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Tabuleiro, o Jogo Múltiplo da Arte

Montes de folhas empilhadas, luz e dança no espetáculo Tabuleiro<br>Foto: Kriz Knack
Montes de folhas empilhadas, luz e dança no espetáculo Tabuleiro
Foto: Kriz Knack

Sesc Santo Amaro recebe, até 15/set, instalação coreográfica com linguagens múltiplas que reúnem música, dança, artes plásticas e visuais e interage com o espaço à sua volta


Tabuleiro é uma instalação coreográfica, um lugar em que acontece uma conversa "entre as quatro linguagens: a linguagem das artes plásticas, dança, música e vídeo, criando um espaço de fricção entre elas e partir da constituição da instalação", conta Edith Derdyk , uma das responsáveis pela direção e pela concepção. ""Não é um trabalho de dança a serviço de uma obra ou uma obra servindo como cenário para os intérpretes criadores desenvolverem a sua composição coreográfica", explica.

Com a definição linear de uma “prancha de madeira ou similar sobre a qual se movimentam as peças de um jogo”, artistas como Derdyk e Lua Tatit, responsáveis pela direção e concepção, oferecem ao público diferentes perspectivas complexas por meio da arte. Além disso convidados como Dudu Tsuda, que produz a instalação sonora e a trilha original complementam trazendo mais um diferecial ao projeto. A equipe conta com ainda com Isabela Santana na dança e interpretação, atuando nos Espetáculos juntamente com Lua Tatit, e despertando novas reflexões.



(uma visão poética da obra - vídeo de Rodrigo Gontijo)

Algumas oficinas também fazem parte do projeto e, na presença dos artistas e do público, provocam a discussão das relações entre música e ocupação de espaços alternativos, corpo e a especificidade dos espaços, incluindo os elementos das artes visuais. Faz parte da instalação, que foi concebida pela artista plástica, educadora e ilustradora Edith Derdyk, uma Exposição que fica aberta ao público para experimentações. Rodrigo Gontijo, por meio de uma videoinstalação, consegue traduzir e disponibilizar aos presentes, registros da montagem e das pesquisas realizadas durante todo o processo de trabalho.

O projeto se integra com a arquitetura do Sesc Santo Amaro, no Espaço Das Artes, sala onde está o Tabuleiro e onde ocorrem os espetáculos e as oficinas. As paredes todas de vidro facilitam a interação da instalação com o espaço arquitetônico e com o trânsito dos passantes e isso motivou bastante a artista, considerando todo o processo de experiência colaborativo. Sob este ponto de vista, o trabalho pode ser algo diferente quando ocorrer em outro local, trazendo uma ideia de que ele é único em cada lugar onde possui uma configuração própria.

A EOnline conversou com Edith Derdyk e Lua Tatit sobre os detalhes envolvidos na pesquisa e realização do Tabuleiro. Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista:

EOnline: Você poderia contar um pouco mais sobre os conceitos e processos pensados na concepção do trabalho?
Lua Tatit: A ideia veio uma vez que eu ajudei a minha mãe (Edith) a montar esse trabalho. No próprio ato, na ação, no gesto da construção do tabuleiro, da repetição a relação com as folhas e o tempo de construção foi me instigando, me dando vontade de propor uma criação a partir da construção que se relacionasse diretamente com a ideia do trabalho: com os desníveis, com as folhas, a sobreposição, a repetição do gesto nessa construção. A partir disso veio o interesse de trabalhar essa passagem do gesto funcional para um gesto poético.

EOnline: Como a instalação coreográfica contribui na pesquisa sobre as relações entre as linguagens como a música, dança, artes plásticas e visuais?
Edith Derdyk: Exatamente a partir desta experiência que a Lua acabou de falar, quer dizer, a partir do momento que uma profissional da dança se envolve na construção da instalação de uma artista plástica, a gente percebeu que existe um espaço possível de conversas entre essas duas linguagens, a dança e as artes plásticas. O corpo do trabalho e o corpo do intérprete podem gerar um terceiro lugar; então a gente convidou o Dudu Tsuda para constituir o terceiro corpo que é o da música e o Rodrigo Gontijo para constituir o quarto corpo, que é o da imagem. Não é um trabalho de dança a serviço de uma obra ou uma obra servindo como cenário para os intérpretes criadores desenvolverem a sua composição coreográfica, mas seria um outro lugar onde houvesse essa conversa entre as quatro linguagens: a linguagem das artes plásticas, dança, música e vídeo, criando um espaço de fricção entre elas e partir da constituição da instalação. Como a Lua descreveu: montes de folhas de papel empilhadas criando um chão cheio de relevos que tem gestos contidos nele, os quais estõ relacionados com repetição e sobreposição, a Lua acabou desenvolvendo um trabalho de dança que mexe com esses conteúdos e a música também, ela nasceu a partir destes pressupostos. E a partir das relações entre essas linguagens a gente foi criando o trabalho.

EOnline: Quais são as principais referências carregadas por vocês para a concepção deste trabalho?
E. D.: Como estamos trabalhando com quatro linguagens, cada um traz um campo de referências muito próprio: a sua experiência, o que enriquece muito. Eu acabo aprendendo dança, a Lua aprende sobre música, o Dudu sobre artes plásticas comigo e assim por diante. Então, cada um vai trazendo um campo. Da minha parte, eu traria o Richard Serra e Sol LeWitt (minimalistas), Paul Valéry e Merleau-Ponty (filósofos).
L. T.: Para mim, uma influência muito grande é o trabalho da Anne Teresa De Keersmaeker (coreógrafa) que trabalha muito com a repetição, tem uma relação com a música muito pontual no trabalho dela.

EOnline: Como foi o trabalho de construção coletiva que envolveu artistas como Dudu Tsuda, Isabela Santana, Rodrigo Gontijo, Marisa Bentivegna entre outros?
E. D.: Na verdade está sendo. Eu acho que a oportunidade de montar este trabalho aqui no Sesc inaugurou um gerúndio. Eu acho que foi, mas a partir de agora ele continuará sendo, porque não é um trabalho fechado; abriu muitas possibilidades de pesquisa nesta inter-relação entre as linguagens.

o que: Tabuleiro
quando:

de 10 até 15/setembro

onde:

Sesc Santo Amaro

o que: Última oficina: Artes Visuais e Site Specific com Edith Derdyk
Encontro com a artista discutindo as relações entre artes visuais e espaços alternativos, apresentação dos percursos e conceitos de site-specific na História da Arte através de imagens e pequenos textos e apresentação do processo de construção do espaço no Tabuleiro. Proposições práticas a partir de enunciados elaborados coletivamente.
quando:

14/setembro

às 10h30

onde:

Sesc Santo Amaro