Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Não basta fechar a torneira

Crédito: Leila Fugii
Crédito: Leila Fugii


Crise da água em São Paulo traz à tona a necessidade de mudanças de hábitos para a redução de consumo e conservação ambiental

 

A crise hídrica em São Paulo é a maior de que se tem notícia no estado: em 2014, os reservatórios da Cantareira, principal sistema de abastecimento da região metropolitana, atingiram o menor nível já registrado. As incertezas sobre o futuro da água mostram que “fechar a torneira”, neste momento, já não é mais suficiente. É preciso também reforçar a importância da conservação ambiental e repensar o modelo de desenvolvimento atual.

Segundo a consultora em sustentabilidade, recursos hídricos e gestão ambiental Marussia Whately, seriam necessários cinco anos para que a situação se estabilizasse, com base em períodos anteriores. No final de 2003, o volume do sistema Cantareira chegou a 1% e, apesar de o problema não ter se agravado a ponto de se utilizar o volume morto, como ocorre hoje, somente em 2009 os níveis voltaram a ficar próximos de 80%. A recuperação, porém, depende de fatores que vão além das chuvas. “Para recuperar a represa, a gente precisa contar com ações de redução de consumo e de retirada de água do sistema, além de replantio de vegetação e incentivos de reuso e uso inteligente da água para grandes consumidores”, afirma.

Marussia cita como exemplo a cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde ações de redução de consumo em larga escala resultaram em aumento da sobrevida dos mananciais existentes e uma diminuição no valor de investimento em novos mananciais. “Nova Iorque é um exemplo plausível que se aplicaria muito bem a São Paulo. Eles tanto cuidam do manancial quanto investem pesadamente em redução de consumo. Com isso, ganharam quase 30 anos de água sem ter que construir novas represas”, diz.
“A água é um recurso fundamental que tem limitações e coloca em xeque o nosso modelo de desenvolvimento que busca sempre a oferta”, observa Marussia. “A Cantareira já tem hoje mais de 50% das suas áreas de preservação permanente desmatadas, o que diminui muito a capacidade de resistir a eventos climáticos como o que a gente está vivendo agora.”

Divulgado em novembro de 2014, o estudo Plano da Água nas Cidades, desenvolvido pela organização ambiental The Nature Conservancy (TNC) em conjunto com o C40 Cities Climate Leadership Group e a International Water Association, mostrou que um terço das 100 maiores cidades do mundo está sob estresse hídrico. Além disso, duas em cada cinco fontes de água das cidades médias e grandes localizam-se em áreas que registraram perdas significativas de floresta na última década.

Entre as soluções viáveis apontadas pelos cientistas que realizaram o estudo estão cinco medidas: preservação das florestas ainda existentes, restauração de áreas desmatadas, recuperação da vegetação das margens de rios e nascentes, adoção de boas práticas agrícolas e controle das queimadas. A restauração florestal de 3% do território das bacias do Cantareira e do Alto Tietê, em São Paulo, seria suficiente para reduzir o assoreamento dos rios da região em até 50%.

“Essa pesquisa comprova quanto a maior cidade do país tem a ganhar com o investimento na conservação de suas nascentes. Em poucos lugares do mundo vale tanto a pena investir nessa medida quanto em São Paulo”, afirma o coordenador do Movimento Água para São Paulo, Samuel Barrêto.


Passos para a mudança

Programa permanente de uso racional da água e atividades educativas colaboram para enfrentar a atual situação de escassez

Ciente de seu papel na redução do consumo e na conscientização, o Sesc desenvolve um programa permanente de uso racional de água e energia. Além disso, diversas unidades oferecem oficinas, espetáculos, apresentações musicais, palestras e outras atividades educativas e de estímulo a hábitos que combatam o desperdício. 

“As atividades buscam favorecer o diálogo e pretendem envolver e sensibilizar o público para o enfrentamento da situação atual, refletindo sobre a complexidade que o tema requer”, explica a assistente técnica da área de educação para sustentabilidade da Gerência de Programas Socioeducativos Tania Perfeito Jardim.

Entre os exemplos das ações educativas oferecidas no mês de janeiro, destacam-se a exibição do documentário Ritos de Rios e Ruas (Sesc Itaquera, 17/1, às 14h) e o bate-papo Como Recuperar a Água (Sesc Vila Mariana, 21/1, às 19h30), sobre soluções criativas para a despoluição, recuperação e conservação dos recursos hídricos da cidade.

Essas iniciativas resultaram na redução constante do consumo da água nas unidades do Sesc, que na década de 1980 se mantinha em torno de 100 litros/pessoa e, atualmente, encontra-se na faixa de 30 a 40 litros/pessoa. “Com essas e outras medidas, estamos refinando, ano a ano, o desempenho no consumo da água”, explica a Comissão Interna para Uso Racional da Água do Sesc SP.