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"Não é uma peça de história, é uma peça existencial"

Foto: Ligia Jardim
Foto: Ligia Jardim

Concebida por meio da parceria entre artistas brasileiros e suecos, o espetáculo Dissecar Uma Nevasca, que estreia no Sesc Belenzinho em 15 de janeiro, é a primeira montagem da premiada autora Sara Stridsberg no Brasil.

Inspirado na história da Rainha Cristina da Suécia (1626-1689), o texto de Stridsberg põe em cena uma Menina-Rei dividida entre o exercício do poder e o desejo de ser ela mesma. A protagonista tenta construir sua verdadeira vida no confronto com as forças mais poderosas, enquanto seu reino e seu universo são soterrados pela nevasca.

A encenação explora a riqueza de referências e influências que nascem do encontro entre culturas distintas. O elenco, formado por atores brasileiros, trabalha em parceria com uma equipe técnica sueca, em encontros alternados em São Paulo e Uppsala, ao longo de 2014. O resultado é uma busca constante pelo diálogo e por estabelecer laços entre mundos separados pela distância, o idioma, o clima e a cultura. O projeto é fruto do encontro entre a diretora Bim de Verdier (que também atua no papel da Rainha-Mãe, Maria Eleonora) e a atriz Nicole Cordery (que interpreta a Menina-Rei).

No cenário concebido por Birgitta Hallerström Wallin, que reproduz em cena uma nevasca explorando tecnologias de projeção de vídeo, a Menina-Rei confronta-se com as forças de seu reino, que tentam constantemente controlá-la: o Poder (André Guerreiro), o Rei Morto (Renato Caldas), o Filósofo (Daniel Ortega), Luve (Daniel Costa) e Belle (Rita Grilo). A trilha sonora original é composta por Leo Correia de Verdier, compositor sueco-brasileiro que vive em Estocolmo.

Em conversa com a Eonline, a diretora do espetáculo, Bim de Verdier, nos contou um pouco sobre a peça e seu processo criativo. "O processo criativo, a viagem foi muito especial. Nunca antes passei por uma viagem dessa. O espetáculo surgiu da pergunta 'O que é a dramaturgia contemporânea sueca?' Então escolhemos um texto contemporâneo, universal, fora da história. Não é uma peça de história, é uma peça existencial. Sobre a vida que a gente tá levando, sobre o direito de cada um se definir, e de escolher seu rumo na vida. O que você quer fazer na vida, e como a gente às vezes se castiga e se oprime. E quando falo isso parece algo pesado mas não é. É um espetáculo cheio de música, coreografias e uma estética visual especial".

Sobre Sara Stridsberg
Nascida em 1972, é uma escritora, dramaturga e tradutora sueca. Seu primeiro romance, Happy Sally, tinha como personagem a sueca Sally Bauer, a primeira mulher a cruzar nadando o Canal da Mancha. Em 2007, Stridsberg ganhou o prêmio The Nordic Council's Literature pelo romance The Dream Faculty, sobre Valerie Solanas, autora do Manifesto SCUM. Também é autora dos romances Drömfakulteten (2006) e Darling River (2011). Como dramaturga, escreveu Valérie Jean Solanas va devenir Présidente de l'Amérique (2010), Medealand (2009) e Dissecar uma Nevasca (2012) traduzido por Bim de Verdier e Nestor Correia para o português.

A Rainha Cristina, que inspira a protagonista de Dissecar uma Nevasca, nasceu em 1626 e herdou o trono com seis anos de idade. Foi coroada aos 18, liderou e terminou guerras, nunca se casou, não teve filhos, abdicou como monarca aos 27 anos, mudou-se para Roma e se converteu ao catolicismo. A fascinante história de sua vida já resultou em artigos, teses científicas, livros, óperas, filmes e peças teatrais. Ela foi retratada pelo maior dramaturgo da Suécia, August Strindberg, e interpretada por Greta Garbo em Hollywood. Até hoje, sua figura é ambígua e polêmica, atraindo o olhar de artistas, ativistas e intelectuais de seguidas gerações.