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Vida Corrida: inclusão social por meio do esporte

“Meu mundo melhor começa pelo esporte”, foi com essa frase que a maratonista Neide dos Santos Silva se apresentou para a plateia do TED Talks São Paulo em 2015. Moradora da periferia de São Paulo, não é só de atividade física que ela está falando, mas também de pertencimento, objetivo de vida, comportamento. Neide fala da inclusão pelo esporte.

Na região onde trabalha, mulheres e meninas sofrem com a carência de lazer, entretenimento e oportunidades para praticar esportes, o que consequentemente promove a exclusão social e a ociosidade. Por conta dessa demanda, em 1999, Neide fundou a ONG Vida Corrida, que treina mulheres e crianças do Capão Redondo, bairro da extrema zona sul de São Paulo.

Mais do que tornar o esporte acessível, o projeto de Neide proporciona um empoderamento feminino, afinal, mulheres que viviam exclusivamente para a família têm a oportunidade de transgredir o espaço do trabalho doméstico.

Liderado voluntariamente por Neide, o Vida Corrida contava no início com 6 integrantes. Hoje, atende quase 400 pessoas – desses, 87% são mulheres e meninas com idade entre 4 e 80 anos. São 200 adultos e 250 crianças atendidas. Além disso, o projeto conta com um amplo patrocínio de iniciativa privada, com empresas e marcas internacionalmente conhecidas.

Nesta entrevista, ela nos conta como surgiu o Vida Corrida e o histórico de participações no Dia do Desafio

Conta um pouco como nasceu o Vida Corrida, lá em 99.

Eu era a única mulher que corria na comunidade. Até então, eu não conhecia nenhuma mulher que também praticava esportes. E então a Maria Goncalves, uma vizinha minha que na época tinha 60 e poucos anos, me procurou. A Maria veio do Nordeste, onde trabalhava na lavoura e andava mais de 6 km por dia. Então ela veio para São Paulo para buscar uma vida melhor e trabalhar como costureira. Um dia, chegou pra mim e disse "Neide, minha vida está toda errada", e pediu pra eu ajuda-lá a correr. Então as mulheres da vizinhança me pediram para treinar com elas também. Faltava quem as incentivasse. Isso despertou nelas o sentimento de “se ela pode, por que eu também não posso?”. Até ali, só os homens alugavam quadra nos fins de semana, só eles praticavam atividade física enquanto as mulheres ficavam dentro de casa passando e lavando roupa. E isso ia sendo passado de geração para geração, porque as meninas mais novas ajudavam as mães no serviço de casa. Esse era o assunto mais discutido quando a gente se reunia, a inclusão das mulheres no esporte.

Qual a sua relação com o Dia do Desafio? O que acha da proposta?

Eu estou no Dia do Desafio desde 2008. Comecei no Sesc Interlagos, depois migrei para o Sesc Santo Amaro e agora estou no Sesc Campo Limpo. Todo ano no Dia do Desafio, tem aumentado a participação dos nossos participantes. Em 2015, nós levamos 6 mil pessoas no Parque Santo Dias, às 6h da manhã. Primeiro, fizemos uma caminhada, distribuímos camisetas pra todo mundo e convidamos para 40 minutos de caminhada. Depois ainda fizemos aula de zumba, futebol e basquete na quadra. Então todo ano ficam todos de olho, esperando a programação. 

O Vida Corrida tem hoje grandes patrocinadores, como a Nike. Como isso aconteceu?

Eu fui convidada pela Nike para participar de um evento, e lá eu vi uma palestra que falava de um prêmio que contemplaria o melhor projeto social, o Nike Game Trenders 2009. Foi aí que o Vida Corrida surgiu. Àquela altura, a Nike só iria nos dar esse prêmio, mas no dia anterior da premiação, eles decidiram que dariam 6 meses de ajuda financeira para o projeto. Hoje, já completamos 7 anos desse patrocínio. Todo o dinheiro que vem para o projeto é gerenciado exclusivamente por mim e pelas mulheres participantes.

Quando o Vida Corrida surgiu, ele passou a trabalhar em uma região muito carente por esportes, por isso teve ampla repercussão e cresceu tão rápido. O acesso ainda é um grande entrave à prática físico-esportiva. Como resolver isso?

Eu não conheço nenhuma organização social do meu entorno que trabalhe com corrida. As pessoas da comunidade só praticam futebol – e mesmo assim, apenas os homens. O sucesso do Vida Corrida foi esse, atender mulheres que queriam participar e não tinham quem as mobilizasse. Todo mundo que entra, começa em aulas de condicionamento físico. Ou seja, começa aos poucos, com caminhada. Nosso grande intuito é incentivar as pessoas à pratica de atividade física, e não formar profissionais, mas isso acontece, e aí encaminhamos os atletas para centros de autorrendimento que sejam focados em capacitar pessoas para competições. Por exemplo, o Julio Cesar Agripino, que está na Paralimpíadas, começou no Vida Corrida com 17 anos. Hoje ele tem 25. Tem também o Jonathan Santos Rocha, de 17 anos, que já ganhou medalha de ouro no Campeonato Brasileiro de Atletismo de Menores e este ano vai competir fora do Brasil.
 

SOBRE O DIA DO DESAFIO

A 22ª edição do Dia do Desafio, campanha mundial de incentivo à prática de esportes, acontece no próximo dia 25 de maio em milhares de cidades e dezenas de países.

As programações do Dia do Desafio acontecem nas Unidades do Sesc São Paulo na capital, interior e litoral. Confira a programação completa