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Carolina Paes de Andrade

ilustração: Marcos Garuti
ilustração: Marcos Garuti



VÁ NO CONTRAFLUXO!
por CAROLINA PAES DE ANDRADE

Quando se fala sobre turismo na cidade de São Paulo, é comum que venham logo à mente imagens do Parque do Ibirapuera, de prédios históricos como o Páteo do Collegio e o Mercado Municipal, museus como o MASP e a Pinacoteca, espaços que abrigam grandes eventos como o Anhembi, bairros marcados pela presença de imigrantes italianos e japoneses, entre uma série de outros atrativos que já se tornaram ícones no imaginário coletivo.
Ao refletirmos a respeito do que torna esses locais interessantes tanto para moradores quanto para visitantes, sobressaem aspectos relacionados a sua relevância histórica, sua importância para a cultura, sua beleza natural ou arquitetônica. E, de fato, os locais mais visitados na cidade têm inúmeras características que justificam sua atratividade.
Grande parte desses pontos de interesse mais visitados, no entanto, situa-se em áreas centrais, bem como grande parte da oferta hoteleira. Turistas que buscam vivenciar as inúmeras opções de lazer que a cidade oferece acabam por permanecer circunscritos espacialmente à região central e seu entorno, não conhecendo aspectos importantes da história e da cultura contados por lugares e personagens localizados nas áreas mais periféricas da cidade.
São muitos os exemplos: vestígios que ajudam a compreender a presença indígena outrora tão marcante nessa região do país; igrejas cujas construções remontam ao período colonial; bairros marcados pela presença de imigrantes que aqui chegaram em diferentes momentos e movidos por diferentes razões; as mais variadas formas de ocupação do território; verdadeiros museus a céu aberto repletos de obras de arte urbana nos quatro cantos da cidade; aldeias que possibilitam refletir sobre a situação atual dos índios que aqui permaneceram; inúmeros outros espaços de resistência, como propriedades de cultivo de alimentos orgânicos, locais de culto de religiões afrobrasileiras, escolas de samba que lutam para seguirem celebrando o carnaval, vastas áreas verdes. Lugares que falam sobre as formas de conviver, de resistir, de fazer arte, de educar, de desfrutar o tempo de lazer.
A compreensão da cidade passa pelo conhecimento da história e da cultura cujos registros, sejam eles visíveis ou não, estão espalhados por todo esse vasto universo que vai de Cidade Tiradentes a Pirituba, de Parelheiros à Cantareira.
A metrópole paulistana é composta por realidades diversas, muitas delas conflitantes, mas que se inter-relacionam a todo tempo e que estão conectadas por fatores sociais, políticos, econômicos e culturais. A construção de uma cidade mais democrática pressupõe que seus habitantes dialoguem e conheçam essas realidades. Nesse sentido, a circulação pelo espaço urbano tem um papel fundamental. Mudar o fluxo de deslocamentos pode contribuir para esse diálogo. E nesse contexto, o turismo tem muito a contribuir.
Observa-se, recentemente, um movimento de mudança de olhar para bairros mais periféricos, no sentido de valorizar as potencialidades ou aspectos e locais já consolidados como pontos com atratividade para visitantes de fora ou mesmo para seus moradores. Tal movimento é resultado da ação de diversos atores sociais e trata-se de um processo lento, mas que certamente só tem a contribuir, de forma muito rica, para o reconhecimento e a valorização de fatos, lugares e personagens que não aparecem nos livros da escola, mas que igualmente compõem a história dessa cidade multifacetada.  Fica, então, a sugestão: na sua próxima folga ou em sua próxima visita, procure conhecer também atrativos que estão fora das áreas mais centrais. Vá no contrafluxo!

CAROLINA PAES DE ANDRADE, bacharel em Turismo e mestre em Educação Física, é assistente técnica do núcleo Gestão de Turismo Social do Sesc