidade. Já Quanto Dura o Amor? trata de como a cidade promete, mas depois sobra o desencanto e a ilusão. Nele, toda a ação se desenvolve na região central.”

Um diretor lembrado por sua relação com o ambiente urbano é Woody Allen e seu envolvimento emocional com Nova York, que ficou explícito no filme Manhattan (1979). No decorrer da carreira, acaboupor atrair olhares de produtores ao redor do mundo, inclusive do Brasil, que desejavam que o cineasta também voltasse a sua atenção para outros cenários, exercício que pode ser assistido em títulos recentes, como Vicky Cristina Barcelona (2008), Meia-Noite em Paris (2011) e Para Roma, com Amor (2012).

Essa apreciação urbana que se expressa na tela também se desmembrou na cidade de São Paulo com a programação de filmes escolhidos para estrelar o cineclube Belém, que aconteceu no Sesc Belenzinho entre os dias 13 e 27 de janeiro, mês no qual a cidade completa 459 anos.

Em um recorte cronológico, a cidade vem sendo retratada desde os anos 1920-1930, tendo como alicerce a exaltação à urbanização. O entendimento posterior é que o marco na produção ficcional foi São Paulo S/A (1965), de Luís Sérgio Person (1936-1976). Na opinião do crítico de cinema Marcelo Lyra, atualmente não há uma tendência ou linha estética que predomine nesse tipo de filme, “mas observo um enfoque em temas que abordam a individualidade e a solidão das pessoas”, completa.

Compor um painel cinematográfico de um centro cultural e financeiro rico em diversidade como São Paulo é estimulante para os cineastas que mergulham nesse contexto. Moreira se considera um cineasta submerso em tal vivência, desde a juventude: “Conheci a noite paulistana principalmente nos anos de 1980. Frequentei o tradicional bairro do Bixiga e os primeiros bares da Vila Madalena. Acho que essa experiência noturna é a praia do jovem paulistano, que sai de casa e descobre a diversidade da região”.

Frente a frente com a cidade

Cineclube belém traz produções importantes que têm São Paulo como cenário

A facilidade em fazer download de um filme e assisti-lo no computador já é parte da rotina de muitos cinéfilos, mas há aqueles que não trocam a sala escura do cinema por nenhum auxílio proporcionado pela tecnologia e é para eles que foi idealizado o Cineclube Belém, que ocorre no Sesc Belenzinho. Com o objetivo de difundir a cultura cinematográfica, a programação é variada, além de serum local de encontro para conversas – nos moldes dos tradicionais cineclubes onde as pessoas assistem ao filme e depois conversam sobre ele.

O ciclo que ficou em cartaz em janeiro foi especial. Em decorrência do aniversário da cidade de São Paulo, comemorado no dia 25 de janeiro, foram exibidos filmes que têm a cidade como tema ou cenário. Entre os títulos estavam Alma Corsária (1993), de Carlos Reichenbach (1945-2012), Durval Discos (2002), de Anna Muylaert, e o Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla (1946-2004).

Segundo a técnica do Núcleo de Imagem e Palavra do Sesc Belenzinho Catia Leandro, a escolha dos filmes tentou mostrar diretores de diferentes épocas. “Queríamos que o espectador visse São Paulo por diversos ângulos, a convivência entre o lado B e o lado A”. Para o crítico Marcelo Lyra, “os filmes compuseram um bom painel da cidade, abordando as contradições tanto individuais quanto coletivas dos personagens”.