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Turismo



 

 

O turismo é uma das principais indústrias do mundo. Segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT), mais de 1 bilhão de turistas viajaram para o exterior em 2014 e quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial se deve a esse tipo de deslocamento. Mais do que engordar as cifras, porém, as viagens contribuem para promover encontros e propagar conhecimentos. Seja visitando países distantes ou cidades vizinhas, entrar em contato com diferentes culturas e experiências é uma forma de aprender e exercitar a tolerância. Não à toa, costuma-se dizer que viajar é um dos gastos que nos tornam mais ricos.

“O turismo tem o papel de abrir os horizontes”, observa a turismóloga Mariana Madureira, gestora do Projeto Bagagem, organização não governamental de fomento ao turismo de base comunitária no Brasil. “A intolerância vem do que a gente não conhece. Em um tempo em que as pessoas só leem as manchetes dos jornais e saem julgando, o turismo nos faz conhecer e respeitar o outro, ver o mundo de um jeito diferente e ter um conhecimento mais profundo.”

A relação entre viajantes e os locais por eles visitados começou a ser encarada dessa maneira há milênios. Na Odisseia, um dos principais poemas épicos da Grécia antiga, Homero já introduziu o potencial transformador das viagens, apesar de o turismo como lazer só ter ganhado força bem mais tarde. Foi na Inglaterra, em 1841, que surgiu a primeira agência de viagens de que se tem notícia. Mas a ideia deslanchou mesmo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, quando se instituíram as férias remuneradas e o direito ao lazer. Desde então, os destinos turísticos cresceram e, com eles, as diversas formas de viajar.

“Se houver o contato entre visitantes e visitados haverá troca cultural”, afirma o professor do Núcleo de Turismo da Universidade Federal de Sergipe, Denio Santos Azevedo. “É necessário que ambos estejam predispostos ao contato, ao convívio passageiro e ao conhecimento. Claro que esse conhecimento também poderá ser absorvido nos livros, jornais, revistas e museus, mas acredito que o ‘jogo da experiência’ possibilite aos envolvidos informações sobre os cotidianos de grupos sociais que, muitas vezes, foram esquecidos.”

Para que essa experiência seja bem-sucedida, é preciso respeitar as diferenças de ambas as partes. “O residente precisa ter interesse em receber o turista em sua comunidade. Com isso, ele pode ser hospitaleiro e estar apto a dividir os seus conhecimentos, oferecer produtos e serviços”, explica o professor. “O visitante leva experiências de outras cidades visitadas e busca um conjunto de informações sobre o ‘característico’ do cotidiano desses residentes. Os turistas consomem, comparam com a sua realidade e, muitas vezes, dividem com a comunidade suas dúvidas, inquietações e questionamentos.”

CIDADES CONSUMÍVEIS

Em tempos de grandes eventos sediados pelo Brasil, é importante ver o turismo com um olhar crítico, considera o professor do curso de turismo do Senac Helio Hintze. Ele observa a necessidade de fugir do ambiente mercadológico e pensar o turismo de outra maneira, sem que se espere dos destinos apenas o lado positivo. “No turismo, o estereótipo, como a baiana com saia rodada vendendo acarajé e o gaúcho de bombacha, é um redutor da complexidade das pessoas. A gente perde com isso, porque já vamos fechados para essa relação”, exemplifica. “As culturas têm lados que são literalmente escondidos, porque podem não agradar o cliente. Se estou saindo para um encontro com o outro, tenho que sair aberto para um encontro total.”

Independentemente da motivação central do turista, ele é um consumidor, lembra Denio. “O problema talvez esteja em conceitos prévios e pessimistas sobre a atividade turística, e o reducionismo na percepção sobre o consumo. O consumo não é gerado apenas com a troca de produto por dinheiro. Há o consumo de espaços, sons, paisagens, saberes e fazeres. As cidades são consumidas”, define. “Caso os planejadores turísticos tivessem a ampliação do seu conceito sobre o consumo turístico, possivelmente as cidades teriam mais saneamento básico, limpeza dos espaços públicos e preservação do patrimônio cultural. Com isso, as cidades seriam melhores para os seus residentes.”

Se sem planejamento o turismo beneficia a poucos e traz consequências negativas, entre os impactos positivos de um turismo bem planejado está o desenvolvimento socioeconômico. A ideia é contrapor o “desenvolvimento do turismo” com o “turismo de desenvolvimento”. “Dessa forma, há redução nos impactos ambientais e culturais gerados pela presença dos turistas nas comunidades, geração de empregos, melhoria nas vias de acesso das cidades, nos espaços públicos, nos meios de transporte, valorização de artistas, artesãos e doceiras da região, construção de espaços de memória, reforma e manutenção de espaços públicos e até autoestima dos residentes”, cita Denio.

