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Dança e outras poéticas em jogo no Tabuleiro

Artes visuais, dança, som e imagem se misturam na instalação coreográfica Tabuleiro: 2 ou mais pretextos poéticos. De 22 de novembro a 14 de dezembro, no Sesc Pompeia, caixas de som, projeções de vídeo e recortes do desenho de luz aprofundam o cruzamento entre dança e outras poéticas: linguagens que se misturam entre si e com o espaço dado. Nessa experiência também sensorial, o público tem a chance de explorar seu próprio corpo como se estivesse situado em um tabuleiro – uma alusão a jogos de xadrez e batalha naval.

Tabuleiro, nome original da instalação, propõe um enunciado espacial ‘a priori’, pois o chão, feito de pilhas de papel em diferentes níveis, propõe uma topografia movediça que gera um desafio para Lua Tatit: um confronto direto e seco do corpo com o espaço. Como o corpo provoca o espaço e como o espaço provoca o corpo, ou então, que espacialidades e temporalidades surgem destas interelações entre o corpo do espaço, o corpo do corpo, o corpo do som, e o corpo da imagem, que vão se debatendo no decorrer da performance - ora são compostos em sintonia, ora em defasagem”, conta a artista plástica Edith Derdyk, que tem como parceira nessa obra a atriz e bailarina Lua Tatit.

Tabuleiro conta também com outras colaborações essenciais: “sempre se estabeleceu uma relação de parceria de criação com Dudu Tsuda e Rodrigo Gontijo, artistas que também trabalham com instalações site specifics em suas áreas - música e vídeo. Lua Tatit já tinha trabalhado com ambos quando fazia parte do Núcleo Artérias (Adriana Grecchi) e depois desenvolveu parcerias solo com Dudu Tsuda, por ocasião de seu espetáculo Branco, realizado para o Festival Cultura Inglesa, onde fiz a concepção cênica em  2011, e em Centímetros Decibéis, realizado dentro do programa de dança e site specific, no Centro Cultural São Paulo, em 2010”.

A instalação foi planejada de acordo com as características da Área de Convivência do Sesc Pompeia. Como mote conceitual do projeto, os criadores se baseiam em noções de site specific, ou seja, o trabalho acontece de forma diferente em função das configurações do espaço dado. Edith comenta que “o trabalho vem acontecendo em formatos diferentes desde 2013, apesar de ser uma ideia acalentada por Lua Tatit em 2011, quando ela me ajudou a montar uma instalação de papel numa galeria. A partir daí surgiu a vontade dela em propor uma situação coreográfica dentro da instalação. Este trabalho já aconteceu na residência artística que fizemos no Pivô, Sesc Santo Amaro, ambos em 2013, residência artística nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade, três meses em 2014, e agora em novo formato para o Sesc Pompeia”.

A instalação em si é composta por 48 blocos de papel empilhados, totalizando cerca de 800 quilos. Essas pilhas provocam sequências coreográficas repetitivas, e as ações da intérprete-criadora Lua Tatit revelam a mobilidade e a instabilidade das folhas de papel em branco, fixadas por tubos de ferro. A composição coreográfica propõe a construção, desconstrução e ressignificação do espaço instalativo por meio de movimentos elaborados que têm como origem a vivência e a permanência do corpo em relação àquele espaço em específico. “As ações performáticas, realizadas por Lua Tatit, vão, aos poucos, revelando a instabilidade deste campo aparentemente estável e racional, dado num primeiro olhar e que no decorrer vai se desarticulando. Tabuleiro estabelece um jogo entre mapa e território, entre o campo da representação e a experiência”, explica Edith.

Já a instalação videosonora de Rodrigo Gontijo levanta outras releituras do Tabuleiro. Imagens captadas anteriormente são mescladas àquelas geradas ao vivo, evocando a memória dos acontecimentos coreográficos que são performatizados dentro do espaço da instalação aos olhos do público. A imagem, ao se deslocar por esses campos, ganha corpo e atua junto com o corpo real de Lua Tatit. Além disso, espalhados pela instalação, oito pontos de escuta independentes e desenvolvidos por Dudu Tsuda proporcionam ao público diversas imagens sonoras.  Aline Santini faz o design de luz que compõe narrativas e diálogos ora com os movimentos de Lua Tatit, ora com o próprio espaço, ora em conjunto com o som e a imagem. No decorrer da temporada, a instalação estará exposta junto com a instalação vídeo-musical, possibilitando que as pessoas circulem ao redor e experimentem distintos pontos de vista, que vão desde o olhar de cima na Biblioteca superior quanto à proximidade física ou uma simples caminhada sobre a própria instalação.

Todas as quintas, sextas e sábados, às 20h, acontecem as performances ao vivo e “in loco”, reunindo os criadores Lua Tatit, Edith Derdyk, Rodrigo Gontijo e Dudu Tsuda em cena.