Sesc SP

Matérias do mês

Postado em

Entre Amigos

Ney Latorraca entra em cena como um astronauta. (Foto: Rafael Lima/Sesc)
Ney Latorraca entra em cena como um astronauta. (Foto: Rafael Lima/Sesc)

De longe se ouve Cocaine, clássico de Eric Clapton, tocando em alto e bom som no Teatro Anchieta. Lá dentro, sentado na primeira fileira, de roupas pretas e cabelos negros que chegam aos ombros, um sujeito acompanha a música tocando contrabaixo. Era Gerald Thomas.

Na coxia, Edi Botelho, que trabalhou com Thomas pela primeira vez em 1986, na primeira formação da Companhia da Ópera Seca, enche uma boneca inflável e faz Ney Latorraca, seu parceiro de cena, se lembrar de algum filme antigo, o nome lhe foge. Se junta ao trio a atriz portuguesa Maria de Lima, que observa a cena.

O clima é descontraído, afinal é um encontro de velhos amigos, o que não elimina a tensão da estreia que se aproxima. Nesta sexta (11) entra em cartaz no Sesc Consolação, Entredendes. “Um islâmico radical e um judeu ortodoxo se encontram no Muro das Lamentações, em Jerusalém. E aí começa tudo!”, resume Gerald Thomas, 59, que escreveu e dirige a peça, uma crítica bem humorada ao horror que acontece no mundo. 

A peça marca o retorno de Ney Latorraca, 69, aos palcos depois do susto que passou em 2012, e seus 50 anos de carreira. “É uma boa maneira de eu comemorar os meus 50 anos. É um diretor que eu gosto, que eu respeito muito. E ele escreveu para os três atores, como ele fez para a Fernanda Montenegro, para a Fernandinha [Torres], para o Marco Nanini, escreveu para o Ney, para a Maria e para o Didi [Edi Botelho]”, revela o ator.

Entredentes reflete sobre temas latentes, como a situação política de muitas regiões. “Mostrando o que se passa nesse muro, que tem que quebrar todos os muros, que os muros devem cair. É um grande exercício”, conta Ney, que fala também sobre como imagina Entredentes no palco: “O espetáculo pode mudar sempre. O espetáculo de Gerald tem isso, os atores, a música e a luz são personagens mesmo, e o público também”.

É o terceiro trabalho de Ney com Gerald Thomas (os outros foram “Don Juan” e “Quartett”, em 1995 e 1996, além da participação em Unglauber, também em 1995). “Para mim o trabalho do Gerald é como se fosse uma instalação, você está vendo um movimento que está acontecendo. O espetáculo dele obriga você a pensar, mexe com os atores e com o público”, conta o ator.

E quando perguntado sobre o que mais lhe chama atenção no trabalho do amigo Thomas, Ney não deixa dúvidas: "A inteligência dele e o teatro instigante que ele faz”, e emenda – “e o coloco junto com Zé Celso Martinez e Antunes Filho. Quando ele vai dirigir a Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, Sérgio Brito, Ítalo Rossi, Fernanda Torres, Marco Nanini, ele faz uma revolução no teatro brasileiro. Principalmente com os textos e a iluminação”.

Os ingressos já estão disponíveis e as apresentações acontecem às sextas e sábados, 21h e domingos, 18h, até 11 de maio . A promessa é de um espetáculo novo a cada dia, e o convite quem faz é o próprio Ney Latorraca, no vídeo abaixo. Veja só: