Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

O envelhecimento activo: uma análise à luz de uma ética educativa crítica

Foto: Piu Dip
Foto: Piu Dip

Maria Custódia J. Rocha (*)

RESUMO

A ética é construída a partir das relações colectivas que as pessoas mantêm entre si nas suas práticas de sociabilidade educativa e reporta para o domínio dos valores. Neste artigo, a apresentação e a análise de algumas orientações políticas internacionais relativas ao envelhecimento activo permitem problematizar o carácter tecnocrático e instrumental que perpassa nessas orientações de teor economicista e, simultaneamente, permite mostrar que os valores inerentes a uma educação “para a decisão,para a responsabilidade social e política, para o desenvolvimento e para a democracia” tendem a estar ausentes dessas orientações. Nesta sequência analítica, defendemos que, na ausência de um código deontológico estatalmente legitimado, os educadores devem proceder à construção e consolidação de uma ética educativa crítica que lhes permita perceber as desconexões axiológicas entre o que a ética do mercado exige e o que uma ética educativa comporta. Uma ética educativa crítica torna-se assim condição fundamental para uma nova concepção de educação num mundo cada vez mais envelhecido mas, nem por isso, cada vez menos pensante. A “educação para o trabalho”, vista como envelhecimento activo, é só um dos muitos vectores da educação,  rovavelmente em não-correspondência com todas as expectativas e os desejos das pessoas idosas, lá para o fim das suas vidas. 

Palavras-chave: envelhecimento - teorias, ética, educação, direitos e cidadania.

ABSTRACT

Ethics is built upon the collective relations that people maintain with each other in their practices of educational sociabilility, and relates to the domains of values. In this article, we present and analyze some international political/economical orientations on active ging not onlyto frame the technocratic and instrumental nature that underlies these orientations, but also to demonstrate that those values that are attuned to an education for “decision making, social and political responsibility, development and democracy” tend to be absent from these orientations. In this analysis, we argue that, in the absence of a state-legitimated deontological code, educators must provide for the construction and consolidation of a critical educational ethics which allows them to understand the axiological disconnections between what the ethics of the market demands and what an educational ethics permits. Therefore, a critical educational ethics becomes a basic condition for a new conception of education in a world whose population is growing older but not less thinking. The “education for work”, viewed as active aging, is only one of the many vectors of education, probably not corresponding to the expectations and desires of the elderly people, towards the end of their lives. 

Keywords: aging - theories, ethics, education, rights and citzenship

(*) Professora auxiliar doutorada em Educação pelo Departamento de Sociologia e Administração Educacional do Instituto de Educação e Psicologia pela Universidade do Minho - Braga - Portugal. email: mcrocha@iep.uminho.pt