Uma forma de buscar colocar um novo modelo em prática é o turismo de base comunitária. “É uma forma de turismo com foco na cultura local, mais sustentável, em que a renda e a gestão são distribuídas entre os locais, sem gerar dependência. Além disso, há intermediadores que pedem permissão, marcam datas e estabelecem uma relação de confiança”, resume Mariana. Segundo a turismóloga, já foram mapeadas mais de 200 experiências turísticas comunitárias no Brasil, em ambientes como comunidades tradicionais indígenas, quilombolas, sertanejas e ribeirinhas. “Iniciativas assim valorizam essas pessoas, essas tradições e muitas vezes quebram barreiras”, completa.


DICAS DE VIAGEM

CINCO DICAS PARA UMA RELAÇÃO HARMONIOSA COM O AMBIENTE VISITADO 

1|
Á ALÉM DA PAISAGEM
Além de admirar e fotografar os lugares que visita, procure interagir e conversar com moradores. Pergunte a eles sobre passeios, restaurantes, costumes e hábitos. Guias especializados são importantes para obter endereços, informações históricas e afins, mas se permita também receber dicas de habitantes locais.


2|
ESQUEÇA A SUA ROTINA
Viajar não é mudar de endereço. Enquanto viaja, incorpore o ritmo daquele ambiente e aproveite o tempo livre para promover um encontro consigo mesmo. Considere horários, hábitos, tradições e comportamentos daquele local, que devem ser tratados com respeito, ainda que sejam diferentes
dos que você está acostumado.
3|
NÃO IMPONHA
SEU MODO DE VIDA
Interfira o mínimo possível no ritmo de vida dos habitantes do lugar visitado. Lembre-se de que você pode estar de férias, mas para eles o cotidiano segue normalmente. Não interfira na paisagem e leve consigo lembranças, conversas e fotos, sem tirar nada de seu local de origem.

4|
SEJA SUSTENTÁVEL
Cada escolha que fazemos contribui para melhorar ou piorar o planeta. Sempre que possível, opte por transportes menos poluentes, leve sua própria caneca ou garrafa, não polua, dispense sacolas plásticas e economize água e energia. Valorize os produtores locais, artesãos e evite o desperdício.

5|
ORGULHE-SE DE SER TURISTA
Nos últimos anos, o termo ‘turista’ passou a ser associado a uma postura predatória. Transforme
esse conceito negativo começando por você,
dedicando a cada pessoa e lugar um olhar curioso e interessado. Tenha orgulho de viajar e esteja em
harmonia com o ambiente visitado.

 


EDUCAÇÃO DO OLHAR

HÁ 67 ANOS, PROGRAMA DE TURISMO SOCIAL DO SESC BUSCA VALORIZAR DIFERENTES REGIÕES DO PAÍS E DEMOCRATIZAR O ACESSO A VIAGENS

Iniciadas em 1948, as ações em turismo social do Sesc são referência na gestão do segmento no Brasil por oferecer ao público viagens que valorizam a história, a cultura, a natureza e as pessoas de cada região. Atualmente, 27 unidades do estado de São Paulo possuem programações de turismo social, incluindo a unidade de hospedagem no Centro de Férias Sesc Bertioga. Integrante do Conselho Administrativo da Secretaria para as Américas da Organização Internacional de Turismo Social desde 2011, o Sesc passou também a ocupar, em 2014, a presidência da instituição.

Por meio de serviços acessíveis ao poder aquisitivo e adaptados a possíveis necessidades especiais do público, o turismo social do Sesc propõe não apenas reproduzir uma viagem no formato tradicional, mas organizar vivências turísticas que ofereçam a possibilidade de interação, aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades intelectuais e físicas.

Cada passeio é uma nova oportunidade para conhecer as peculiaridades de cada cidade, inclusive aquela em que se vive, e descobrir novas formas de viver e enxergar o mundo. Entre os princípios do programa estão a democratização do acesso à atividade turística, o desenvolvimento social dos participantes, a educação pelo turismo e a educação para o turismo.

“O turismo social pretende, além de ser inclusivo, fazer com que as viagens efetivamente sejam vividas como experiências enriquecedoras e transformadoras. Isso pede uma participação ativa dos viajantes”, afirma a assistente técnica do núcleo Gestão de Turismo Social, Silvia Hirao. “À medida que viaja ou participa de programações que discutem as viagens, o público vai se formando com olhares mais questionadores sobre os destinos e sobre o próprio ato de viajar.” Veja a programação completa em sescsp.org.br/turismo