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No alto da metrópole

Do topo do Edifício Altino Arantes, vista a partir do centro velho paulistano
Do topo do Edifício Altino Arantes, vista a partir do centro velho paulistano




Edifícios da região central tornaram-se símbolos do crescimento da cidade e modificaram a paisagem urbana ao seu redor



Prédios com mais de dez andares, arranha-céus, novas avenidas e ruas pelas quais seria inimaginável a circulação de veículos. O desenho irregular de São Paulo foi traçado na modernização incontida da metrópole, que em 25 de janeiro completou 460 anos.


Nesse processo de crescimento, construções emblemáticas da cidade mantêm sua força e conservam a história da paisagem local. É o caso do edifício Martinelli, do Copan, do Altino Arantes e do edifício Itália, construídos entre os anos 1920 e 1950 e considerados marcos arquitetônicos.


Segundo explica o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Renato Cymbalista, nessa transição de uma cidade no início da industrialização para um polo econômico importante, os impactos de construção de cada prédio citado foram distintos para cada época. “O Martinelli, construído no final dos anos 1920, foi significativa mudança de projeto de cidade. Até então, a imagem perseguida era nitidamente parisiense, com edifícios de até seis andares e gabarito homogêneo. O Martinelli significou uma guinada rumo a uma cidade de feição mais norte-americana, com arranha-céus”, explica. Ao redor da construção encontram-se pontos importantes da época, como o Largo São Bento e o Vale do Anhangabaú. Antes do início da obra, em 1887, o que havia no lugar do Martinelli era o Hotel Itália Brasil. São verídicas as histórias de como o Martinelli gerou impacto, pois edifícios com essas características eram inéditos até então. O projeto inicial dizia respeito a um prédio de 12 andares, que depois passou para 14, mas, em 1928, já possuía 20 andares. “Um caso expressivo foi de quando, em 1933, um Zeppelin – dirigível utilizado para transporte de passageiros – sobrevoou a cidade e completou uma volta por trás do edifício”, comenta o professor titular de paisagismo da FAU Sílvio Soares Macedo.



Verticalização da metrópole


Já no final da década de 1930, o Altino Arantes representou a incorporação de regras de edificação que vinham sendo adotadas em Nova York, com edifícios escalonados, cujo modelo mais famoso é o Empire State Building. Sua localização era simbolizada pelo antigo centro bancário da cidade, formado pelas ruas São Bento, XV de Novembro e Direita, esta última conhecida como uma das ruas de comércio temático do bairro da Sé, famosa pela venda de utilidades domésticas.


Símbolo da arquitetura modernista, o edifício Copan, projetado em 1950 por Oscar Niemeyer, (1907-2012), traz outras perspectivas para a arquitetura. “É o ponto alto de um tipo de verticalização que foi muito influente. O edifício descola-se dos limites do lote, buscando uma espécie de espaço semipúblico, com possibilidades de cruzamentos pelo interior da quadra e também com uma galeria de comércio e serviços no térreo”, analisa Cymbalista.


Nesse contexto, evidencia-se o aumento da malha urbana – ou seja, ruas, terrenos e construções –, acompanhada de potente crescimento populacional na região central e consequente verticalização das construções, fato que na opinião de Cymbalista não é necessariamente negativo. “Uma cidade de milhões de habitantes precisa se verticalizar, porque a alternativa é um espraiamento quase infinito de urbe. Mas a nossa verticalização ocorreu com muitos problemas”, explica. “A verticalização desejável é aquela que permite um grande adensamento populacional em locais onde já existe uma boa infraestrutura instalada, de forma que mais pessoas aproveitem os bons espaços da cidade, além de permitir a convivência entre diferentes usos (comercial, residencial, institucional) e também a convivência entre as diferentes classes sociais.”


Para o professor Sílvio, esses edifícios são considerados marcos da paisagem da área central até hoje. “São Paulo era visualmente homogênea, mas, devido ao modelo arquitetônico desenvolvido, os prédios se destacaram das demais construções do período, tornando-se marcos culturais e cartões postais da cidade”, afirma.



VISTA DO HORIZONTE


Imagens panorâmicas de prédios tradicionais chamam atenção para a paisagem aérea da capital paulista


São Paulo é efervescente na circulação cultural e de pessoas, com tantos estímulos e atrações que, às vezes, é difícil esticar o olhar e contemplar a cidade por outros ângulos.


Mas, se na correria típica da metrópole tal exercício parece complicado, o Sesc Carmo reservou um espaço para observarmos a capital bem do alto. É a exposição São Paulo nas Alturas, que reuniu imagens de edifícios emblemáticos da cidade capturadas pelo fotógrafo Fernando Stankuns, expostas na unidade entre os meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014. “Nossa ideia era ter panorâmicas de vários momentos do dia, se possível até em diferentes horários do mesmo local, tentando mostrar as mudanças na paisagem a partir de espaços tão próximos e, às vezes, do mesmo espaço, mas com poucos minutos de diferença entre a realização das imagens”, explica Stankuns, que precisou conciliar essa ideia com o tempo disponível para capturar as imagens, bem como com as condições climáticas de cada região.


Segundo a técnica de programação da unidade, Valéria Boa Sorte, o principal objetivo foi apresentar as diferentes vistas de edifícios importantes do centro da cidade: edifício Martinelli, Copan, edifício Altino Arantes, edifício Itália. “Para quem circula no centro, o horizonte fica limitado às frestas entre os edifícios, aos reflexos dos arranha-céus espelhados”, esclarece Valéria. “A exposição foi planejada para que as pessoas pudessem se reencontrar com o horizonte e perceber desde sutilezas da arquitetura urbana até a grandeza da Serra da Cantareira, que abraça a cidade.”


Por meio das fotos foi possível observar imagens da cidade e então perceber que São Paulo é dessa ou daquela maneira, “nem mais feia nem mais bonita”, opina Stankuns. “Foi um convite para as pessoas diminuírem o ritmo ou até pararem um pouco para conhecer esses lugares – todos os edifícios são abertos ao público em algum momento –, e olhar pessoalmente aquele local por onde passa de outro ponto de vista ou, ainda, perceber a relação do Centro com os outros bairros da capital, onde as pessoas também transitam, moram, trabalham.”