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Dramatização em fluxo

Foto: Giampaolo Sama
Foto: Giampaolo Sama



Dramatização em fluxo

Historicamente vinculado à crítica social e à política, o teatro latino-americano experimenta novas linguagens e temas, como ocorre com o dramaturgo argentino Claudio Tolcachir


A postura combativa, partidária e com forte caráter de intervenção social não é mais a tônica do teatro latino-americano. Ainda há textos críticos, mas a abordagem é outra. Quem observa tal movimento transformador é a jornalista e crítica teatral Gabriela Mellão: “O teatro latino-americano sempre esteve associado ao teatro político. Era usado como expressão artística mas, sobretudo, como uma maneira de criticar a realidade, visando provocar  mudanças de ordem social e política no mundo. Isto está se transformando, como podemos perceber, por exemplo, nas peças do dramaturgo argentino Claudio Tocalchir. O teatro contemporâneo latino-americano se aproximou do teatro europeu e do teatro norte-americano, na medida em que abre seu leque para contemplar linguagens e temas diversos”, contextualiza Gabriela.”
Expoente da nova cena teatral latino-americana, o diretor Claudio Tolcachir mantém um pé na tradição ao privilegiar a atuação e o texto por meio de uma linguagem realista. Para Gabriela, vale prestar atenção à preferência pela apresentação realista, porque, para além do pé na tradição, “o teatro deste argentino mostra frescor ao mesclar doses de surrealismo a este realismo”.
Na opinião do jornalista e pesquisador de teatro Valmir Santos, o trabalho do diretor também revela – em peças como Terceiro Corpo, Emília, O Vento num Violino e A Omissão da Família Coleman – a disfunção como linguagem. “Tolcachir sustenta suas histórias nas frestas humanas. Ele é pedagogo, e suas obras são organizadas sob o signo do teatro de pesquisa e do zelo pela comunicação com o público sem facilitar sua vida”, diz Santos. Segundo ele, a atuação em suas peças é um capítulo à parte, “devido aos registros naturalistas ou realistas implicados. Uma cena que, porventura, soe como novela televisiva decorre, antes, da inquietude permanente do criador e da equipe”.
Com seus textos, o diretor transita entre as pequenas instabilidades cotidianas e, ao mesmo tempo, as angústias universais, possíveis de ser compartilhadas entre todos. De acordo com Santos, “os personagens parecem familiares até o espectador se dar conta das desestabilidades em jogo. Tolcachir não abdica da centelha poética em tudo que escreve e encena”.
Os atores no palco, de alguma forma, são os comunicadores entre a dramaturgia desenvolvida por Tolcachir e o público, tendo como ponto forte os personagens criados por ele, nessa nova maré de estilos e temas que se espalha pelo teatro latino-americano. “Os personagens de Tolcachir são de tal forma perdidos e deslocados de sua essência que chegam a evidenciar que há algo absurdo no modo como o homem de hoje vive. Como o próprio Tolcachir diz, somos absurdos disfarçados de razoáveis”, analisa Gabriela.


BOXE - Diálogo entre cenas

Sesc Belenzinho recebe grupo argentino de teatro
como parte da Ocupação Mirada

Em atividade desde 1999, o grupo argentino TIMBRE4 é elogiado por seu trabalho na cena teatral, tanto por suas peças quanto pelos projetos, como oficinas e treinamentos artísticos. O grupo encenou parte de seu repertório no Sesc Belenzinho durante o mês de janeiro, como parte da Ocupação Mirada.
Nas palavras da técnica de programação da unidade, Cynthia Petnys, o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos – busca ampliar nosso olhar sobre a produção artística da América Latina, Espanha e Portugal, além de possibilitar encontros e diálogos entre esses países e o Brasil. “Entre as edições bienais do festival, o Sesc realiza algumas ‘Ocupações’ Mirada, visando consolidar esses intercâmbios. É também a oportunidade de o público conhecer mais profundamente a linha de pesquisa de um ou outro grupo que já esteve (ou não) presente na programação do Mirada, como é o caso do TIMBRE4”, esclarece. “É a primeira vez que eles conseguem fazer o repertório dentro de um mesmo projeto para fora da Argentina. Esse fato não só é importante para o grupo, mas também para o público, que pode acompanhar e entender sua trajetória artística.”
Além das peças, foi oferecida uma oficina coordenada pelo diretor e dramaturgo Claudio Tolcachir. Os títulos em cartaz foram: Terceiro Corpo, Emília, O Vento num Violino e A Omissão da Família Coleman, todas com texto e direção de Tolcachir.
Para a atriz da peça Terceiro Corpo, Magdalena Grondona, atuar no Brasil é uma experiência de impacto: “Todos sentimos uma sensação maravilhosa ao pisar em solo brasileiro. O público é muito generoso, ri, emociona-se e aplaude com agradecimento sincero. E nós é que estamos realmente agradecidos de poder compartilhar nossa arte com o público de São Paulo