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As bordadeiras do morro São Bento: Uma história tecida entre o linho e as linhas

Foto: Marcos Piffer
Foto: Marcos Piffer

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GISELA KODJA (1)
ÚRSULA MARGARIDA KARSCH (2)

RESUMO:


O presente trabalho analisa o comportamento de cinco senhoras idosas frente ao seu ofício. Imigrantes da Ilha da Madeira, bordadeiras desde a infância, elas deixaram o país de origem em companhia dos maridos, na primeira metade do século XX, movidas pelo sonho de uma vida próspera no Novo Mundo. Desde que chegaram ao Brasil, moram na encosta do Morro São Bento, em Santos, Estado de São Paulo.

O linho e a linha, incorporados à rotina na casa materna, são ferramentas que vão acompanhá-las durante toda a vida, garantindo algum dinheiro, um pouco de liberdade e muito prazer. Além disso, o bordado ofereceu a elas a chance de reforçar o orçamento doméstico e garantir respeito e a visibilidade em terra estrangeira.

No entanto, a atividade que, com tanta intensidade, preencheu a existência dessas mulheres, não despertou o interesse de suas filhas e netas. As gerações seguintes declaram admiração e respeito pelo bordado, mas não quiseram fazer dessa arte o seu ofício. No Morro São Bento, o bordado da Ilha da Madeira é um tesouro sem herdeiros.

Indiferença semelhante as ilhoas madeirenses vão perceber na sociedade. Diante das peças bordadas, as pessoas demonstram encantamento e respondem com elogios. Mas a relação compra e venda é estabelecida de forma precária e, assim, parte do sentido da produção se perde.

Mesmo diante de tais circunstâncias, essas mulheres mantêm a rotina e trabalham todas as tardes. Cumprem religiosamente o calendário de exposições. E, ao contarem a história de suas vidas, elas deixam claro que bordar é mais do que tarefa, hábito ou obrigação: é com o linho e as linhas que essas mulheres tecem a sua própria identidade. São mulheres, são mães, são avós mas, acima de tudo, elas são e querem permanecer bordadeiras.

Palavras-chave: memória, trabalho, identidade.


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ABSTRACT:

This work brings up an analysis on behavior of five old ladies as to their occupation. Immigrants from the Madeira Island, embroiderers since their childhood, these ladies left their country, following their husbands in the first half of the 20th century, in the quest for their dream of prosperous life in the New World. Ever since they arrived in Brazil, these ladies have lived on Morro São Bento, in Santos, São Paulo.

Linen fabric and thread, constant routine since their mothers’ homes, are the tools that have followed them for the entire life, allowing them some income, some freedom and much pleasure. Not only that, for embroidery also brought them the chance to increase their home budget and allowed them respect and hopeful future in foreign land.

However, the professional activity that intensively fulfilled the life of these women, never awakened the interest of their daughters or granddaughters. The following generations show pride and respect for embroidery, but they would rather not take this art as their jobs. On Morro São Bento, the Madeira Island embroidery is a treasure with no heirs.

Those Madeira islanders also find similar indifference in society. People are amazed and respond with compliments to these embroidered sets. However, profits in buying and selling these sets are very little; so the real meaning of producing such work is getting lost.

Even facing these results, these ladies keep their routine and work every afternoon. They do their duties to exhibit their work at the scheduled fairs. As they tell their own stories they make it clear that embroidering is more than a task, a habit or a duty: for it is with linen fabric and thread that these ladies weave their own identity. They are women, mothers, grandmothers and, above all, they are and they want to be embroiderers.

Keywords: memory, work, identity.

(1) Jornalista, mestre em gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. e-mail: giselakodja@uol.com.br
(2) Professora titular da PUCSP, mestre em saúde pública (USP) e doutora em serviço social (PUCSP), coordenadora da pós-graduação stricto sensu da UNISANTOS, assessora da Secretaria do Estado da Saúde, São Paulo. e-mail: ulakar@uol.com.br