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Compasso da tradição

Foto: Adriano Crisanstono
Foto: Adriano Crisanstono

Danças populares brasileiras têm como pano de fundo a história e a cultura de diferentes regiões do país


Coco de Alagoas, Ciranda de Pernambuco, Tambor de Crioula, Batuque de Umbigada, Carimbó, Maracatu e Congado Mineiro são algumas das danças que provam que a tradição de expressões populares no Brasil é vasta e ultrapassa os movimentos corporais. Além de giros, pisadas, palmas e marcações do compasso, o contato com esses ritmos envolve aspectos da cultura e história do país.

“Quando tratamos das danças populares brasileiras, há questões culturais que nos fazem refletir sobre respeito, dignidade e direitos, no âmbito sociocultural, racial, político ou emocional. Dentro de uma aula de dança, essas questões estão presentes e andam juntas com os movimentos”, explica a arte-educadora e bailarina Renata de Oliveira. “Essas manifestações nos deixam marcas no falar, no andar, no modo de se comunicar, no sentir e no crer. Estão presentes na puxada de rede, com seus cantos, nos cantos de trabalho nas lavouras, nos jongos, nos maracatus, nos sambas de roda, nos blocos de carnaval”, exemplifica.

Danças como o Coco de Alagoas e a Ciranda de Pernambuco, que estão na programação de oficinas do Sesc Campinas em março, trazem questões relacionadas à preservação da cultura negra, à mistura de manifestações e ao trabalho em comunidade. Segundo Renata, o Coco de Alagoas teria surgido no Quilombo dos Palmares: “Reza a tradição que, para quebrar a casca do coco, os negros colocavam-no sobre uma pedra e batiam nele com outra, até que rachasse. Como muitas pessoas faziam isso ao mesmo tempo, formavam-se muitos sons e sempre aparecia quem se levantasse e começasse a dançar. Levado para as senzalas, o ritmo, antes marcado pelas pedras, foi substituído por palmas com as mãos encovadas, com um ruído semelhante ao quebrar da casca do coco, e passou a ser dançado em rodas”, conta a educadora, e completa explicando que a dança ganhou também uma função nas comunidades. “As casas feitas de pau a pique, sapê e chão de terra batida tinham no coco uma parceria produtiva, pois a comunidade se juntava para construir a casa da pessoa e, com os passos da dança, nivelavam o chão e o deixavam lisinho.”

O Coco de Alagoas é apenas um dos exemplos da força da ligação que há entre as danças tradicionais brasileiras e os contextos socioculturais de seus locais de origem. O coreógrafo e pesquisador do Grupo Terreiro de Investigações Cênicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) Kleber Lourenço explica que esses laços podem aparecer de diversas maneiras: “As danças podem estar associadas a calendários sociais, festividades, celebrações ou questões históricas, por exemplo, mas podem também existir como práticas corporais ressignificadas em outros contextos, como salas de aula e academias de dança”, afirma. “O que considero importante é que se faça a ligação entre a natureza daquela dança como manifestação cultural e o lugar recriado para ela. Assim, ela continuará potente mesmo sendo deslocada para outros contextos. Isso permite que vivenciemos novas formas de abordagem da nossa cultura sem abrir mão de suas características vitais.”

Kleber observa que, hoje, o interesse por essas danças tem aumentado. “Existe um número maior de pesquisadores de tradições, alguns grupos tradicionais já conseguem se deslocar mais pelo país e movimentos foram criados para inserir essas práticas dentro das políticas públicas nacionais, entre outras ações”, avalia. Na capital paulista, o pesquisador percebe uma recepção positiva dessas manifestações. “São Paulo é uma terra formada por diferentes raízes e isso permite a recepção a essas tradições. A cidade possui uma população advinda de muitas regiões do país e que se reencontram nesses espaços de vivência, além de ser um grande centro que pode aglutinar diferentes culturas”, completa.


Convite à experiência

Cursos, vivências e bate-papos aproximam público de manifestações populares tradicionais

 

Danças tradicionais brasileiras sob um olhar contemporâneo

De março a novembro, no Sesc Santo Amaro

A programação traz oficinas, bate-papos e debates com pesquisadores, abrangendo também aspectos sociais e culturais que compõem as danças tradicionais brasileiras: os saberes e fazeres de mestres na culinária, no artesanato e na tradição oral. Organizado em três módulos trimestrais a partir de março, o projeto propõe a cada módulo uma série de atividades a partir de matrizes de ritmo, movimento e regiões. Em março, a programação tem como foco o Tambor de Crioula, que, tocado por homens e dançado por mulheres, celebra a fertilidade da mulher e uma relação de harmonia entre as forças feminina e masculina. No dia 5 de março, às 15h, acontece o bate-papo Danças Tradicionais Brasileiras: Um Olhar Contemporâneo, com os educadores Kleber Lourenço, Elizabeth Menezes e mediação de Andrea Soares. No dia 27 de março, às 17h, a programação traz uma apresentação do grupo Tambor do Querô, com participação dos mestres maranhenses Dona Roxa e Gonçalinho. De 6 a 27 de março (domingos, das 10h30 às 12h30), ocorre o curso Tambor de Crioula, com a artista Lucilene Moreira.

Confira no portal Sesc São Paulo.

 

Sambadas – Vivência de Ciranda de Pernambuco e Coco de Alagoas

Dias 5, 12, 19 e 26 de março, no Sesc Campinas

Os encontros práticos ministrados pela arte-educadora e bailarina Renata de Oliveira têm a intenção de aproximar as pessoas das manifestações populares dançadas: Ciranda de Pernambuco e Coco de Alagoas. Inscrições na Central de Atendimento a partir do dia 1º de março.

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