Postado em 18/08/2021
Com o advento da internet e a criação de novos canais de comunicação, as pessoas passaram a ter mais autonomia no consumo de informações. E essas informações passaram a circular de diversas maneiras, seja por redes sociais, grupos de conversas, dentre outras.
A divulgação científica está incluída neste novo modelo de circulação de informação. Antes, se as revistas e publicações científicas eram o único meio de consumir informação desta área, as novas plataformas dão espaço aos pesquisadores para ressignificarem suas descobertas e buscarem novas maneiras de engajar o público nos avanços da ciência.
Atualmente, de acordo com astrônomo e docente da Escola Sesc de Ensino Médio Alex Oliveira, o campo da divulgação científica brasileira é muito promissor. No entanto, o físico acredita que é preciso crescer ainda mais.
Ele explica que, na língua inglesa, existem centenas de grandes canais de divulgação científica de grande relevância e audiência, enquanto no Brasil não há dezenas desse tipo. Segundo ele, o que difere países de língua inglesa do Brasil são os pesquisadores, que possuem grande influência e atuam como divulgadores, desde a era de Carl Sagan até Neil DeGrasse Tyson e Bill Nye.
O pesquisador cita o trabalho de Marcelo Gleiser e iniciativas como a da Natália Pasternak como alguns dos principais atualmente, porém, que são esforços isolados que ocorrem à revelia da academia, a qual olhava com maus olhos esse tipo de iniciativa aqui no Brasil, até pouco tempo atrás.
“Isso é muito estranho, porque, sendo a pesquisa de base no Brasil majoritariamente financiada pela iniciativa pública, a melhor forma de garantir o financiamento é educando e sensibilizando o público da importância e relevância dessa pesquisa. Felizmente a coisa tem mudado, e hoje vemos mais e mais divulgadores”, explica Oliveira. Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu ao Sesc Birigui.
Segundo Alex, educação e divulgação. O professor alega que o conhecimento tem de sair da torre de marfim universitária e seguir para a população geral. Pois o país investe muito pouco em educação básica, e a maioria das políticas públicas educacionais são voltadas às universidades.
Porém, esse contexto de divulgação científica e de fomento da ciência poderia ter sido incluído no dia a dia do estudante desde o início, na educação básica e na primeira infância, de acordo com Oliveira. A astrônomo afirma que países mais desenvolvidos têm programas educativos na TV aberta, e que o Brasil precisa disso, de crianças curiosas por natureza, e de adultos que alimentem o interesse científico nos pequenos.
A comunicação em linguagem acessível é o segredo para a divulgação científica, principalmente nas redes sociais, declara Alex. Ele diz que há muito potencial no YouTube como uma ferramenta, além das outras plataformas, como Instagram e Tiktok.
O professor reitera que a informação precisa ser rápida, eficaz e apresentada de uma forma divertida, para que o público se interesse por aquilo. Por isso, com pequenas pílulas de conhecimento em linguagem mais acessível e de modo mais frequente, é possível alcançar um público que já é interessado. “As pessoas já gostam e se fascinam pelo espaço. O interesse já está lá, só precisamos aproveitá-lo melhor”, comenta Oliveira.
E é assim que ele chama a atenção dos alunos, tanto na sala de aula como fora dela: utilizando a história ao seu favor. Segundo ele, o contexto histórico e a capacidade de envolver histórias são ferramentas que ajudam muito a dar significado a tudo que estamos aprendendo. Por isso, uma de suas técnicas é utilizar a contextualização dentro da realidade dos alunos, com o que tem a ver com o eles vão aprender, para que a aprendizagem tenha um propósito.
Para o astrônomo, o evento Cosmos tem uma importância gigante para a comunidade científica. Pois, segundo ele, esse tipo de evento permite uma conexão do público geral interessado com seus pares e proporciona a troca com especialistas de diversos tipos, levando informação e encantamento científico para mais e mais pessoas.
“Se pudesse, acho que deveríamos ter eventos como esse com maior frequência e em escala de tamanho também, um mega festival científico, como Rock in Rio, transmitido na TV, seria um sonho (rs)”, brinca o pesquisador.
“Eu criei esse projeto como um blog em 2017 para falar sobre ferramentas educacionais para professores, e hoje é um canal no YouTube que fala sobre ciência para o público geral e educação para professores, e que agora tem um perfil no Tiktok para falar sobre curiosidades científica”, explica o docente.
Docente na Escola Sesc de Ensino Médio, Alex Oliveira é Doutor em Astronomia pelo Observatório Nacional, com estágio de doutorado sanduíche no Observatoire de Paris-Meudon, França. Especialização MBA em Educação Moderna (PUCRS) e em Gestão Escolar (USP/ESALQ). Ampla experiência observacional em diversos observatórios incluindo o ESO (European Southern Observatory), no Chile. Trabalha com criação de materiais didáticos em física e outras metodologias de estímulo à divulgação científica.
Alex Oliveira é o convidado especial da palestra de Vivian Miranda, "O trabalho coletivo na astronomia". Ele participa com um vídeo no qual deixa um comentário e uma pergunta para a palestrante da noite.