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O diretor Pablo Giorgelli fala sobre seu primeiro longa, “Las Acácias”, premiado em Cannes

O diretor na sessão de pré-estreia de 'Las Acácias' no CineSesc<br>Foto: Equipe CineSesc
O diretor na sessão de pré-estreia de 'Las Acácias' no CineSesc
Foto: Equipe CineSesc

Em entrevista à EOnline, o cineasta argentino contou detalhes da criação do filme e os ‘milagres’ que se sucederam, como a premiação inesperada em Cannes e o sucesso de crítica. A produção fica em cartaz no CineSesc até 13/out

O argentino Pablo Giorgelli esteve no CineSesc para abrir a sessão de seu primeiro longa, Las Acácias, na semana de pré-estreia da produção. Depois da fala de agradecimento, pediu um café e fumou um cigarro para ficar disponível às entrevistas que se sucederiam - já que ele não fazia questão de ver o longa, “depois de tantas vezes”.

Simpático e aberto aos questionamentos, o cineasta nos conta que dedicou cinco anos ao projeto, o qual começou em meio a uma crise pessoal e que resultou em seu primeiro longa-metragem, cuja estreia foi na Semana da Crítica da 64ª edição do Festival de Cannes, em 2011. De lá, para sua surpresa, Pablo saiu com o prêmio Camera d’Or (Câmera de Ouro) para melhor diretor estreante. Na entrevista para a EOnline, Pablo falou de milagres na escolha do casting, na finalização do longa e na vida própria que o filme ‘ganhou’ a partir do reconhecimento em Cannes. Leia a seguir.

EOnline: Las Acácias é um road-movie não-convencional, focado nas pequenas ações e sentimentos dos personagens. Como surgiu a ideia para o longa?
Pablo Giorgelli: Foi um processo muito grande. A princípio eu não tinha claro que essa história era o que eu queria contar, e fui descobrindo o filme aos poucos. Foram dois anos somente escrevendo o roteiro e neste tempo encontrei o filme, sobretudo o tom que gostaria, mais simples e austero. Ele é focado no vazio interior de um homem com o tema da paternidade. É um filme sobre a paternidade - mas eu não sabia disso enquanto escrevia, só quando terminei o roteiro e dei o material para um amigo ler, ganhei dele essa definição.

EOnline: Como foi a escolha dos personagens, que parecem tão conectados em cena?
P. G.: Busquei os atores durante um ano, pois sabia que eles eram a chave do filme e por isso eu não podia errar. Minha primeira ideia era trabalhar com um caminhoneiro de verdade, mas não queria improvisos durante as filmagens. Fiz um casting de atores e encontrei German da Silva [Rubén, na trama] e em muitos festivais me perguntavam “Ele é ator ou caminhoneiro mesmo?”, o que é um bom elogio ao trabalho dele no filme. No caso da personagem Jacinta, passei um ano à procura no Paraguai e Hebe [Duarte] era assistente de casting, e finalmente um dia surgiu a ideia de fazer uma prova com ela, porque fisicamente me parecia a pessoa ideal. Com a bebê, bem foi um milagre! Não há outra palavra para isso porque a encontramos apenas um mês antes das filmagens, e já no casting ela se mostrava uma criança muito especial, como é no filme.

EOline: Esse é o seu primeiro longa. Antes dele você roteirizou e filmou curtas-metragens. Como diretor, qual é a diferença entre esses formatos?
P. G.: Comecei a fazer curtas há 20 anos, ainda na faculdade. Depois trabalhei na televisão, em publicidade e fiz muitos documentários. Antes de Las Acácias tinha ainda dois roteiros que não pude filmar, sobretudo por razões pessoais. Então, quando apareceu essa ideia eu estava mais seguro, já tinha feito várias coisas e não me sentia um diretor estreante - embora esse seja meu longa de estreia - e creio que por isso o trabalho ficou pronto agora e não antes.

EOline: Imagino que ganhar um prêmio em Cannes com seu primeiro longa tenha sido uma ótima forma de estrear…
P. G.: Quando estávamos finalizando o filme aconteceu esse outro milagre, que foi ele ser exibido no Festival de Cannes. Eu só havia me encontrado casualmente com uma pessoa do festival e lhe contei sobre o filme. Também por acaso eu tinha comigo uma cópia não-finalizada do longa e lhe entreguei. Três meses mais tarde fomos convidados ao festival e aí, bem, se passou outro milagre ainda mais incrível, que foi ganhar o prêmio Camera d’Or, que mudou a vida do filme. Depois de Cannes, Las Acácias ganhou mais 30 prêmios em festivais importantes como o London Film Festival e estreou comercialmente em muitos países. Na França, especialmente, foi um sucesso de público, exibido em 70 salas.

EOnline: E como resultou esse prêmio na sua carreira? Já se sentiu mais seguro para realizar outros projetos?
P. G.: Não, agora é pior (risos). Porque não sei o que fazer e tenho uma ideia - um roteiro que já escrevia antes de Las Acácias que trata da relação entre um menino e sua avó - que estou retomando. Nesse tempo também fiquei um pouco afastado do cinema porque acabo de me tornar pai de uma menina - agora só falta comprar o caminhão! (risos) Enfim, voltei mas meu jeito de trabalhar necessita de tempo, e pela primeira vez acontece o contrário na minha vida, que é ter produtores dizendo “e aí? tem um projeto?”. Prefiro tentar novamente um filme que tenha a ver comigo, que fale de coisas que me são raras e que tenho necessidade de explorar.

EOnline: Como você sente a recepção do público em relação ao filme?
P. G.: A primeira vez que projetei o filme foi em Cannes. Agora, depois de dois anos do lançamento, é visto que o filme se conecta ao público. Creio que isso tem a ver com o fato de que trata de um assunto universal. Na Coreia ou aqui, todos somos filhos e muitos são pais. O surpreendente, para mim, é que a crítica também recebeu bem o filme. O que mais quero é que ele chegue às pessoas em uma sala de cinema. Aí sim o ciclo se completa - para mim não é a mesma coisa se não há uma estreia. Por isso sigo tentando novos lugares para exibi-lo.

EOnline: Depois de ser visto em 70 salas na França, como foi a recepção em ‘casa’, na América Latina?
P. G.: Foi o mais complicada. Na Argentina o filme foi bem, mas tive que lutar muito para conseguir salas. Está muito difícil a distribuição para filmes que não têm atores conhecidos ou que os donos das salas pensam que não são comerciais… Eu acredito que as pessoas gostem das nossas próprias histórias, é só uma questão de ter espaço porque as salas de cinema estão tomadas, especialmente pelo cinema norte-americano. Não há muitos espaços como este [referindo-se ao CineSesc] e distribuidoras que corram algum risco. Acho que a força de prêmios fez a diferença. O filme foi a diversos festivais mas quase não estreou nas salas, exceto no Uruguai e agora aqui, no Brasil, que era um dos meus objetivos já em Cannes.

EOnline: E como você vê a acolhida brasileira?
P. G.: A produção foi muito bem recebida no Brasil! No Festival de Curitiba ganhamos o prêmio de público - o único lugar do mundo em que ganhamos o prêmio do público, e por isso estou muito contente de estarmos aqui.

O diretor tem um canal no Youtube em que você pode acompanhar entrevistas e curtas-metragens.

A seguir, você pode assistir ao trailer de Las Acácias:

o que: Las Acácias
quando:

de 4 a 13/outubro

onde:

CineSesc